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Dia do Orgulho Gay passa em branco em Sorocaba

Representantes do movimento e conselheiros municipais lamentaram por não terem organizado nada. Um dos motivos é a pandemia.

29 de Junho de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Em celebração ao Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, prédio do Congresso Nacional recebeu as cores do arco-íris e a bandeira do Movimento Gay.
Em celebração ao Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, prédio do Congresso Nacional recebeu as cores do arco-íris e a bandeira do Movimento Gay. (Crédito: Divulgação / Câmara dos Deputados)

 

Sempre com muito colorido para lembrar a diversidade, o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ passou em branco em Sorocaba. Para marcar a data, geralmente é realizada nas ruas uma manifestação, a Parada Gay, que costuma reunir milhares de pessoas no combate ao preconceito, à homofobia, e em busca de conscientização com relação aos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e pessoas intersexo. Representantes do movimento e conselheiros municipais lamentaram por não terem organizado nada. Um dos motivos é a pandemia.

Ronaldo Pires, um dos coordenadores da Associação da Parada do Orgulho LGBT de Sorocaba, lembra que no ano passado teve uma Parada on-line, que foi organizada pelos coletivos LGBT e pelo conselho municipal, mas para este ano não foi programado nada. A ideia é concentrar esforços para fazer algo no ano que vem, quando provavelmente todos estejam vacinados.

Os órgãos municipais representantes da comunidade LGBTQIA+ também deixaram de fazer algo para marcar a data. Porém, independente disso, continuam atuando em prol dessa população. Rogéria Fernandes, que está à frente da Coordenadoria de Políticas sobre Diversidade Sexual, afirma que Sorocaba tem enquanto política pública instituída dois grupos de apoio a essas pessoas, o Grupo de Apoio a Diversidade Sexual (Gads) e o Grupo de Apoio a Pais de Homossexuais, Transexuais e Jovens LGBT (GPH). Ambos continuam ativos e oferecendo amparo aos jovens LGBT e familiares que buscam ajuda nos processos de aceitação, solução de conflitos e também de socialização. O atendimento é feito na rua Santa Cruz, 116, centro.

Vivian Machado, presidente do Conselho Municipal dos Direitos LGBT, lembra que é importante oferecer formações sobre o tema para os servidores municipais, a exemplo do que acontecia anteriormente, e tem cobrado mais investimentos por parte da Prefeitura. Na sua visão, os agentes públicos precisam conhecer as leis e os direitos LGBTQIA+ para melhor atendimento e acolhimento dessas pessoas.
Na área da Saúde, Vivian afirma que a cidade precisa implementar o Núcleo Trans, com serviço ambulatorial, para monitoramento de hormonização, e oferecer apoio psicológico, acrescentando que São Miguel Arcanjo tem e Sorocaba não. O que a cidade já conquistou, ressalta, é um abrigo LGBT. “Temos uma ala por enquanto, onde podemos acolher, fortalecer, fazer encaminhamentos”, comenta.

Questionada sobre os números de agressões e mortes em Sorocaba por crimes de homofobia, a presidente do Conselho afirma que a cidade não tem essas informações. Vivian diz que tem batalhado por dados, mas em vão. “Acionamos a Secretaria de Segurança Pública mas eles não contemplam os dados. Até existe legislação sobre isso, mas na hora da pressa, os campos sobre gênero e orientação sexual não são preenchidos”, conta.

Números relacionados à população gay não existem nem mesmo para a prestação de serviços sociais. “Não temos informação de quantas pessoas LGBT estão em vulnerabilidade. Não se contempla, nem o IBGE contempla. Os dados oficiais não contemplam a população LGBTQIA+”, diz.

Significado da sigla

Com o passar dos anos, a sigla do movimento, que já foi apenas GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), sofreu diversas alterações. Nos últimos anos, é mais comum ver as letras LGBT, que aparecem em inclusive em leis recentes, porém a sigla foi novamente ampliada para LGBTQIA+ para que um número cada vez maior de pessoas se sintam representadas pelo movimento. Há outras ampliações, mas não são tão conhecidas. Confira o que cada letra significa:

L = lésbicas, são mulheres que sentem atração afetiva/sexual pelo mesmo gênero, ou seja, outras mulheres.

G = gays, são homens que sentem atração afetiva/sexual pelo mesmo gênero, ou seja, outros homens.

B = bissexuais, são homens e mulheres que sentem atração afetiva/sexual pelos gêneros masculino e feminino.

T = transexuais e transgêneros, se refere às pessoas que não se identificam com o gênero atribuído em seu nascimento, porém não está ligado à orientação sexual.

Q = queer, é uma palavra em inglês usada para designar pessoas fora das normas, são pessoas que transitam entre os diversos gêneros. I = intersexo, nesse grupo estão as pessoas em que o seu desenvolvimento biológico e corporal não se enquadram na norma binária (masculino ou feminino).

A = assexual, ou seja, quem não sente atração sexual por outras pessoas, independente do gênero.

+ = é usado para incluir outros grupos e variações de sexualidade e gênero, como os pansexuais, que sentem atração por outras pessoas, independente do gênero.

Duplo preconceito e até agressão verbal

Alan Carvalho. - Arquivo Pessoal
Alan Carvalho. (crédito: Arquivo Pessoal)

O sorocabano Alan Carvalho, 30 anos, é homossexual e deficiente físico, e afirma que sofre preconceito duplamente, porém sem dúvida alguma, a maior dificuldade que tem com as pessoas em geral não é pela deficiência, mas por ter assumido ser gay. “O gay sofre violência na rua, dentro de casa, no comércio, em algum lugar onde possa frequentar”, afirma.

Alan lembra de uma vez que chegou com o namorado em um hotel e ambos foram tratados com discriminação. “Chegaram a cobrar a mais”, conta.

Ele afirma que tem empregos que aceitam pessoas com deficiência, que existe uma adaptação, dependendo da deficiência, mas já enfrentou obstáculos para conseguir trabalho por sua orientação sexual.

Alan disse que também já sofreu bullying, passou por agressões verbais, já foi tratado com diferença e hoje levanta a bandeira dessa causa. O que ele tem afirmado e reafirmado é a questão do respeito. Ele tem usado o seu Instagram (@eualancalixto) para conscientizar as pessoas. “É preciso saber respeitar o espaço de cada um. O lema da minha vida é respeite minha história que eu respeito a sua.”
(Daniela Jacinto)

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