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Comportamental

Após casos de depressão, escola usa primavera e psicologia para ajudar estudantes

Houve até mesmo casos de automutilação entre os alunos. A diretoria de uma escola enxergou, na primavera, uma forma de trazer mais cor para a vida dos estudantes

30 de Setembro de 2021 às 14:14
Wilma Antunes [email protected]
Procura por terapia para crianças cresceu na pandemia.
Procura por terapia para crianças cresceu na pandemia. (Crédito: Deposit Photos)

Perder alguém que se ama é uma situação difícil e dolorosa para a maioria das pessoas. A angústia perdura por tempo indeterminado. Pode durar dias, meses, anos. As lágrimas escorrem e a saúde mental pode até fi­car abalada. Milhares de crianças tiveram de passar por esse processo espinhoso antecipado ao perderem fa­miliares para a Covid-19. Nesse turbilhão de emoções, o desenvolvimento no am­biente escolar também pode ter sido comprometido.

Em Sorocaba, colabora­dores de uma escola esta­dual notaram que alguns alunos andavam deprimidos nas salas de aula. Eles não interagiam como antes e o brilho no olhar já não era mais o mesmo. A tristeza chegou de forma tão avassa­ladora que teve até casos de automutilação entre os es­tudantes. O episódio preo­cupou a diretoria da insti­tuição de ensino, que deci­diu realizar ações de conscientização e prevenção ao suicídio.

A florada do pau-brasil plantado na escola desper­tou novas ideias aos coorde­nadores. Os laços entre o mês de setembro e a prima­vera nunca pareceram tão fortes. Quatro mudas de ipês marcaram o início de uma batalha contra a de­pressão. Para os colabora­dores, o plantio das mudas teve um significado profun­do: a benção de estar vivo e a gratidão. A iniciativa fez com que a vida dos alunos ganhasse mais cor, especifi­camente tons de amarelo, roxo e branco, que em breve embelezarão a unidade es­colar em lindas flores.

Uma psicóloga também foi convidada para acompa­nhar e ouvir os alunos, que desabafaram sobre suas aflições. Em uma roda de conversa grande o bastante para acomodar estudantes e professores, a valorização da vida foi o principal as­sunto. “Temos muito alunos que passam por quadros de­pressivos e que são, inclusi­ve, medicados. Diante deste cenário obscuro, enxerga­mos uma oportunidade de trabalhar a autoestima das nossas crianças”, destaca a diretoria da instituição.

Estudantes plantaram ipês branco, roxo e amarelo. - Cortesia
Estudantes plantaram ipês branco, roxo e amarelo. (crédito: Cortesia)

Tempos difíceis fazem pessoas fortes

O luto é um estado emo­cional específico vivenciado de diferentes formas. Ele não está necessariamente relacionado à morte, mas sim a uma perda muito sig­nificativa. Com o endurecimento das medidas restriti­vas por conta dos casos de coronavírus, parte da socia­bilidade das crianças foi arrancada. Carla Denari Ay­res é psicóloga e trabalha com foco em crianças há mais de 25 anos. Ela notou que o número de pais que buscam terapia para os fi­lhos aumentou.

“Nós somos feitos para conviver em grupo. Esse rompimento abrupto da in­teração social assustou as pessoas e causou muita an­gústia. Com as pessoas em casa, notou-se novos problemas. Muitos pais se se­pararam, membros de famí­lias faleceram por conta da Covid. Esse conjunto de rea­ções, ainda cedo, é prejudi­cial ”, conta.

Carla explica que todo ser humano passa por um luto natural. Por volta dos oito anos, a infância começa a se despedir para dar lugar a uma nova fase, a pré-ado­lescência. Já é uma etapa extremamente confusa, na qual um redemoinho de emoções desestabiliza emo­cionalmente a criança. Quando uma perda signifi­cativa acontece ainda nesse período, ela passa por dois lutos ao mesmo tempo.

“Normalmente, as crian­ças entendem o que é a mor­te pela ordem natural da vi­da. Perdem primeiro os avós ou pessoas mais velhas e vão assimilando. Com a an­tecipação do luto, essas crianças acabam não saben­do lidar com a situação e de­senvolvem transtornos men­tais”, destaca.

A psicóloga comenta que, apesar de muitos obstácu­los, as pessoas tiveram a oportunidade de repensar suas vidas durante o perío­do de recolhimento social. Ela notou que as pessoas es­tão mais preocupadas com a qualidade de vida e resolu­ção de conflitos. “Precisa­mos amar ao próximo, ser mais solidários. De alguma forma, saímos mais madu­ros dessa situação. Tivemos oportunidade de olhar para as nossas famílias, nossos problemas e ter atitude para enfrentá-los”, finaliza.