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Dia do Professor

Para quem ama ensinar, superar obstáculos é um detalhe

Profissionais falam de experiência, dedicação e amor à educação

15 de Outubro de 2021 às 00:01
Marcel Scinocca [email protected]
(Crédito: Camila Souza / GOVBA )

Ela nasceu no Ceará, na cidade de Sobral. É a mais velha de uma família de quatro irmãos. Depois de inúmeras tentativas, se encontrou na educação. Atuou como professora da rede estadual de ensino, na região de Aparecidinha. Também leciona no sistema penitenciário do Estado. Tem três filhos. Essa não é mais uma história de nordestino que venceu os obstáculos da vida, mas de alguém que persiste e segue incansável em busca de mais e mais realizações. É a história de luta e dedicação da professora Maria Solange Madeira de Albuquerque, 50 anos, em São Paulo desde 1988, mas que pode muito bem representar a história de muitos professores Brasil afora.

O início foi bem curioso. Começou a cursar técnico de radiologia e depois psicologia, mas não concluiu nenhum e ficou com receio de ser julgada pelo marido ao começar uma nova empreitada. Assim, em segredo, elas fez o vestibular para pedagogia e, após ser aprovada, efetivou matrícula. O início das aulas também foi uma espécie de missão secreta. No primeiro dia, ela disse que ia à igreja, No segundo, a desculpa foi a casa da irmã. Mas no terceiro, não teve jeito. “Fiquei com receio de falar com ele”, diz. “Depois, tive que contar. Ele nem falou nada, nem ficou bravo. Foi coisa minha. Eu que fiquei receosa”, conta.

Professora Maria Solange Madeira de Albuquerque. - DIVULGAÇÃO
Professora Maria Solange Madeira de Albuquerque. (crédito: DIVULGAÇÃO)

Depois da conclusão, ela insistiu em não parar. Já está na segunda pós-graduação. A primeira foi em atendimento educacional especializado. O atual é em psicopedagogia clínica e institucional. E sabe aquela historinha de que não vai dar tempo? Com ela, não há espaço para isso. Entre a preparação de aula, correção de exercícios e os cuidados da família, ela arruma tempo e está fazendo outro curso de licenciatura.

Atualmente, uma das experiência é no ensino do sistema penitenciário. Ela conta que muitos alunos não são nem alfabetizados, o que aumenta ainda mais o desafio. “Há senhores e gente nova também”, explica. Até o momento, o trabalho está sendo feito de forma remota. “Eles são alunos, estudantes, não importa o que eles fizeram. Estão lá para aprender”, diz sobre a missão.

“Aquilo lá parece uma cidade, Tem uma escola lá dentro”. Como os alunos não têm acesso a computadores, eles usam o material impresso para as atividades.

No nordeste ela fazia “camisa de garrafa”, com palha de carnaúba. Deixou a terra natal, sonhou e realizou. O contrato temporário com o Estado, para dar aula no EJA, no sistema prisional, além de uma turma de reforço, vai até o fim do ano. Mas ela garante que não vai parar. A próxima meta é passar em concurso. Professora desde 2016, Solange sabe que ainda tem muita lição para ensinar, muita caderneta para preencher.

Mais de 30 anos de dedicação

Professora Mírian Cesar Baptista. - FÁBIO ROGÉRIO / ARQUIVO JCS (8/10/2020)
Professora Mírian Cesar Baptista. (crédito: FÁBIO ROGÉRIO / ARQUIVO JCS (8/10/2020))

Mírian Cesar Baptista, de 89 anos, também é escritora e lecionou por mais de três décadas. Atualmente, muita lúcida e com vigor para, entre dezenas de coisas, fazer deliciosos bolos com cobertura de coco, segue no merecido descanso, depois de ajudar na educação de centenas de sorocabanos. Na lista, alguns ilustres, como juizes, médicos e promotores.

Tendo se formado com apenas 17 anos, a professora passou por várias cidades do Estado, incluindo Registro e Salto de Pirapora. Mas foi em Sorocaba que ela se estabeleceu, atuando em 28 de seus 35 anos dedicados à educação. É que em 1958 ela iniciou seus trabalhos na Escola Estadual Antônio Padilha, que fica no Centro de Sorocaba.

A instituição, uma das mais conceituadas da cidade, é responsável pelo início da consolidação de muitas carreiras de sucesso. Claro que a dona Mírian deu a sua contribuição para tudo isso. Não foi fácil a troca de cenário para a composição deste roteiro de sucessos. Haja giz e quadro negro. “Eu fiquei desesperada. Eu sempre tinha trabalhado em zona rural, com pessoas mais simples. Aqui era a melhor escola da cidade. Tive vontade de chorar. “Quem é essa menina que está aí”, perguntavam. Mas me acostumei com o Padilha. Tanto que fiquei 28 anos”, lembra.

Na lista de alunos célebres, o piloto Ruy Amparo, que já foi o vice-presidente técnico da extinta TAM, atual Latam. O promotor Arnaldo Marinho Martins Júnior também foi seu aluno, assim como o pianista sorocabano Fábio Luz. O juiz Rodolfo Pellizari também foi seu aluno, compondo a lista que ainda conta com médicos, dentistas e profissionais de outras profissões.

Quando deixou de lecionar no ensino público, ela não parou. Primeiro dava catequese. Depois passou a integrar a Pastoral do Doente, visitando casas e hospitais. “Isso preencheu o espaço deixado pelas aulas. Foi uma benção”, diz a ex-professora que até hoje recebe visita de ex-alunos.

Experiência que soma

Professora Paula Pereira Bozelli. - Divulgação
Professora Paula Pereira Bozelli. (crédito: Divulgação)

A professora Paula Pereira Bozelli, de 51 anos, tem pouco mais de 30 anos de atuação pela rede pública municipal de Sorocaba, sendo uma das docentes com maior tempo de atuação. O início foi bem mais cedo que o convencional e está no relato de experiência da professora, que acredita que a profissão ajuda a sociedade a trilhar um bom caminho, ao proporcionar aos alunos a construção de um ser humano único e próspero.

“Comecei a trabalhar aos 14 anos numa escola de educação infantil, perto da minha casa, onde era “educadora auxiliar” de uma professora muito criativa e que adorava ensinar”, conta. “O trabalho desenvolvido nessa escola era baseado num método que transbordava respeito e seriedade. O ambiente em sala de aula com crianças em idades variadas, com deficiência ou não, e se apoiando mutuamente, era encantador”, comenta.

Aos 18 anos, acreditando na educação de qualidade para todos, ingressou no ensino municipal. “Naquela época, eu e minhas colegas, pegávamos ônibus e partíamos rumo às escolas municipais de Sorocaba. Parque das Laranjeiras, Vitória Régia, Parque São Bento e muitos outros. Íamos cheias de vontade, planejando e apoiando umas as outras nas estratégias para o trabalho pedagógico. Tudo aquilo era contagiaste”, relembra.

Na ocasião, ela conta que, motivada pela experiência que a primeira escola lhe proporcionou, continuou perseguindo uma educação de respeito, onde cada aluno recebesse atenção especial para se desenvolver de maneira integral. “Foi quando tive a oportunidade de realizar um curso de especialização da Unicamp, sob a ótica da inclusão do aluno com deficiência no ensino regular”, garante. “Aprimorei o meu olhar e a minha prática pedagógica com uma visão mais ampla e finalmente respaldada por uma rede de ensino inclusiva. Hoje, passado muitos anos, posso afirmar que lecionar com tantos ideais a serem conquistados. ‘‘E um desafio diário para a maior parte dos professores no Brasil”, afirma.

Para ela, há muita recompensa em tanto trabalho. “Porém ao depararmos, num dia inesperado, com uma voz que vem lá de longe e diz: “‘oi, pro! Que saudades! Sempre me lembro das coisas que aprendi com você!’, o sentimento é inigualável”, explica.

Paula também comentou sobre as expectativas para o futuro e como se sente após três décadas de dedicação. “Me sinto feliz e com a sensação de que ainda posso contribuir para uma educação de maior qualidade”, diz. “Que a sociedade, como um todo, reconheça a importância da educação e cobre atitudes do poder público. Que possamos ter uma política de formação aos professores/educadores, em que esses aprimorem o fazer pedagógico!”.

Por fim, ela comenta sobre os desafios enfrentados no momento pandêmico. “Com a pandemia, houve a necessidade do afastamento social é isso prejudicou muito o aluno. É necessário retomarmos com um olhar respeitoso ao desenvolvimento infantil”, enfatiza. (Marcel Scinocca)

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