Vacinação
Suposta ‘vacina de vento’ gera dúvida em idosa de Votorantim
Em vídeo, é possível ver que a enfermeira aperta a seringa, mas, aparentemente, o líquido não é aplicado na idosa
A família de Vitória de Siqueira Silva, uma senhora de 83 anos residente em Votorantim, está em dúvida se ela tomou, de fato, as duas doses da vacina contra a Covid-19.
No vídeo da vacinação no drive-thru gravado por uma das filhas, em março deste ano, é possível ver que a enfermeira aperta a seringa, mas, aparentemente, o líquido não é aplicado na idosa.
Ela tomou a segunda dose da AstraZeneca agora em junho, mas não se sabe se ela está realmente imunizada contra o vírus -- é importante lembrar que a vacina não impede que uma pessoa seja infectada pelo vírus, mas reduz a probabilidade de desenvolver a versão mais grave da doença.
Um caso semelhante é relatado por Nelson Álvaro Alves, de 72 anos, de Sorocaba (veja mais adiante).
Ana Carolina de Campos Andrade, advogada e esposa de um dos netos de dona Vitória, entrou em contato com a Prefeitura e vem tentando adquirir uma “terceira dose” para ela, já que após um teste de neutralização pedido pelo órgão municipal, o resultado foi negativo -- não há, segundo a infectologista da cidade e o laboratório AstraZeneca, nenhuma contraindicação caso uma dose a mais seja aplicada.
“Entrei em contato com a Ouvidoria da Secretaria da Saúde e eles solicitaram o vídeo gravado. A resposta foi que essa seringa, ao ser puxada para fora, automaticamente empurra o líquido. Verificando com outros enfermeiros, essa seringa não é a utilizada na vacinação contra a Covid, é a tradicional. Então, essa justificativa foi por água abaixo”, iniciou a advogada.
“Então, eles sugeriram um exame de neutralização de sangue. A dona Vitória fez esse exame, custeado pela Prefeitura, e o resultado veio negativo depois de dois meses e meio de aplicada a vacina. Ou seja, ela não adquiriu os anticorpos”.
Ana Carolina, em contato com o laboratório da AstraZeneca, foi informada de que esse exame de neutralização pode dar negativo mesmo que a pessoa esteja imunizada, em uma porcentagem de 33% de “margem de erro” -- probabilidade de a imunização não aparecer no teste mesmo tendo tomado as doses. Por conta disso, a Prefeitura pediu um novo exame, negado pela família. Dona Vitória, então, realizará outro teste depois de 30 dias da aplicação da segunda dose.
“Terceira” dose negada
Integrante do grupo de risco em razão da idade avançada, pressão alta e diabetes, Vitória de Siqueira Silva não teve autorizada a aplicação de uma “terceira” dose da vacina da AstraZeneca por conta de um problema um tanto quanto burocrático: o cadastro municipal. Nenhum dos netos e bisnetos visita a avó/bisavó por medo de infectá-la, mesmo com idade para já estar completamente imunizada.
“A médica infectologista de Votorantim me ligou e disse que não conseguem dar a “terceira” dose porque o cadastro municipal não autoriza, porque ela já tomou as duas doses (no sistema). Eu disse, então, que queria deles um papel que confirmasse isso, porque, caso ela venha a contrair a Covid e se agrave, venha a falecer ou ficar com alguma sequela, vou processar o município. Não sabemos o que fazer. Na imagem, parece que ela não tomou (a primeira dose)”.
O caso vem à tona poucos dias depois de a psicóloga Laura da Silva Santos Alves ter notado um erro na aplicação da primeira dose da vacina anticovid em Sorocaba. Na ocasião, a Prefeitura informou que “houve uma falha na aplicação pela estagiária de uma escola técnica de enfermagem”. Ela recebeu a vacina corretamente pouco tempo depois. Além dos dois casos acima, há ainda um terceiro, em Sorocaba, do senhor Nelson Álvaro Alves, de 72 anos.
Ele alega ter sido enganado. Em vídeo gravado por ele, a técnica de enfermagem aplica uma injeção supostamente com pouco imunizante na primeira dose, o que não caracterizaria uma dose completa -- segundo o denunciante, menos de um quarto. Além disso, em seu Certificado Nacional de Vacinação Covid-19, as duas doses aparecem como aplicadas no mesmo dia (16 de abril de 2021), com mesmo lote (210131) e código vacinador (980016285194225) pelo sistema do ConectSUS.
Nelson Álvaro Alves também solicita uma “terceira” dose e entrou em contato com a Ouvidoria Geral do Município e até com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), mas afirmou não ter tido nenhum retorno.
Outro lado
A Prefeitura de Votorantim afirmou, em resposta aos questionamentos, que Vitória de Siqueira Silva recebeu as duas doses. “Ao observar a filmagem feita pelo familiar de Vitória, em câmara lenta, é possível observar claramente que o êmbolo é empurrado e a vacina aplicada. Não é possível realizar uma terceira dose de vacina”.
A nota ainda explica que, assim como ela, outras pessoas que receberam duas doses não apresentaram reação, “visto que o sistema imunológico de cada um pode variar para cada indivíduo”. A Prefeitura de Votorantim informa ainda que, após o ocorrido, solicita que “os acompanhantes saiam dos veículos para registrarem a aplicação da vacina”.
Já sobre o caso de Nelson Álvaro Alves, a Secretaria da Saúde (SES) de Sorocaba informou que as solicitações via Ouvidoria e contatos feitos pelo munícipe foram todos respondidos, sendo informado de que não há a necessidade de uma terceira dose -- ele teria apresentado à SES apenas uma foto com uma seringa vazia. (Marina Bufon)