Buscar no Cruzeiro

Buscar

Mobilidade

Urbanistas desaprovam nova rodoviária em terreno de Santa Rosália e contam o porquê

Terminal deverá ser afastado de áreas consolidadas e viabilizar possibilidades inteligentes de deslocamento

20 de Agosto de 2021 às 02:43
Marcel Scinocca [email protected]
Área no início da Castelinho está sendo estudada pela Prefeitura. Moradores do bairro já se posicionaram contrários
Área no início da Castelinho está sendo estudada pela Prefeitura. Moradores do bairro já se posicionaram contrários (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (17/8/2021))

Especialistas em urbanismo ouvidos pelo Cruzeiro do Sul se mostraram contra a implementação do novo terminal rodoviário de Sorocaba em um terreno no bairro Santa Rosália, próximo ao início da rodovia Senador José Ermírio de Moraes, a Castelinho (SP-75). A possibilidade está sendo estudada pela Prefeitura de Sorocaba, conforme informou o Cruzeiro, na edição de quarta-feira (18).

De acordo com a arquiteta Sandra Lanças, a nova rodoviária deve ter uma localização estratégica para atender a toda a população sorocabana, viabilizando possibilidades inteligentes de deslocamento, principalmente para atender a zona norte, a região mais populosa de Sorocaba, em termos de densidade demográfica.

“Minha opinião é que a nova rodoviária não deveria estar localizada na ponta da cabeceira da Castelinho, na área proposta da Santa Rosália. A população do bairro não quer a instalação da nova rodoviária lá. Já não queria há décadas atrás por motivos óbvios, de que vai alterar ainda mais a dinâmica do bairro residencial, e com grande chance de maior degradação do ambiente urbano local, e sem grandes benefícios para a maior parte da população sorocabana que precisa pegar um ônibus rodoviário para viajar, pois precisaria se deslocar muito mais, e por ônibus municipais para chegar lá”, opina.

“Hoje já é demorado, imagina se precisar sair da avenida Ipanema ou avenida Itavuvu, o trajeto que a pessoa teria que fazer na ida, e imagine cansado na volta para casa. Temos a solução do Uber, mas e quem não pode pagar isto todo dia?”, questiona. “E será que tem orçamento familiar para isto? Mais do que só resolver o prédio, ou tirar os ônibus da marginal do rio Sorocaba, é preciso dar uma solução inteligente de conectividade ao cidadão sorocabano que regressa de uma viagem, desembarcando na rodoviária para voltar para sua casa”, argumenta.

“No caso eu sugeriria o aproveitamento do atual vazio urbano que é a antiga Villares, agora Gerdau, que tem possibilidade muito grande de intermodalidade no futuro próximo, com relação ao BRT municipal, e o trem intercidades estadual, área para recebimento e estacionamento de todos os modais, e ainda ativar proximamente áreas que também são atualmente grandes vazios urbanos, e que podem (e devem) receber investimentos para projetos de apartamentos para estudantes, e áreas para desenvolvimento de um distrito de entretenimento”, comenta.

Conforme ela, é uma solução viável, pois até a rua Padre Madureira a marginal do rio Sorocaba tem mais pistas, que depois diminuem a partir da Praça Lions, que atualmente é o trajeto para a atual rodoviária. “Além disso, poderia finalmente também aproveitar o projeto do novo equipamento urbano que é a rodoviária e inovar, propondo novos usos e resgatar (e manter) a histórica área da antiga Fepasa, valioso patrimônio histórico sorocabano e paulista”, conclui.

Lugar não é ideal

“A decisão não é ideal, porque o terreno escolhido para a obra encontra-se inserido em área urbana consolidada, predominantemente residencial, acrescida de áreas tombadas pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP), como são a praça Pio XII (coreto e abrigo de ônibus), o edifício onde funcionou o Hospital São Severino (e a capela) e também o edifício da fábrica Santa Rosália”, justifica o arquiteto e urbanista Marcelo Augusto Paiva Pereira, também se posicionando contra a possibilidade.

De acordo com ele, o novo terminal deverá ser afastado de áreas consolidadas, para desenvolver centralidades urbanas e “a mobilidade a elas correspondentes, na razão do estudo dos trajetos origem-destino (OD), que examinam os fluxos de veículos, pessoas e mercadorias, inclusive em relação às áreas do entorno”, diz

“Há outras áreas urbanas mais apropriadas à implantação da nova estação rodoviária. Uma delas é a localizada no entroncamento das rodovias Celso Charuri, Raposo Tavares e José Ermírio de Moraes (Castelinho). Inclusive, esse terreno se encontra amparado pela lei municipal nº 11.319/2016, que instituiu o Plano Diretor de Transporte e Mobilidade Urbana do Município de Sorocaba”, lembra Paiva Pereira.

Ele diz que a implantação da nova estação rodoviária na Celso Charuri, por exemplo, fomentaria o surgimento de centralidades urbanas e complexos intermodais com vistas aos espaços destinados ao transporte, comércio, serviços, lazer, habitação e o benefício da mobilidade urbana e dos fluxos origem-destino. “Esteticamente causará a integração de áreas urbanas pela diversidade de transportes oferecidos, aprimoramento do desenho da malha urbana e rodoviária, bem como atualizará o ‘skyline’ da cidade em sua totalidade, sem causar prejuízos ao meio ambiente natural nem ao entorno, pensadas desde o desenho do projeto”, lembra.

Ele ainda lembra que a “poluição sonora, bem como qualquer outra espécie (ou tipo) sempre deverá ser considerada em qualquer projeto, arquitetônico ou urbanístico, porque faz parte do conceito de conforto estudado e examinado nos projetos”. Aliás, o projeto do edifício a abrigar a aludida estação rodoviária deverá ser pensado para produzir os menores índices de sonoridade, para assegurar o conforto acústico aos usuários do ambiente, inclusive no entorno urbano”, termina.

Moradores do bairro estão se mobilizando contra a medida, inclusive já realizaram uma reunião para tratar do tema. Um abaixo assinado também está em andamento. (Marcel Scinocca)