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Sorocaba

Dia da Consciência Negra celebra conquistas

Caminhada contra o racismo e preconceito ainda está longe do fim, mas a reflexão começa a dar frutos

20 de Novembro de 2021 às 15:39
Jéssica Nascimento [email protected]
José Marcos de Oliveira
José Marcos de Oliveira (Crédito: Arquivo pessoal)

Igualdade, solidariedade e respeito. Com essas três palavras podemos descrever resumidamente o Dia da Consciência Negra. Mais do que um feriado, o 20 de novembro simboliza a resistência do povo negro, que há séculos luta por uma sociedade livre de toda forma de opressão. A data também serve para gerar reflexão sobre a importância da cultura afro-brasileira, que faz parte da nossa história. E apesar da caminhada contra o racismo e o preconceito ainda estar longe de chegar ao fim, o povo negro tem motivos para celebrar a data, principalmente quando levamos em conta as conquistas das últimas décadas.

É o que destaca José Marcos de Oliveira, presidente do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Sorocaba. Inclusive, segundo ele, um dos motivos de alegria para a comunidade surgiu na última quinta-feira (18) com a aprovação do Projeto de Lei 176/20 na Câmara Municipal de Sorocaba, que reorganiza a estruturação do Conselho e amplia sua representatividade, passando a ser consultivo e deliberativo. “É uma luta de quatro anos. Essa é uma conquista de muito suor do movimento negro, um sinal de luta, resistência e que não podemos desanimar”, afirma.

Para Oliveira, o 20 de novembro é uma forma de reconhecer toda a história, cultura e ancestralidade do povo afro-brasileiro, já que a data é celebrada no dia da morte de Zumbi dos Palmares, líder quilombola e um dos principais símbolos da luta negra no Brasil. “É uma data para celebrarmos nossa existência e a luta de Zumbi, mas ao mesmo tempo nos entristecemos porque ainda precisamos lutar pelo respeito”, afirma. Isso porque, segundo ele, mesmo após a abolição da escravatura, o racismo, o preconceito e a intolerância continuam permeando de forma muito severa o povo negro.

“Casos de racismo e injúria racial acontecem diariamente. Vivemos enfrentando situações absurdas na sociedade. Isso mexe com a autoestima e com o psicológico do povo preto, que sempre tem que se provar capaz de suas conquistas”, lamenta e completa: “O Dia da Consciência Negra vem na perspectiva de que nós, pretos e pretas, negros e negras, não somos a minoria, mas sim minorizados pelo sistema. Temos que valorizar a nossa história, a nossa luta contra o racismo, que ocorre 24 horas por dia e 365 dias por ano”.

Apesar dos desafios, Oliveira aponta importantes avanços que marcam a luta da comunidade negra nos últimos anos. Entre eles, o presidente destaca a Década Internacional dos Afrodescendentes 2015 a 2024 e o Estatuto da Igualdade Racial. “O 20 de novembro vem para coroar nossa luta, para nos reenergizar e para gerar reflexão sobre o preconceito racial. A data é um momento em que a comunidade não negra se junta ao povo preto e começa a compreender os pequenos privilégios, abraçando as atitudes antirracistas no dia a dia e repudiando toda forma de preconceito”, reforça.

A presidente do Movimento das Mulheres Negras de Sorocaba, Mazé Lima, concorda: “Nós, negros, devemos aproveitar todas as oportunidades que temos para ter um lugar de fala”, destaca ao dizer que nos últimos anos a conscientização da raça negra teve um progresso muito grande, principalmente por parte das mulheres. “A mulher negra está empoderada, é chefe de família e estuda mais até do que homens brancos. Hoje em dia, elas não estão preocupadas em copiar os estereótipos da mulher branca, como a magreza e o cabelo. Ela vê suas características como qualidade. Isso é uma vitória”.

Porém, ao mesmo tempo, Mazé destaca que o racismo está muito mais evidente atualmente. “Eu já sentia isso quando estava na escola, mas hoje o racismo e o preconceito estão escancarados. Hoje somos discriminados em um país que a gente mesmo construiu. Há muito a caminhar”, lamenta. E durante essa caminhada, os jovens negros são a maior preocupação de Mazé. Com seis netos jovens, ela critica o estereótipo associado aos jovens negros. “Eles estão sendo mortos, confundidos como bandidos. O primeiro a ser preso é o jovem negro”, contesta.

E, segundo Mazé, isso só vai mudar com a educação. “A minha contribuição, como fundadora do movimento, é educar, porque tudo é educação. Falamos sobre o tema desde a infância, porque a criança não nasce racista e preconceituosa, ela se torna. Por isso temos que trabalhar a consciência dos pais, para que eduquem seus filhos sabendo dessa diversidade”, destaca ao dizer que a população precisa ler, estudar e entender mais sobre a luta negra.

Programação

Em Sorocaba, várias atividades serão realizadas em alusão ao Dia da Consciência Negra. Entre elas está o tradicional ato ecumênico, que ocorre às 9h na Capela João de Camargo, que fica no Jardim Paulistano. Na parte da tarde, a partir das 13h, haverá a Marcha Preta Sorocaba - Dandara e Zumbi, onde os participantes fazem uma caminhada saindo da Capela João de Camargo com destino ao Clube 28 de Setembro, localizado no Centro de Sorocaba. No local haverá feijoada, música, teatro, poesia, exposições e feira de empreendedores afro.

Outra atividade é a Feira Crespa, que acontece a partir das 14h no Parque das Águas. O evento, realizado pelas Secretarias da Cultura e da Cidadania, conta com produtos artesanais, comidas típicas, apresentações artísticas e atrações variadas referentes às culturas africana e afro-brasileira.