Crime
Apresentadores de podcast são vítimas de racismo durante transmissão
Casal de Itu recebeu diversas ofensas e sofreu ameaças pelas redes sociais; a Polícia Civil investiga o caso
Os apresentadores do podcast Pretos de Itu, Léo Moraes e Susley Rodrigues, foram vítimas de racismo durante uma transmissão ao vivo no Youtube. O caso aconteceu no dia 26 de janeiro, na estreia do projeto. O casal entrevistava a psicóloga Rosália Maria e abordava o tema saúde mental da população negra. Um dos assuntos era o comportamento dos participantes do reality show Big Brother Brasil. Após uma hora e meia de live, dois perfis de usuários começaram a fazer comentários racistas aos apresentadores e convidada do podcast, os chamando de fedidos, sujos e macacos. Essas foram apenas algumas das ofensas, já que os comentários continuaram até o fim da transmissão.
O apresentador e produtor audiovisual, Léo Moraes, conta que quando percebeu a situação ficou constrangido. Para não atrapalhar a conversa, ele tentou bloquear e denunciar os comentários, mas as ofensas não paravam de chegar. “O pessoal do chat percebeu e começou pedir para denunciar os comentários racistas. Nesse momento falei para eles que já havia bloqueado e que não daríamos importância para isso. A gente continuou a conversa, mas eles ficaram até o último segundo da live mandando mensagens”, relata o apresentador.
Após o fim da transmissão, os criminosos passaram a utilizar cinco perfis falsos do Instagram para enviar mais mensagens racistas à pagina do podcast. Na ocasião, eles ainda fizeram diversas ameaças que continuaram durante dias. “Eles mandaram fotos de armas, se passaram por advogados, falaram que iam nos processar. As ameaças foram ficando mais agressivas no fim de semana passado, quando passaram a nos ligar pelo Instagram”, conta.
Diante da situação, o casal fez um boletim de ocorrência na delegacia de Itu. O caso foi registrado como racismo, injúria racial e ameaça. A delegada responsável, Márcia Cruz, informou à reportagem que será instaurado inquérito policial para a apuração do caso. A apresentadora Susley Rodrigues, que também é advogada, explica que nesse caso houve racismo, pois além de ofender os participantes do podcast de forma individual, também houve ofensas coletivas. “A injúria racial é quando você ofende a honra de alguém se valendo da etnia da pessoa, da religião, da orientação sexual, mas você está ofendendo a dignidade daquela pessoa. E o racismo é quando você ofende todo um grupo étnico. No nosso caso, eles comentaram 'seus escravos', 'live da macacada', por isso o racismo. Mas também injúria racial, porque em vários momentos eles se dirigiram a nossa convidada como ‘tia macaca’, porque eu me reportei a ela como 'tia Rô', pois ela é minha tia, mas foi até lá na qualidade de psicóloga, mestre na área que ela atua”, explica a advogada.
Além do boletim de ocorrência, os apresentadores pretendem dar andamento no processo e buscar também outros meios de investigação. “Nós sabemos que têm grupos que desvendam essas coisas com uma rapidez muito grande. Nós não queremos que essas pessoas recebam linchamento virtual, mas queremos que essas pessoas respondam judicialmente para que elas se sintam acuadas e parem de fazer essas coisas. Não podemos de forma alguma relativizar ou minimizar qualquer tipo de ofensa, principalmente quando a ofensa é de origem racial, orientação sexual e religiosa, porque isso é um tipo de intolerância, e as pessoas que não nos toleram, nos matam. O pequeno racismo tolerado aqui vai causar uma vítima ali, como causou no Rio de Janeiro, como causou com o jogador de futebol Gabigol no estádio lotado e ninguém se sentiu intimidado. Isso precisa ser denunciado”, completa Susley. (Vanessa Ferranti)
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