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Sorocaba

Sorocabano cria rota ciclística para Aparecida em homenagem a sua mãe

Bruno Goia percorreu o "Caminho da Toninha", de 365 quilômetros, em menos de 24 horas

27 de Junho de 2021 às 00:01
Marina Bufon [email protected]
Bruno Goia (centro) e equipe de filmagem em frente ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida.
Bruno Goia (centro) e equipe de filmagem em frente ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. (Crédito: EDUARDO COUTO / DIVULGAÇÃO)

A fé se manifesta de maneiras diferentes em cada um. No ciclista sorocabano Bruno Goia, de 31 anos, ela apareceu sob as duas rodas da bicicleta, quando resolveu percorrer no último final de semana e de forma inédita, um novo “caminho da fé” até Aparecida do Norte, saindo de Sorocaba. O objetivo não era nada fácil: 365 quilômetros em quase 24 horas para homenagear a mãe, Antonia Mitioko Goia, a Toninha.

“Perdi minha mãe em 21 de dezembro de 2019, pouco antes da pandemia, para uma infecção urinária. Ela tinha 60 anos, era ativa, ainda trabalhava, foi um susto para todos nós. Os médicos demoraram para identificar o problema dela e, sem conseguir reagir à medicação, acabou nos deixando, mesmo após anos atrás ter vencido um câncer”, disse o ciclista, que é dono de uma assessoria esportiva.

Bruno consultou mapas e o aplicativo Strava, muito utilizado por ciclistas para mostrar passagens e indicar caminhos. Foi assim que ele montou o “quebra-cabeças”, já que ninguém havia feito esse percurso antes e foi preciso estudar muito para encontrá-lo. Bruno saiu de Sorocaba na sexta (11) e chegou no sábado (12) em Aparecida, justamente no dia do aniversário da mãe. No total, foram 365 quilômetros percorridos em 23 horas, 42 minutos e 13 segundos.

“Quando cheguei ali, senti felicidade. Naquela rampa de entrada, eu estava sozinho. Ali toda a canseira bateu, parece que veio tudo. Foi o meu momento, ajoelhei, agradeci, falei um pouco com ela, me emocionei muito”, relatou.

Luta por reconhecimento

O caminho já foi percorrido por Bruno Goia uma vez de bicicleta, mas o que ele deseja mesmo é que seja reconhecido como “Caminho da Toninha”, como uma continuidade da homenagem à mãe. “Antes era um desafio meu, individual, tanto que só divulguei nas redes sociais na sexta. Um carro foi comigo apenas para me dar suporte caso algo acontecesse e para filmar tudo”, contou.

Bruno disse que conseguiu essa equipe -- formada por Eduardo Couto, Eduardo Palota, Marcel Mucci e Rafael Campos --, depois de fazer uma rifa e juntar o dinheiro. “Agora quero tornar o ‘Caminho da Toninha’ popular, deixar uma rota tradicional. É um caminho para todos, não só para mim.”

Depois do trajeto, o ciclista recebeu mais de 500 mensagens por seu Instagram pessoal (@bruno_goia), tanto para parabenizá-lo, quanto para incentivá-lo a continuar. Outras pessoas ainda falaram que Bruno se tornou fonte de inspiração para momentos difíceis.

“Eu sempre fui atleta e tinha em pensamento que queria fazer a diferença, mas é meio ingrato isso, porque, enquanto você está sendo campeão, é bem-visto, mas a partir do momento que não está com boa performance, acaba não sendo um bom incentivador, de forma indireta. Teve um momento, perto de Joanópolis, que fiquei no breu, totalmente sozinho. Foi quando mais pensei nela, na luta dela. Eu também estava lutando contra algo ali, é transformador”, relatou.

Agora, Bruno está em busca de apoio para demarcar o percurso oficialmente e torná-lo, de fato, o “Caminho da Toninha”. Tudo que ele fez já está disponível, mas a ideia é tornar o conteúdo ainda mais acessível. O ciclista está em contato com a Prefeitura, mas procura por apoiadores também da iniciativa privada.

Percursos de peregrinação

Para ir até Aparecida do Norte, o Caminho da Fé é um dos percursos de peregrinação mais conhecidos e percorridos. Saindo de Águas da Prata, a rota tem cerca de 970 quilômetros no total, tendo como cenário, em sua maioria, a Serra da Mantiqueira, além de estradas vicinais, trilhas, bosques e asfalto.

O caminho foi inaugurado em 11 de fevereiro de 2003 por três amigos peregrinadores e tinha como objetivo principal fornecer estrutura às pessoas que desejavam chegar até o Santuário Nacional da cidade. O trajeto foi inspirado no milenar Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, mas muitos outros existem no Brasil e no mundo.

Exemplos desses percursos são Monte Kailash, na China; Kumano Kodo, no Japão; Caminho da Luz, em Minas Gerais; Caminho das Missões, no Rio Grande do Sul, entre outros. (Marina Bufon)