Buscar no Cruzeiro

Buscar

Sorocaba

Passageiros da periferia se sentem discriminados por aplicativos de transporte

Cancelamentos recorrentes e a falta de motoristas têm deixado os usuários de Sorocaba insatisfeitos com o serviço oferecido pelas plataformas

11 de Novembro de 2021 às 13:50
Wilma Antunes [email protected]
Usuários relatam cancelamento frequente de corridas por parte dos motoristas.
Usuários relatam cancelamento frequente de corridas por parte dos motoristas. (Crédito: Divulgação/Paul Hanaoka)

Passageiros que moram em regiões periféricas de Sorocaba reclamam do cancelamento recorrente de viagens por parte dos motoristas de aplicativo. Eles relatam se sentir discriminados pelas plataformas de transporte privado e exigem uma solução para o problema. Por outro lado, as empresas que prestam esse tipo de serviço alegam que os motoristas são notificados sobre corridas em áreas de risco e fica a critério dos mesmos aceitar ou não.

Alan Calixto, de 31 anos, conta que está começando a carreira de blogueiro e precisa ir à vários eventos. Ele prefere pedir carros de aplicativo para ir aos compromissos por uma questão de comodidade mas, ultimamente, o que era para ser prático tem se tornado um transtorno. “A partir das 22h já não tem mais motoristas pelas imediações. E quando tem, o preço varia e chega a preços absurdos. Quando estou com meus amigos, todos ficam com o aplicativo aberto ao mesmo tempo para ver se alguém consegue um preço mais em conta”, diz.

Em uma ocasião, Calixto chegou a ter a corrida recusada por três vezes. A saída que ele encontrou foi solicitar um serviço mais tradicional: os táxis. “Nenhum taxista pisou na bola comigo até agora. O atendimento é muito melhor e alguns fazem um preço semelhante aos de aplicativos, então vale a pena. Mas eu acho uma falta de ética esse cancelamento frequente. Tem pessoas de bem que moram nas periferias. Elas têm família, trabalham, passam por situações de emergência... Tudo isso é muito triste”, lamenta.

Outro passageiro, que preferiu não se identificar, também está indignado com a situação. Ele usa o serviço com uma frequência um pouco menor em comparação ao Calixto mas, quando precisa, é sempre uma dor de cabeça. “Tenho que pedir carro uns 40 minutos antes do horário que eu realmente preciso sair. Porque aí eu consigo calcular o tempo que o aplicativo demora para achar um motorista e mais uns dois prováveis cancelamentos. É complicado”, conta.

O motivo de tantas solicitações recusadas seria o prejuízo que os profissionais da plataforma sofrem ultimamente. Marcelo da Silva Costa, de 40 anos, é motorista de Uber e está descontente com a realidade do setor. Ele diz que a empresa em si não incentiva ao cancelamento, mas a falta de repasses apropriados, sim.

“O problema não é nas áreas periféricas. É claro que se me chamam para uma corrida em uma rua sem saída, lá pelas 2h da madrugada, eu vou ficar desconfiado. Mas o que pega mesmo são os custos da viagem. Os custos do carro são muito caros, a gente arca com parcelas do veículo, seguro, manutenção, combustível... A empresa diz que subiu os faturamentos mas eu, particularmente, não vi isso. Nós não temos rentabilidade para trabalhar”, desabafa.

Além do baixo lucro, Costa diz que se sente desprotegido pela plataforma, pois não tem acesso ao local de destino antes de aceitar a corrida e nem tem acesso às informações dos passageiros. “Quando os usuários solicitam uma viagem, aparece informações do carro, como a placa, cor, modelo, além da nossa foto. Pra gente não aparece nem essa foto, ficamos desamparados”.

O que dizem as empresas

Em nota enviada ao jornal Cruzeiro do Sul, a 99 App informou que a companhia não bloqueia áreas específicas da cidade e que trabalham para “promover o acesso à mobilidade sem excluir regiões”. Apesar de deixar o caminho livre, a empresa alerta os motoristas sobre as áreas consideradas de risco, que podem variar dependendo do horário da solicitação.

Ainda conforme a 99, cerca de 60% de todas as viagens acontecem em zonas periféricas e qualquer tipo de discriminação é proibida. “Ressaltamos que repudiamos qualquer forma de discriminação, dentro e fora da plataforma, e temos uma política de tolerância zero contra isso. Quando uma situação de discriminação acontece, medidas cabíveis são tomadas, que podem incluir o bloqueio - sejam motoristas parceiros ou passageiros”.

Já a Uber informou à reportagem que “para aumentar a segurança” de motoristas ou usuários, o aplicativo pode impedir solicitações de viagens de áreas com desafios de segurança pública em alguns dias e horários específicos. Ao mesmo tempo que a empresa alega que nenhuma região é considerada “de risco”, ela afirma que a plataforma, por meio de algoritmos, bloqueia as viagens consideradas mais arriscadas, ao menos que o usuário forneça detalhes adicionais de identificação.

Sobre os cancelamentos, a Uber disse que os motoristas, assim como os usuários, podem cancelar as viagens quando julgarem necessário. “Cancelamentos injustificados muito excessivos, reiterados ou para fins de fraude, porém, configuram violação ao Código da Comunidade e aos Termos de Uso pois atrapalham o bom funcionamento da plataforma e prejudicam a experiência dos demais motoristas e usuários. Temos equipes e tecnologias próprias que revisam constantemente as viagens e cancelamentos para identificar suspeitas de violação e, caso sejam comprovadas, banir as contas envolvidas”, finaliza.