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Sorocaba

Sorocaba tem Forrest Gump em duas rodas

Beda Motero já percorreu mais de 350 mil quilômetros pelo Brasil e América do Sul com sua Crypton 115cc

20 de Junho de 2021 às 00:01
Marina Bufon [email protected]
O sorocabano Ednilson Ruiz Vieira da Maia com sua Yamaha Crypton 115cc preta.
O sorocabano Ednilson Ruiz Vieira da Maia com sua Yamaha Crypton 115cc preta. (Crédito: ARQUIVO PESSOAL)

Na bagagem, uma barraca, isolante térmico, lona plástica, kit cozinha, roupas, itens de higiene, ferramentas e remédios. Pode parecer cena de filme, de um soldado se preparando para uma guerra qualquer, mas é “apenas” mais uma das aventuras do sorocabano Ednilson Ruiz Vieira da Maia, mais conhecido como Beda Motero, com sua Yamaha Crypton 115cc preta, uma scooter do ano de 2014.

As viagens pelo Brasil e América do Sul com a Crypton começaram em 2018, mas, antes, Beda, atualmente com 42 anos, já viajava com sua on-off road BMW GS650, que vendeu mais tarde após se “apaixonar” pelo modelo mais modesto. Ao todo, são dez países da América do Sul e 24 estados brasileiros na conta, alguns desses destinos já carimbados algumas vezes.

“Geralmente eu viajo sozinho por conta da velocidade e estilo de viagem. Monto minha barraca em postos de combustível, em casas abandonadas e no meio do mato. É difícil achar um parceiro de ‘rolê’ assim. Mas já fiz viagens curtas com amigos -- nas longas prefiro ir sozinho”, explicou.

Solteiro e sem filhos, seu pai e seu irmão já se acostumaram com os quilômetros rodados na estrada -- já são mais de 350 mil. Os últimos destinos foram Bolívia e Pantanal brasileiro, em maio -- antes, ele foi até Natal, no Rio Grande do Norte, de Mobilete. Assim que acabar a pandemia, a ideia é partir para o Alasca. Mas, antes, em julho, a previsão é ir até o Chuí, no Rio Grande do Sul.

Ele já enfrentou os ‘bravos carapanãs’

Beda Motero já havia viajado bastante antes de 2018, mas foi a partir daí que resolveu se dedicar com ainda mais afinco a isso, por conta de sete longos meses de quimioterapia -- o câncer, este sim, é seu verdadeiro filme de guerra. Neste final, o soldado venceu.

“Eu já conhecia mais da metade da América do Sul quando tive câncer, mas foi depois dele que aprendi a degustar ainda mais os ‘rolês’. Um lugar que me marcou muito foi o Norte do País, por ser longe e pela falta de estrutura. Muitos lugares sem asfalto, de centenas de quilômetros, onde não se tem acesso a celular nem internet. E também pelo povo nortista, que é um patrimônio do Brasil”.

Com um bom humor para lá de contagiante, o aventureiro contou um fato engraçado ocorrido justamente quando estava em Belém do Pará. “Estava pronto para pegar o barco e ir ao Amapá quando me falaram que os ‘carapanã’ eram muito bravos -- e eu sabia que tinha que atravessar muitas aldeias indígenas. Estava até querendo desistir, com raiva dos ‘índios’ carapanã por serem agressivos. Me perguntei: ‘Não tem fiscalização? Ninguém pode pará-los?’. Foi quando descobri que carapanã era simplesmente pernilongo lá”, contou rindo.

Essa é uma das muitas histórias do “Forrest Gump” sorocabano, em referência ao clássico filme de 1994, estrelado por Tom Hanks. O verdadeiro Forrest Gump é um homem simples do Alabama, que, em suas andanças pelos Estados Unidos do final do Século 20, presenciava eventos importantes e encontrava grandes personalidades, assim como Beda.

“Gosto muito de contar minhas histórias nas redes sociais e por onde passo, para encorajar pessoas a realizarem seus sonhos. Para quem está lutando contra um câncer, para que tenham um exemplo de quem superou a doença e está realizando seus sonhos. Que sirva de incentivo o que passei e como vivo hoje”, contou. 

‘Não queremos que ninguém fique para trás’

Nem mesmo na visita de barco à foz do rio São Francisco Beda Motero deixou sua Crypton. - ARQUIVO PESSOAL
Nem mesmo na visita de barco à foz do rio São Francisco Beda Motero deixou sua Crypton. (crédito: ARQUIVO PESSOAL)

Apesar de preferir viajar sozinho e dormir em lugares inusitados com sua rede, Beda Motero foi recebido e recebe muita gente em sua casa, cada um com suas aventuras de moto.

“Há seis anos, quase sete, abro minha casa e recebo visitantes da América do Sul, de graça. Recebo até condecorações por isso. Todo tipo de viajante já ficou aqui, não cobro comida, hospedagem e nem nada. Montei um quarto com duas camas, roupa de cama, itens de higiene, também uma cozinha, com fogão, pia e mantimentos para as primeiras refeições, mas geralmente eles comem comigo em casa, eu cozinho”, explicou.

Ele não sabe quantos já passaram por sua residência, que fica no Jardim Brasilândia, mas disse que, em uma semana, em tempos normais, chegavam a se acomodar ali 40 motoqueiros.

“Não sei se cada um tem um destino ou se só flutuamos sem rumo, como numa brisa... Mas acho que talvez sejam ambas as coisas. Talvez as duas coisas aconteçam ao mesmo tempo”, falou Forrest Gump, o verdadeiro, interpretado por Tom Hanks. Já o sorocabano, resume sua brisa, seu rumo, em apenas uma simples frase: “Bom demais estar na estrada”. (Marina Bufon)

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