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Meio Ambiente

Cápsulas de café ainda são pouco recicladas

Plástico, alumínio e até a borra podem ser reaproveitados, afirma pesquisadora

13 de Junho de 2021 às 00:01
Jomar Bellini [email protected]
O ideal é abrir as cápsulas e retirar o material orgânico antes de doar para reciclagem.
O ideal é abrir as cápsulas e retirar o material orgânico antes de doar para reciclagem. (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO)

Seja no frio ou no calor, uma boa xícara de café acompanha o brasileiro em qualquer época do ano. A bebida é a segunda mais consumida no País e teve um aumento de 35% nas vendas durante a pandemia. Nos últimos anos, as cápsulas têm chamado a atenção dos consumidores pela praticidade e variedade nos tipos de café. Esse crescimento no consumo, entretanto, está preocupando os especialistas pelo baixo índice de reciclagem do material empregado.

O brasileiro consumiu 12 mil toneladas de café em cápsulas em 2019, número mais recente divulgado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). A maior venda é na região Sudeste. No entanto, apenas cerca de 34% de todo esse volume é reciclado hoje no País, de acordo com o coffee expert Daniel Carvalho. “É muito pouco e a gente precisa fazer com que todos ‘vistam’ essa campanha de reciclagem como um hábito até por uma questão de consumo consciente”, afirma.

O coffee expert Daniel Carvalho incentiva o consumo consciente. - FÁBIO ROGÉRIO
O coffee expert Daniel Carvalho incentiva o consumo consciente. (crédito: FÁBIO ROGÉRIO)

Na visão do especialista, o processo de gestão ambiental depende tanto do consumidor quanto da empresa que fabrica os produtos. “A gente fala muito da responsabilidade coletiva. Existe a preocupação do destino final”.

Reciclagem

O consumidor que busca destinar adequadamente o material, frequentemente se depara com muitas dúvidas e, principalmente, dificuldades. “No interior do Estado nós temos muitas dificuldades para descartar de forma correta, além de poucos pontos de coleta”, avalia a professora Virginia Aparecida Silva Moris, pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Engenharia da Sustentabilidade no campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

As cápsulas de alumínio e plástico de cafés e máquinas multibebidas podem ser 100% recicladas, segundo Virginia. Para que elas tenham o destino correto, entretanto, é necessário prestar atenção na forma como o descarte é realizado. “Aqui em casa nós colocamos junto com o material plástico. Separamos também a tampinha de alumínio para a reciclagem e a borra”, afirma a gerente de contas Karina Toffoli Jandotti. Ela mora em Sorocaba e adotou as cápsulas há dois anos.

Há um ano a Coopervot tem retirado a borra da embalagem em seu galpão. - FÁBIO ROGÉRIO
Há um ano a Coopervot tem retirado a borra da embalagem em seu galpão. (crédito: FÁBIO ROGÉRIO)

O meio adotado por Karina é o mais indicado pelos especialistas, já que a abertura das cápsulas para a retirada do material orgânico (a borra ou outros produtos usados na preparação das bebidas) é o principal entrave para a reciclagem desse material nas cooperativas. “Nós não temos como limpar cada cápsula para vender e a quantidade não é tão grande, então não gera custo-benefício. Acaba indo junto com o lixo orgânico”, diz a presidente da Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba (Coreso), Áurea Bueno.

A dificuldade é explicada pelo tamanho da cápsula, que acaba não sendo tão lucrativa quanto os outros materiais. Uma lata de alumínio, por exemplo, tem cerca de 14 gramas enquanto o peso das cápsulas gira em torno de um grama.

A Cooperativa de Egressos e Familiares de Egressos de Sorocaba e Região (Coopereso), que fica na rua Leopoldo Machado, 270, no Centro, fechou um acordo com uma empresa de café da cidade para receber as cápsulas de alumínio. O material é armazenado junto com os demais enviados por moradores até que forme um volume suficiente para ser vendido.

Marlene Dias, presidente da Coopervot: não dá muito lucro, mas já ajuda. - FÁBIO ROGÉRIO
Marlene Dias, presidente da Coopervot: não dá muito lucro, mas já ajuda. (crédito: FÁBIO ROGÉRIO)

Já em Votorantim, os moradores conseguem descartar as cápsulas diretamente na coleta seletiva que passa nos bairros. Há cerca de um ano, a Cooperativa dos Catadores de Material Reciclável de Votorantim (Coopervot) passou a receber o material fechado e a retirar a borra da embalagem no galpão. “A gente começou a trabalhar com as cápsulas para evitar que elas sejam enviadas para o aterro. Não é uma coisa que dá muito lucro, mas juntando já ajuda a virar renda para as famílias da cooperativa. Fora que para o meio ambiente é, sim, um grande lucro”, conta Marlene Barros Dias, presidente da Coopervot.

Vida nova

O descarte adequado depende não só do consumidor mas também do fabricante. - FÁBIO ROGÉRIO
O descarte adequado depende não só do consumidor mas também do fabricante. (crédito: FÁBIO ROGÉRIO)

Outra alternativa é procurar as empresas que produziram o material. Muitas delas recebem as cápsulas usadas em pontos de coleta ou pelos Correios. “São vários programas com a postagem gratuita. As cápsulas são separadas. A borra é usada para compostagem até mesmo nas plantações e a água é tratada e reutilizada na própria lavagem das cápsulas e irrigação nas fazendas”, explica Virginia Moris, pesquisadora da UFSCar.

A partir da reciclagem, as cápsulas podem ganhar vida nova. As de alumínio, por exemplo, podem virar novas embalagens e até outros itens inusitados, como canivetes e bicicletas. Outra vantagem é o fato de o alumínio reciclado precisar de 95% menos energia para produzir do que o alumínio virgem, além de colaborar com uma redução significativa na pegada de carbono.

Já o plástico é usado para produtos que não envolvam alimentação, como a produção de paletes. Outros optam por reutilizar as cápsulas no artesanato e até mesmo como vasos para pequenas plantas. (Jomar Bellini)

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