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Covid-19

Sequelas da Covid-19 perduram por meses após alta hospitalar

Fadiga, dificuldade de respiração e queda de cabelo são alguns dos sintomas

30 de Junho de 2021 às 00:01
Ana Claudia Martins [email protected]
(Crédito: Jornal da USP)

Recuperados da Covid-19 podem sentir sequelas da doença até alguns meses após receberem alta hospitalar, sobretudo os pacientes que tiveram os sintomas mais graves e que necessitaram de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e entubação.

Sintomas como fadiga, cansaço, perda de memória, fraqueza muscular, dificuldade de respiração, e até queda de cabelo, além de outras sequelas podem acompanhar o paciente por meses.

A médica infectologista e especialista em Saúde Pública, Rosana Maria Paiva dos Anjos, afirma que estudos demonstram que até 80% dos recuperados sentem pelo menos um sintoma em até quatro meses depois da recuperação da Covid-19. “Vários estudos estão sendo lançados nesse sentido, mas todos são concordantes em afirmar que a doença não acaba após a pessoa receber alta hospitalar, principalmente nos quadros mais graves, no caso daquelas pessoas que ficaram internadas e foram entubadas”, destaca.

A infectologista aponta ainda a chamada síndrome da fragilidade, que afeta os pacientes já recuperados. “As pessoas falam de cansaço, fraqueza muscular, durante vários meses após a melhora de alta dentro do seu quadro de Covid”, aponta.

Segundo a médica, a situação é causada pela tempestade inflamatória que o vírus provoca no organismo. “O pulmão forma fibroses e isso depois se traduz por um cansaço, pela dificuldade respiratória, também pela inflamação muscular e a fraqueza. Então, essa tempestade inflamatória nos vasos sanguíneos pode acarretar ainda a possibilidade de trombose, de infarto, e até acidente vascular cerebral (AVC), que pode ocorrer até três meses após o quadro por conta de trombos”, afirma Rosana.

A médica cita ainda que a parte cardiológica dos pacientes fica alterada por conta das cicatrizes do miocárdio. “O paciente tem mais facilidade de ter arritmias. Além disso, a causa emocional também intensifica a parte neurológica e podem aparecer as disfunções cognitivas como ansiedade, depressão, que atinge quase metade dos acometidos. Dermatologicamente também podem aparecer sintomas que estão sendo relacionados com a questão da Covid-19: a perda do cabelo, reações cutâneas das mais variadas, entre outros”, diz Rosana.

Ela recomenda que os pacientes pós-covid fiquem atentos aos sintomas e busquem sempre acompanhamento médico, para que sejam feitos os atendimentos e tratamentos adequados para cada situação. “As pessoas devem realmente ficar atentas para a questão de estar retomando as atividades aos poucos. Até essa questão das atividades físicas, que as pessoas estavam acostumadas a fazer diariamente, elas devem aguardar e ficarem atentas a sintomas como náuseas, palpitações, tonturas, porque o organismo não está adequado ainda, não está funcionando na sua normalidade”, disse a infectologista.

Pacientes relatam comprometimento dos pulmões e da qualidade de vida

A médica infectologista Naihma Fontana afirma que as sequelas da Covid-19 podem afetar a qualidade de vida e até ameaçá-la. “Estudos mostram que até 80% dos mais de 11 milhões de indivíduos curados sentem ao menos um sintoma até 4 meses após o fim da infecção”, diz.

A médica afirma que, “para se livrar do invasor (coronavírus), o sistema imunológico desencadeia um processo inflamatório, que pode ser intenso em alguns casos, desencadeando sequelas após a doença. Casos mais graves, que precisaram de internação, tendem a abalar mais o organismo a longo prazo, porém, os episódios leves da doença podem também deixar marcas prolongadas. Mesmo com a tendência dessas queixas se resolverem sozinhas, o ideal é sempre buscar atendimento médico. Nesses casos, é possível intervir antes que algo pior possa acontecer”, destaca Fontana.

Paciente relata sequelas

Alessandra Gonçalves está com pressão alta, queda de cabelo e dificuldade para respirar. - Divulgação
Alessandra Gonçalves está com pressão alta, queda de cabelo e dificuldade para respirar. (crédito: Divulgação)

A autônoma Alessandra Gonçalves, 38 anos, pegou Covid e ficou 13 dias internada, sendo dois em UTI. Ela conta que teve sintomas graves da doença, com 70% de comprometimento do pulmão.

“Não cheguei a ser entubada, mas senti muita falta de ar e até hoje a minha saturação ainda não voltou a 100%. Por isso, faço acompanhamento médico com o pneumologista. Além disso, estou tendo pressão alta e queda de cabelo”, afirma.

O empresário Alexandre Toral Moisés, 48 anos, teve Covid-19 no ano passado e chegou a ficar 15 dias internado na UTI, em um hospital particular em Sorocaba. Apesar da alta hospitalar, ele ficou vários meses fazendo tratamento com fisioterapeuta para tratar dores musculares, fadiga, cansaço e até dores nas costas. “Fiquei com o pulmão bastante comprometido. Saí do hospital com 20 quilos a menos e dificuldade até para andar. Então, tive que fazer sessões de fisioterapia”, conta.

9 em 10 casos graves

Um estudo preliminar com pacientes graves do coronavírus apontou que 91% dos idosos e 88% dos adultos que foram internados na UTI pela doença apresentam síndrome de fragilidade mesmo um mês após receberem alta.

Além de sintomas como perda de peso, exaustão e diminuição da força muscular, a pesquisa indica também que muitas dessas sequelas podem evoluir para quadros de ansiedade, depressão ou limitações motoras e cognitivas.

A pesquisa foi conduzida pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o estudo já entrevistou 150 pacientes que foram internados na UTI pelo coronavírus. (Ana Cláudia Martins)

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