Crise hídrica
Desperdício de água é desafio para a Região Metropolitana de Sorocaba
Sorocaba perde mais de 36% da água tratada; em outras cidades o índice passa dos 50%
O desperdício de água continua sendo um grande desafio para as cidades da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). Na própria cidade sede, conforme o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), de cada 100 litros tratados pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), 36 são desperdiçados.
O índice é bem maior que a meta de economia prevista no plano de racionamento em vigor, que é de 20%. Entretanto, há três cidades na RMS em que mais da metade do que é captado, simplesmente não chega às torneiras dos consumidores.
De acordo com levantamento realizado pelo Cruzeiro do Sul, com dados das prefeituras enviados ao MDR, 14 cidades da RMS tem perda acima de 30%. Na lista, além de Sorocaba, Tapiraí, Porto Feliz, Piedade, Itapetininga, Cerquilho, Iperó, Alumínio, Salto, Tatuí, Salto de Pirapora, São Roque, Tietê e Itu.
Ainda conforme o levantamento, oito cidades da RMS tem índice entre 20 e 30% de perda. São elas: Araçariguama, Pilar do Sul, Jumirim, Boituva, Capela do Alto, São Miguel Arcanjo, Alambari e Mairinque.
Por fim, apenas cinco cidade apresentam desperdício abaixo de 20%: Cesário Lange (14,34%), Sarapuí (16,35%), Araçoiaba da Serra (18,23%), Votorantim (18,58%) e Ibiúna (18,91%).
Sorocaba tem mais de 2.200 quilômetros de redes de água. Sobre a cidade, o MDR traz consumo de 188,23 litros por habitante/dia e perda de faturamento de 29,03%.
Questionado sobre a situação do desperdício, o Saae/Sorocaba informou ontem (25) que o índice de perda de água na distribuição do município está abaixo da média nacional (que é de 40,1%) e da região Sudeste do País (38,1%), relatando os dados de 2021 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do MDR.
A autarquia ainda alega que o índice de perdas totais na cidade caiu de 36,21% em 2020) para 36,07% em 2021. “Vale destacar que, desse porcentual, aproximadamente 16,23% são de perdas reais propriamente ditas, ou seja, escapes de água. O restante é de perdas aparentes, isto é, decorrentes de submedição, erro no medidor/hidrômetro ou ligações clandestinas, por exemplo”, justifica.
“Isso significa que Sorocaba vem apresentando melhora nesse quesito ano a ano e segue positivamente, na contramão da média do Brasil, cujo índice subiu de 39,2% (SNIS 2020) para 40,1% (SNIS 2021), assim como o da região Sudeste do País, que foi de 36,1% (SNIS 2020) para 38,1% (SNIS 2021)”, complementa.
Ações
De acordo com o Saae, “desde o ano passado, a atual administração municipal e o Saae/Sorocaba estão empenhados e têm trabalhado incessantemente para melhorar esse índice local, dentre outras importantes melhorias”. “Tanto é que a autarquia desenvolve, de forma efetiva, o Programa de Combate, Diminuição e Controle de Perdas, para reduzir as perdas no sistema”, acrescenta.
Segundo a autarquia, os investimentos são constantes, inclusive, com recursos do governo federal para a realização de ações em todas as regiões da cidade, as quais foram intensificadas desde 2021 e assim seguem, conforme cronograma previsto para 2022.
Entre as ações realizadas e atualmente em curso, o Saae destacou o monitoramento e redução das pressões nas redes de distribuição, por meio de instalações de válvulas redutoras de pressão, a setorização dos centros de distribuição, com a implantação de macromedidores, e o combate a ligações clandestinas e fraudes.
Além disso, o Saae ainda lembrou de trabalhos como a troca de hidrômetros, visando minimizar a submedição, troca de antigos caminhões por veículos leves (picapes), para agilizar, ainda mais, a execução das manutenções de vazamento de água e a operações de caça-vazamentos, com a utilização de geofones, que permitem a detecção de escapes em pontos não visíveis, como nos pés de cavaletes de hidrômetros nos imóveis e em determinados pontos das redes de distribuição nas ruas.
Por fim, o Saae destacou a substituição de redes antigas por novas tubulações e o reforço na fiscalização, com ampliação do número de equipes, para a detecção de fraudes, violações nos hidrômetros e ligações clandestinas nas redes de distribuição, com eliminação dos problemas detectados e aplicação das sanções previstas na regulamentação.
Segundo o ex-diretor do Saae/Sorocaba, na gestão do ex-prefeito Antonio Carlos Pannunzio (PSDB) -- 2013 a 2016 --, Rodrigo Maldonado, são vários os problemas, entre eles, a tubulação. “ Nossa rede de distribuição é muito velha. Temos redes com 50 anos de idade que gradativamente estão sendo trocadas. O investimento tem ser gradativo e constante”, diz
Sobre os números, segundo ele, sempre foram dados polêmicos. “Eram números polêmicos. A própria equipe de técnicos não revelava exatamente os percentuais. Ao longo dos anos o Saae vem criando CDs -- centros de distribuição -- por zonas a fim de que, se identificado vazamento, apenas uma região é afetada. Mas precisa avançar bastante”, adverte o ex-diretor. “Mas o foco do Saae nos últimos anos foi o tratamento de esgoto. Por isso, temos os melhores índices de tratamento do país”, pondera Maldonado.
Recordistas
Apesar de o valor de Sorocaba ser alto, outras três cidades da Região Metropolitana de Sorocaba apresentam porcentual de perda ainda mais elevado. A situação acontece nas cidades de Itu (54,37), São Roque (50,35) e em Tietê -- 53,01.
Sobre esses desperdícios, a Companhia Ituana de Saneamento (CIS) divulgou material onde diz que iniciou a ação “caça-vazamentos” em toda a cidade. Outra medida adotada, ainda segundo o material, é a substituição gradual de canos em Itu e a implementação de novas tubulações. A cidade possui 600 quilômetros de rede.
A Prefeitura de São Roque afirmou que responderia as demandas levantadas pela reportagem até ontem (25), o que não ocorreu. Tietê não retornou aos nossos questionamentos. (Marcel Scinocca)