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Sorocaba

Pacientes relatam demora para exames e cirurgias

06 de Novembro de 2021 às 00:01
Virginia Kleinhappel Valio [email protected]
Unidade Básica de Saúde do Vitória Régia, administrada pela Prefeitura, tem sete médicos.
Unidade Básica de Saúde do Vitória Régia, administrada pela Prefeitura, tem sete médicos. (Crédito: EMÍDIO MARQUES / ARQUIVO JCS (24/10/2017))

A falta de médicos e a demora nos agendamentos de cirurgias e consultas nas unidades de saúde de Sorocaba têm dificultado a vida das pessoas que dependem da rede municipal. É o caso da dona de casa Liliane Zanluchi, 30 anos, que tenta há dois anos descobrir qual é o problema de saúde do filho.

Com um ano de idade, o filho de Liliane foi encaminhado ao neurologista e fonoaudióloga pela UBS do Vitória Régia. Até hoje, ela não consegue agendar a consulta. “Ele sempre tem convulsão, já foi para a UBS cinco vezes, e uma das vezes foi ao Gpaci para averiguar se não era algo mais grave. Lá, foi realizada uma tomografia e falaram que retornariam em dois ou três meses, mas até agora nada”, conta. A consulta com a fonoaudióloga, Liliane também não consegue data para agendamento.

A Unidade Básica de Saúde do Vitória Régia é administrada pela Prefeitura de Sorocaba e opera com sete médicos, sendo quatro generalistas, do programa Mais Médicos, dois pediatras e um ginecologista. De acordo com a administração municipal, há previsão de reposição ou ampliação do quadro de médicos, mas somente se houver a necessidade de reposição de algum profissional.

Já Lídia dos Santos, 66 anos, está aposentada por invalidez e contraiu Covid-19 em julho, ficando 15 dias internada na Santa Casa de Sorocaba. Como sequela da doença, Lídia está com queda de cabelo considerada severa. “Como no PA do Laranjeiras não tem quem atenda, fui obrigada a pagar 60 reais pela consulta no médico particular. Liguei no 156 duas vezes para pedir mais médicos na unidade e me orientaram a abrir um novo protocolo, pois não encontraram o antigo protocolo que abri”.

A Prefeitura de Sorocaba, que administra o PA do Laranjeiras, informou que a unidade trabalha com um total de 24 médicos, todos clínicos. E disse ainda que há previsão de reposição e ampliação do quadro de médicos na unidade, por meio do processo seletivo para contratação temporária, que já foi encerrado.

Em relação à falta de médicos em algumas unidades de saúde, a Prefeitura esclarece que as filas de consultas, exames, e cirurgias é uma situação que se estende há anos na cidade, além do represamento de demandas durante a pandemia. Outra razão é devido às exonerações e aposentadorias não repostas desde 2013.

Para atender tantas demandas, um edital de chamamento para a contratação do mutirão da saúde foi publicado na quinta-feira (28). Um total de 87.498 procedimentos, entre consultas, exames e cirurgias, serão contratados para zerar as filas de espera na Rede Municipal de Saúde. A previsão é que o edital seja homologado já no início de 2022.

Cirurgias também sofrem atraso

A dor no joelho e a dificuldade para se locomover até o terminal de ônibus têm tornado os dias da dona de casa Cristina Reis, 56 anos, cada vez mais difíceis. Ela aguarda, desde 2018, por uma cirurgia no joelho e conta que já passou por diversos médicos, além de possuir todos os exames necessários para a cirurgia, como ressonância magnética e raio-x.

Mesmo provando a importância da cirurgia, pessoas são colocadas à sua frente na lista de espera, sendo o grau de gravidade a justificativa do poder público. Em sua última consulta, Cristina foi orientada a ir para Itu, pois a cirurgia seria realizada lá. “Cheguei em Itu pensando que fosse fazer a cirurgia, mas o médico olhou para mim e disse que aquela era uma primeira consulta, e por regras, eu teria que fazer um novo raio-x, para então ser encaminhada à cirurgia”, desabafa.

Cristina passou por oito consultas nos últimos três anos. A dona de casa relata ainda a falta de educação do médico plantonista. “Quando falei que estava na fila por uma cirurgia e não por consulta, ele disse para eu voltar para Sorocaba, que ali a consulta era dele e ele que decide!” Segundo ela, o médico pediu um retorno em seis meses, para ela apresentar um novo raio-x e então definir novamente uma data para a cirurgia. “Ele chegou a desenhar em um papel que tem gente com joelho bem pior que o meu, dando a entender que meu caso não é urgente, agora estou nessa, aguardando uma resposta, sem conseguir subir uma escada e tomando remédio para dor”, finaliza.

Contratação temporária de médicos

A cidade possui hoje 422 médicos, sendo 379 concursados e 43 do programa Mais Médicos. O déficit é de 284 médicos. Por meio da Secretaria de Saúde (SES), a Prefeitura de Sorocaba abriu processo seletivo para preenchimento destas 284 vagas, de forma temporária, sendo 184 para clínico geral, 42 para ginecologista, 18 para pediatra e 40 para psiquiatra.

As inscrições encerraram em 22 de outubro. A atuação dos médicos tem duração de seis meses, podendo ser prorrogada. A carga horária será de 15 horas e os médicos trabalharão nas unidades de saúde da rede municipal, bem como nos demais serviços que compõem a SES. (Virgínia Kleinhappel Valio)