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Necessidades básicas

Alunos se unem para arrecadar absorventes e doarem a mulheres carentes

Aos poucos, o assunto vem conquistando espaço em debates da sociedade e, principalmente, na internet

31 de Outubro de 2021 às 00:01
Wilma Antunes [email protected]
Objetivo é distribuir item de higiene íntima a mulheres carentes
Objetivo é distribuir item de higiene íntima a mulheres carentes (Crédito: Divulgação)

Pedaços de jornal, algodão e até mesmo miolo de pão são usados nas partes íntimas de mulheres pobres para estancar o sangue da menstruação. Essas alternativas nada saudáveis, além de pôr a saúde em risco, também privam as garotas de frequentarem locais movimentados, como escolas, faculdades e ônibus. Os itens de higiene, que para muitos são básicos, para outros são luxo. Aos poucos, o assunto vem conquistando espaço em debates da sociedade e, principalmente, na internet.

Deslizando os dedos pela tela de seus respectivos smartphones, Melissa Sanches, Viviane Fazolim, Giovana Guerrero e Lorena Rodrigues, alunas do 9° ano de uma escola particular de Sorocaba, encontraram vídeos explicativos sobre o tema. As garotas, que têm idades entre 14 e 15 anos, criaram uma campanha de arrecadação de absorventes no colégio para distribuir às mulheres carentes da cidade.

Foi na aula de criação do professor Alvim Stahl Neto que a ideia ganhou vida. Neto propôs que a turma desenvolvesse um trabalho que contribuísse positivamente com a sociedade. Inicialmente, Lorena havia escolhido um outro tópico e chegou até a começá-lo. Mas, despretensiosamente, enquanto assistia vídeos no Tik Tok e no Instagram, se viu imersa na discussão sobre pobreza menstrual.

No Brasil, mais de quatro milhões de pessoas não têm acesso aos itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas, segundo o relatório “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, lançado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e pelo Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef).

“Eu não sabia que tantas mulheres passavam por isso. A porcentagem é muito grande, é chocante. Achei que seria legal falar sobre o tema e conscientizar o máximo de pessoas possível. Vi contas que ajudam essas mulheres e pensei em também fazer uma”, conta a estudante. Ela apresentou o tema aos colegas e, para a sua surpresa, a decisão de fazer o trabalho com o tema sugerido foi unânime na sala de aula.

Neto confessa que precisou pesquisar sobre o assunto antes de iniciar a campanha no colégio, mas logo se deu conta de que a situação realmente precisava ser levada a sério e as mulheres carentes, ajudadas. “É muito gratificante quando acontece essa troca, aprendo muito com meus alunos”, diz, orgulhoso.

As alunas contam que passaram de sala em sala para explicar o que é pobreza menstrual e o efeito cascata que ela gera na vida das pessoas. Mas, para elas, não era o bastante a informação ficar restritas apenas às turmas da escola. Então, criaram um perfil no Instagram (@fluxolivresorocaba) para estimular debates sobre a higiene precária e também a doação de absorventes.

Além disso, também colocaram caixas nos andares e na biblioteca colégio para que as pessoas pudessem depositar a doação de absorventes. O trabalho é feito em equipe, os alunos se organizam em grupo e cuidam da rede social, arrecadação, logística e pesquisa de conteúdos. “A ação acaba se tornando muito interessante, pois vemos garotos falando sobre menstruação e entendendo um pouco mais dessa realidade”, comenta o professor.

O projeto que nasceu na turma do 9º ano, passou a ser da escola inteira. Desde setembro, quando a campanha teve início, cerca de 1.500 absorventes já foram arrecadados. A princípio, os itens serão entregues à duas entidades: Pastoral do Menor e Ação Comunitária Inhayba.

“Educação é isso. Tem que sair da sala de aula, senão, não faz sentido. Se a gente der continuidade nesse projeto, vai ser muito bom. Me sinto realizado quando vejo ações como essa partirem dos alunos”, diz Neto, com um enorme sorriso no rosto.

As doações de absorvente podem ser feitas na secretaria da própria escola, que fica na rua Ary Annunciato, 80/86, no bairro Jardim Atílio Silvano. Para quem deseja contribuir com dinheiro, é possível fazer transferência bancária via Pix pela chave [email protected]. (Wilma Antunes)