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Saúde

Medicamentos abortivos proibidos no Brasil são vendidos pela internet

Jovem de 20 anos morreu em Votorantim após ter feito uso de um "kit abortivo", que foi entregue na casa do namorado

29 de Outubro de 2021 às 14:11
Ana Claudia Martins [email protected]
Apesar de proibidos remédios com propriedades abortivas são vendidos ilegalmente pela internet e pelas redes sociais.
Apesar de proibidos remédios com propriedades abortivas são vendidos ilegalmente pela internet e pelas redes sociais. (Crédito: Divulgação)

O misoprostol, geralmente chamado de Cytotec, é um conhecido remédio que por suas propriedades abortivas tem a comercialização proibida no Brasil, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Além disso, a prática do aborto no Brasil é considerada crime pela legislação brasileira, que só permite o procedimento quando a gravidez é resultado de violência sexual (estupro) ou coloca em risco a saúde da gestante. Outra possibilidade de interrupção legal da gravidez é em casos de anencefalia, quando é comprovado que o feto não possui cérebro.

Porém, apesar da divulgação e comercialização do Cytotec ser proibida no país, o medicamento pode ser facilmente encontrado à venda, de forma irregular, pela internet e até pelas redes sociais.

Conforme a Anvisa, o registro do Cytotec (misoprostol) se encontra cancelado no Brasil. Assim como toda e qualquer venda de medicamentos à base da substância misoprostol é restrita a estabelecimentos hospitalares devidamente cadastrados e credenciados pelo órgão federal.

Além disso, a Anvisa informa que a marca comercial utilizada nos hospitais cadastrados é o Prostokos, medicamento que é registrado na Agência.

“A substância misoprostol faz parte da lista de substâncias sujeitas a controle especial, da Portaria 344/1998, norma atualizada regularmente pela Anvisa, sempre que uma droga nova surge ou que descobertas científicas exigem revisões na lista”, informa o órgão federal.

Embora a venda de remédios e produtos sem registro na Anvisa sejam proibidos, sites na internet e pessoas, por meio das redes sociais, anunciam, por exemplo, a venda clandestina de medicamentos abortivos, inclusive o Cytotec (misoprostol).

Tanto que na última terça-feira (26), uma jovem de 20 anos, de Votorantim, morreu após utilizar um “kit abortivo” comprado pela internet. Segundo o boletim de ocorrência, ela estava grávida de 7 meses e, junto com o namorado, decidiram comprar um medicamento, no valor de R$ 1,4 mil, e que teria sido entregue na casa dele.

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil de Votorantim, que trabalha para identificar quem teria vendido o “kit abortivo” para a jovem. Até o momento, não foi informado o nome do medicamento ou produto que a jovem usou. O namorado dela chegou a ser preso após confessar tê-la auxiliado no procedimento, mas já foi solto por estar colaborando com a investigação.

Segundo a polícia, ele foi autuado por promover aborto com o consentimento de gestante, e se for condenado poderá pegar de um a cinco anos de prisão. Como a jovem morreu, a pena pode dobrar.

Fiscalização de produtos ilegais

Questionada a respeito, a Prefeitura de Votorantim informa que a fiscalização da venda de medicamentos é realizada pela Vigilância Sanitária. “Em caso de venda de produtos ilegais, quando a Vigilância Sanitária ou Ouvidoria da Saúde recebem as denúncias, tais casos são averiguados com visitas aos locais e acompanhamento da Polícia Militar, dependendo da gravidade”, destaca.

O município informa ainda que no caso da venda de remédios ilegais, denúncias podem ser feitas na Vigilância Sanitária e na Ouvidoria da Saúde. “As punições previstas em leis determina a suspensão da licença de funcionamento e da Vigilância Sanitária no caso de estabelecimentos que vendem produtos ilegais”, ressalta. 

Há métodos contraceptivos disponíveis

O médico e coordenador do setor de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Unimed Sorocaba, Wellington Batista Heleno, orienta sobre os diversos tipos de métodos contraceptivos disponíveis às mulheres que não desejam engravidar.

Ele falou sobre a importância do conhecimento dos métodos para evitar uma gravidez indesejada e casos trágicos, como o que ocorreu com a jovem de 20 anos de Votorantim, que morreu após fazer uso de um “kit abortivo”.

“São diversos os métodos disponíveis, inclusive nos postos de saúde da cidade, como preservativos masculinos e femininos, além de vários tipos de anticoncepcionais, dispositivo intrauterino, popularmente conhecido como DIU, entre outros. Então, se a mulher não deseja engravidar, ela ou o parceiro possuem vários métodos contraceptivos, que devem ser usados”, destaca o médico.

Heleno citou ainda o perigo de comprar e usar medicamentos que possuem venda restrita e controlada, e que só podem ser usados em hospitais credenciados pela Anvisa, sobretudo, em casos específicos, sobretudo, no caso da interrupção da gestão, que no Brasil é permitido só em pouquíssimos casos, conforme a legislação brasileira. “É extremamente perigoso usar qualquer tipo de medicação sem orientação médica e mais ainda comprar medicamentos de forma clandestina e de desconhecidos, ou que nem sejam usados para o objetivo específico que a pessoa deseja”, orienta o médico.

“Não temos que ser hipócritas e imaginar que as pessoas não terão relacionamento sexual. Não importa se é um relacionamento sério ou não, se a pessoa é casada, solteira ou namora. A partir do momento que a pessoa decide ter atividade sexual, ela precisa escolher um método contraceptivo para evitar a gravidez indesejada, e além disso usar preservativo para evitar as chamadas doenças sexualmente transmissíveis”, destaca Heleno. (Ana Cláudia Martins)