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Chuva eleva preço de hortifrútis em 10% em supermercados de Sorocaba
Efeito dominó começa na produção, com prejuízo aos agricultores, e chega ao consumidor na hora das compras
Quem passou pelos setores de hortifrúti dos supermercados, nos últimos dias em Sorocaba, percebeu um aumento de até 10% nos preços das frutas, legumes e verduras. Essa alta é consequência do calor e das chuvas registradas na região. A diferença nas etiquetas das gôndolas tem impactado o bolso do consumidor. Dentro da porteira, a situação não é muito diferente para os produtores, já que o clima acaba prejudicando a qualidade e a validade dos produtos.
Em um supermercado localizado na avenida São Paulo, por exemplo, os preços desses alimentos subiram em torno de 5% a 10%, se comparado com as últimas semanas. No setor de frutas, legumes e verduras, as etiquetas chamam a atenção dos consumidores. Isso porque alguns alimentos, principalmente os que têm mais contato com a terra durante o cultivo, como as raízes, tiveram um acréscimo nos preços, pois a umidade da chuva acaba fazendo com que o produto apodreça mais rápido.
Para equilibrar a alta dos preços no orçamento de casa, a culinarista Patrícia Alvarez, de 45 anos, costuma comparar os preços e escolher os produtos mais em conta. “As frutas tiveram uma alta grande. Eu vou ao mercado todos os dias. Então, sempre vejo o que está compensando levar”. Ontem, por exemplo, enquanto escolhia as melhores frutas da gôndola, ela disse ao Cruzeiro do Sul que o preço do melão, da banana e do mamão estavam atrativos no supermercado da avenida São Paulo. “Faço isso para não ficar sem o produto. Se todos substituíssem, ninguém ficaria sem”.
A aposentada Terezinha Gianone, de 81 anos, já não consegue encher a cesta de frutas, verduras e legumes. “Está tudo muito alto. Toda semana os preços sobem. É por causa das chuvas. Os alimentos estão estragando muito rápido. Vamos ver até quando a gente aguenta”, afirmou ao dizer que os preços não são compatíveis com o salário da população. A aposentada Eliana Pereira, de 60 anos, também percebeu a alta nos preços. “Está muito caro. E tudo subiu. As verduras, as frutas estão um absurdo. Se os preços continuarem subindo será preciso substituir os alimentos”.
No atacado
Os preços de atacado de hortifrúti também subiram. É o que diz o gerente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) em Sorocaba, Maximino Francisco da Silva, ao explicar que o calor e as chuvas prejudicam o desenvolvimento de frutas, legumes e verduras no campo, por serem produtos mais perecíveis. Com isso, os alimentos acabam estragando mais rápido e o custo também aumenta. Nessa etapa da cadeia, a alta foi de aproximadamente 10%. Mas, segundo o gerente, alguns alimentos registraram recordes, como a abobrinha brasileira, que chegou a custar R$ 135 por caixa de 18 quilos. “Não era normal ver isso. As oscilações geralmente são pequenas. Em períodos normais, a caixa chega a custar no máximo R$ 40. Frutas como uva, laranja e melancia também estão mais caras”, informou.
As chuvas de outras regiões, como na Bahia e em Minas Gerais, também impactam o mercado, aponta o gerente. Isso porque, segundo ele, muitas frutas vêm desses estados, como manga, melancia, maracujá e melão. “Ao mesmo tempo que o agricultor precisa da chuva, ela em excesso acaba atrapalhando a produção. A qualidade acaba diminuindo. Só o produtor que investe em qualidade, em um produto bom, consegue se sobressair nessa situação”, disse. E completou: “Com essas condições muitas vezes os alimentos chegam a mesa do consumidor com qualidade inferior a habitual. A própria alta faz com que o mercado abaixe os preços com o tempo. Quando acaba subindo demais, não conseguem vender. E para não perder os produtos, os preços caem”, explicou.
Dentro da porteira
Para os produtores, a situação também não está fácil. Odair Ricardo, que é agricultor e presidente do Sindicato Rural Patronal de Pilar do Sul, afirma que os produtores estão sofrendo com as chuvas. “O custo de produção está alto, mas os preços de venda caíram muito. Parte disso é consequência da pandemia. Agora, com a chuvarada, acelera o prazo de validade da produção e começa a estragar os alimentos. Com isso, perdemos a qualidade, o preço e o produto”. Por outro lado, ele falou que na outra ponta do setor, nos supermercados, os preços continuam subindo. “Os preços deveriam se estabilizar em toda a cadeia”, disse.
O produtor de Piedade, Lucas Satoru Fukuda, que cultiva brócolis, abobrinha italiana, repolho roxo, inhame e tomate verde, chegou a perder parte de sua produção por conta da chuva. “Nossa região é muito úmida, nessa época do ano temos uma perda de mercadoria maior que outras cidades”. Por conta disso, Fukuda costuma dizer que o verão é como uma loteria para o agricultor. “Você trabalha o ano inteiro e já se prepara para o verão, porque pode perder ou ganhar”. E quando o clima não está a favor da agricultura, o produtor diz que é triste ver os resultados no campo. “É muito triste você investir o seu tempo, dinheiro, para chegar no final e perder tudo por causa do tempo. A única coisa que resta é ter um preço bom no final, pra compensar um pouco e pagar as despesas. E se não tiver preço, aí é só prejuízo”, lamentou. (Jéssica Nascimento)
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