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Sorocaba

Reajustes e estiagem fazem consumidor repensar e alterar hábitos do cotidiano

Aumentos da luz, gás de cozinha e a falta de chuva são pontos de partidas para mudanças permanentes

25 de Julho de 2021 às 00:01
Marcel Scinocca [email protected]
(Crédito: PIXABAY.COM)

Com o preço do gás e da energia elétrica tendo aumentos recorrentes e a necessidade de economia de água em função da seca, o sorocabano está cada vez mais focado na redução e no consumo racional dos três itens. Vale de tudo para essa economia, que inclui a reutilização e, principalmente, a mudança de hábito no dia a dia.

Energia elétrica

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu no final de junho reajustar a bandeira tarifária 2, que é a mais cara do sistema de bandeiras. O reajuste foi de 52,1%. Agora, com o aumento já em prática, cada 100 quilowatts-hora consumidos serão pagos R$ 9,49 extras. É, a agência esqueceu de combinar com a dona Mirian Pinto. Mas, como dizem por aí, a dona Mirian deu seus pulos para economizar.

Pela economia de energia elétrica, Mirian Pinto deixa o ferro elétrico muito mais na caixa do que em uso. - MARCEL SCINOCCA
Pela economia de energia elétrica, Mirian Pinto deixa o ferro elétrico muito mais na caixa do que em uso. (crédito: MARCEL SCINOCCA )

Proprietária de um brechó no bairro São Conrado, zona norte de Sorocaba, ela conta que uma das táticas para economizar energia está nos equipamentos, por exemplo, o ferro de passar roupa, no caso dela, na caixa e quase nunca usado. Tudo para reduzir o consumo. “Junto tudo antes. Tenho 10 peças para passar, espero juntar mais”, diz. “Se tem pouco, nem mexo”, comenta. Outro ponto, ainda sobre a economia é nunca parar de fazer a atividade e deixar o ferro ligado. “Temos muito cuidado com tudo”, diz sobre um dos caminhos adotados por ela para a economizar.

A economista Carla Giuliani ressalta que já estamos na bandeira vermelha. “Então, o que acontece é que a energia encareceu e muito. As dicas são sempre as mesmas. Nós temos que conseguir ao máximo fazer a economia. Todo mundo tem que fazer economia, primeiro porque nós estamos com uma crise hídrica. Nós podemos viver sem luz, sem energia elétrica, mas sem água, não. Então, nós precisamos fazer essa economia”, lembra.

Queda no consumo

A CPFL afirma ter havido redução do consumo de energia elétrica na região de Sorocaba. - LUIZ SETTI / ARQUIVO JCS
A CPFL afirma ter havido redução do consumo de energia elétrica na região de Sorocaba. (crédito: LUIZ SETTI / ARQUIVO JCS)

A CPFL, concessionária responsável pela distribuição de energia elétrica em Sorocaba, afirma que o consumo em sua área de atuação, além de Sorocaba, apresentou redução. No primeiro trimestre de 2020, o consumo foi de 12.071 GWh, ante 11.712 GWh do primeiro trimestre deste ano. Esse período se refere a antes da nova bandeira tarifária.

A empresa lembra que o chuveiro elétrico é o aparelho que mais consome energia. Ao utilizá-lo no modo “inverno”, o acréscimo no consumo é de até 30% em relação ao modo “verão”. O banho passa a ser responsável por 25% a 35% dos gastos na conta de luz nos meses mais gelados”, lembra.

E assim como podem ocorrer vazamentos de água em casa, é possível ocorrer vazamento de energia. Conforme a CPFL, redes elétricas em mau estado de conservação e subdimensionadas, lâmpadas elétricas queimadas, fios desencapados e até mesmo aquela borracha velha na porta da geladeira são os principais responsáveis pela fuga de energia.

Gás

E sabe aqueles assados que a Denise Vieira fazia ao menos uma vez por semana? Pois é, eles continuam a serem feitos, mas agora no forno elétrico. Ela fez as contas e viu que a troca gera mais vantagem financiera. É que o gás de cozinha, conforme noticiado pelo jornal Cruzeiro do Sul, em 13 de julho, ultrapassou pela primeira vez a casa dos R$ 100,00, em Sorocaba. Aí, não teve jeito. “Comecei esse processo na semana passada. Estou quase colocando um forno a lenha no quintal”, brinca.

O seu Hélio Vieira, pai de Denise, reclama do preço e com razão. Atualmente, o gás de cozinha corresponde a quase 10% do salário minino atual. “Estou gastando muito. O bolso está ficando doente”, diz.

Em Sorocaba, o preço de um botijão já passa dos R$ 100. - PIXABAY.COM
Em Sorocaba, o preço de um botijão já passa dos R$ 100. (crédito: PIXABAY.COM)

E ele tem toda a razão, tanto que Lincoln Diogo Lima -- professor e economista -- explica que alta no gás de cozinha tem um impacto significativo sobre a parcela da população mais pobre. “Compromete uma fatia significativa da sua renda com esse bem. Isso significa que para que essas famílias continuem a comprar o botijão de gás, já que ele é considerado um bem essencial, elas terão que abrir mão do consumo de outros bens e serviços”, lembra.

“O problema é que para as famílias mais pobre esses outros bens e serviços que terão que abdicar também são essenciais. De modo que isso pode comprometer seriamente as condições de sobrevivência dessas pessoas mais vulneráveis, aumentando a pobreza e, em muitos casos, levando até mesmo à fome”, explica. “Outra consequência do aumento do botijão de gás sobre a parcela da população mais pobre é o aumento no Brasil do número de famílias que passaram a utilizar lenha para cozinhar, segundo pesquisas do IBGE”, comenta. Ainda para o economista, isso ganha contornos mais dramáticos quando se leva em conta o contexto atual que apresenta taxa de desemprego, aumento de preços de tarifas de outros serviços.

Água

Reutilizar a água da máquina é uma forma ajudar o bolso e o meio ambiente, destaca Claudete Feketi. - MARCEL SCINOCCA
Reutilizar a água da máquina é uma forma ajudar o bolso e o meio ambiente, destaca Claudete Feketi. (crédito: MARCEL SCINOCCA )

A dona de casa Claudete Feketi já tem prática em reusar e reutilizar. Aliás, é uma atitude que ela recebeu da mãe e tenta passar para os filhos. Na lavanderia, um tambor armazena toda a água da lavagem de roupa. Há um destino para cada captação. Vai depender, sempre, do tipo de lavagem e do tipo de produto utilizado. Se tem bastante sabão ou amaciante, vai para a lavagem de tapetes, por exemplo. “Tenho bastante tapete. Deixo acumular para lavar tudo de uma vez”, explica. O procedimento é feito ao menos uma vez por semana.

Atenta, ela aguarda a finalização da máquina para o enxágue. É quando a água, que numa situação normal seria descartada, passa para mais uma etapa antes desse processo. No corredor largo, ao longo da lavanderia, dezenas de plantas, todas aguadas com água reutilizada. E com fator ambiental, o bolso dela também sentiu os efeitos. A conta de água caiu de cerca de R$ 120,00 para cerca de R$ 80,00 por mês.

Ah, a dona Miriam, que falou da economia de luz, também pratica o mesmo engajamento para a economia de água. Tanto que, segundo ela, paga a tarifa mínima. “Tenho muita consciência com o meio ambiente, como minha mãe ensinou”, diz.

Por conta do longo período sem chuva, o ideal é a economia de água. - PIXABAY.COM
Por conta do longo período sem chuva, o ideal é a economia de água. (crédito: PIXABAY.COM)

Carla Giuliani lembra ainda que é preciso caçar qualquer ‘deseconomia‘ dentro e fora da casa. Vazamentos em torneiras, registros e no encanamento devem ser inspecionados. Se houver problema, conforme ela, vale a pena até pagar para que um serviço especializado resolva. “Quando eu economizo, quando eu faço a minha parte, a sociedade faz isso. Se cada um de nós fizer a nossa parte o coletivo também melhora”, conclui.

Segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Sorocaba (Saae) o consumo de água na cidade está muito próximo da média da região Sudeste, que foi de 177,4 litros/habitante/dia, ainda que acima do consumo médio do Brasil, -- 153,9 litros/habitante/dia. “O Saae considera que o consumo consciente da água pela população é imprescindível para a preservação dos mananciais hídricos do município”, finaliza a autarquia. (Marcel Scinocca)

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