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Sorocaba

UBS aplica por engano vacina contra Covid-19 em bebês

Crianças foram levadas ao Gpaci, onde permanecem em observação

03 de Dezembro de 2021 às 14:09
Wilma Antunes [email protected]
Hospital do Gpaci tem estrutura para fazer o atendimento desejado
Hospital do Gpaci tem estrutura para fazer o atendimento desejado (Crédito: ARQUIVO JCS)

Duas mães estão há três dias sem dormir de tanta preocupação, após seus filhos terem recebido, erroneamente, doses do imunizante contra Covid-19, em Sorocaba, na última quarta-feira (1º). Ana Cláudia Mugnos-Riello, de 32 anos, e Kethillyn Monteiro, de 18, levaram os bebês para tomar a vacina da pentavalente em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Nova Sorocaba, no entanto, a profissional de saúde que aplicou a dose errada teria se confundido com os frascos do imunizantes, que são “parecidos”, segundo o secretário da Saúde, Vinícius Rodrigues. As crianças estão internadas no Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci), desde quinta-feira (2).

Ana Cláudia é mãe da pequena Liz, de apenas dois meses, e está “sem chão” com a situação. Ela contou ao Cruzeiro do Sul que levou a filha para uma consulta de rotina com o pediatra e aproveitou para vaciná-la com a pentavalente, que previne as doenças: difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo b, responsável por infecções no nariz, meninge e na garganta. No mesmo dia da aplicação, a bebê teve febre de 39 graus e vomitou muito. Ana tentou amenizar os sintomas com medicamentos, mas nada adiantou. Então, no dia seguinte, levou Liz para a unidade de saúde novamente. A médica teria acalmado a mãe e explicado que aquilo era uma reação da vacina e que tudo ficaria bem. Ana se convenceu com a afirmação da pediatra e voltou para a casa.

Por volta das 16h, recebeu uma ligação da UBS, a pessoa que ligou disse que o secretário da Saúde havia pedido para ela comparecer à unidade, porque uma informação errada tinha sido anotada na caderneta de vacinação de Liz e era necessário corrigi-la. No primeiro momento, Ana disse que iria só no dia seguinte, porém, ela saiu com a sogra e já estava perto do local, então, resolveu ir para lá para saber qual era o motivo do contato. Quando chegou na UBS, a equipe pegou o cartão de vacina da criança e “sumiu” por cerca de uma hora. A essa altura, o desespero já tinha tomado conta de Ana, que teve quadros de pressão alta e hipoglicemia.

“Sumiram com a carteira da Liz, ninguém me falava nada. Eu perguntei se deram vacina errada para a minha filha e responderam que o secretário já estava vindo. A hora que ele [Vinícius] disse que tinham aplicado a Pfizer em vez da pentavalente, minha pressão subiu. Quando o secretário chegou, já estava tudo preparado... Ele me deu a opção de ir ao Gpaci com a minha filha ou fazer o acompanhamento de casa. Como a febre e os vômitos não passavam, preferi ir ao hospital”, relata Ana.

A mãe de Liz também contou que, até a manhã de ontem (3), a bebê estava bem e foi para o quarto. Entretanto, no período da tarde, a criança precisou voltar para a observação. A médica explicou para mãe que as duas crianças que foram vacinadas contra a Covid-19, por engano, vão ficar internadas por sete dias e precisarão fazer uma bateria de exames a cada 48 horas. A pediatra também alertou as mães sobre os riscos que os bebês correm com a aplicação errada, inclusive, os problemas tardios, como complicações no rim, fígado e pulmões.

“Não tenho chão. Eu só choro, me dá crise de raiva, ansiedade. Estou com o psicológico abalado. Tive que parar toda a minha vida por causa de um erro bobo. Eu não tenho nem como definir o sentimento, é impossível definir. Como que uma pessoa da área da saúde administra uma medicação só olhando pelo frasco e não presta atenção no que está escrito? As mães precisam parar de confiar tanto, porque eles nem mostram a vacina pra gente e ficam bravos quando nós pedimos para ver o que está acontecendo”, indigna-se.

Kethillyn, mãe do Miguel, de quatro meses, também está aflita com a situação. Ela levou o filho para a UBS do Nova Sorocaba para uma consulta com pediatra e para vaciná-lo com a pentavalente. Tudo parecia normal, mas, quando ela voltou para casa, percebeu que as duas pernas do menino estavam inchadas. A criança não conseguia se mexer direito, gritava de dor, chegou a espumar pela boca e também apresentou febre. A mãe de Miguel disse que recebeu orientação para não retornar a UBS, caso a criança apresentasse algum sintoma, pois seria uma “reação normal” da vacina.

No fim da tarde de quinta-feira, Kethillyn ouviu alguém bater em sua porta, era o secretário Vinícius, acompanhado da equipe do setor de Saúde. Ele pediu para conversar com a mãe do bebê dentro da casa. Quando ambos estavam acomodados, o secretário informou à mãe que a criança tinha recebido a vacina errada. “Ele me explicou o que estava acontecendo e disse que tinha um carro lá fora nos esperando, se eu quisesse ir ao Gpaci com meu filho. Eu fui, estou aqui com ele [Miguel]". A criança também está em observação e aguarda o resultado de novos exames, visto que o último foi perdido dentro do próprio hospital.

“Eu não julgo a enfermeira que fez isso, mas fico indignada. Ela é uma profissional de saúde, não era para ter feito isso. Precisa prestar mais atenção nas coisas que faz, imagina só quantas crianças poderiam estar passando por isso, por mera distração? Eu não julgo, mas tem que prestar atenção”, diz Kethillyn

A técnica em enfermagem que aplicou doses do imunizante contra o coronavírus nos bebês foi afastada dos procedimentos injetáveis e deslocada para uma área interna da unidade. O secretário de Saúde informou que foi instaurado um procedimento administrativo para definir quais medidas devem ser tomadas diante do caso. Ele ainda disse que entrou em contato com o Ministério da Saúde e com a farmacêutica responsável pela fabricação da vacina. Em resposta, foi informado pelos órgãos que outros casos semelhantes já foram registrados no Brasil e que as crianças tiveram febre por dois dias, mas depois se recuperaram e ficaram bem.