Saúde
Pacientes oncológicos aguardam tratamento
Conforme a Secretaria Estadual da Saúde, mesmo durante a pandemia, os serviços de saúde estaduais mantiveram seus atendimentos a outras patologias
Aos 23 anos, Mateus Willian Costa descobriu um câncer nos testículos. Entre exames e cirurgias, ele viu seu caso ser jogado de um lado para outro, e aguarda desde janeiro para iniciar a quimioterapia. O tumor maligno, descoberto em novembro de 2020, cresce rápido e já apresenta metástase em outros órgãos.
“Esse tumor já estava avançado e ele subiu para os linfonodos, no estômago. Eu fiz a cirurgia e retirei o tumor, mas o médico disse que eu preciso fazer a quimioterapia urgente, porque ele [o tumor] cresce rápido e se espalha para outros órgãos. Em janeiro, o hospital deu entrada na Secretaria da Saúde para eu fazer a quimioterapia, mas até agora não saiu”, contou Mateus, que ainda relatou não ter recebido prazo algum para iniciar o tratamento.
De acordo com Mateus, as autoridades competentes não se responsabilizam pelo seu caso. “A última vez que minha mãe ligou na Secretaria de Saúde, a moça falou que o caso não está mais com o município e agora vai ter que resolver com o Estado. Ela falou para eu entrar com advogado, porque o Estado está dando atenção só para a Covid e esqueceu dos pacientes oncológicos. Eles ficam me jogando de um lado para o outro. Nem eu estou entendendo mais o meu caso”, lamentou.
O caso de Mateus não é o único. Cerca de 200 pacientes oncológicos aguardam para realizar radioterapia na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), segundo informação do diretor gestor da Santa Casa de Misericórdia, padre Flávio Jorge Miguel Júnior. Ele ainda destacou a necessidade de maiores investimentos do governo federal e estadual para a oncologia. “A Região Metropolitana estava com cerca de 200 pacientes esperando na fila da radioterapia. São 200 pessoas das 48 cidades que compõem a DR-16. É a falta de investimento do governo federal e estadual em tratar o câncer do seu povo”, afirmou padre Flávio.
O diretor gestor lembrou de quando foi a Brasília, em 2019, conversar com o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta: “eu fui pedir mais verba para a oncologia, só que o ex-presidente Temer congelou o teto de tratamentos do câncer por 20 anos. Por mais que produza mais, que crie uma série histórica, eles não me ajudam com mais nada”. O atual governo está amarrado pela decisão da gestão anterior.
Questionado, o Ministério da Saúde explicou que “em razão da situação da pandemia da Covid-19 e no intuito de apoiar a assistência oncológica no SUS, medidas estratégicas complementares para o enfrentamento à pandemia estão sendo adotadas”.
O Ministério ressaltou que reajustou os valores de procedimentos de anatomia patológica de citopatologia, histopatologia e necropsia, recentemente, disponibilizando recursos na ordem de R$ 173.761.247,85, incorporados ao limite financeiro de Média e Alta Complexidade - MAC dos Municípios, Estados e Distrito Federal. Entretanto, a pasta não esclareceu se o valor é para repasse único ou se existe uma periodicidade, nem se diz respeito à demanda nacional ou segmentada ao Estado de São Paulo.
Além dos recursos financeiros, o Ministério alega que tem prestado apoio técnico aos estabelecimentos que prestam assistência oncológica no SUS visando minimizar os impactos gerados pela pandemia. “A atenção oncológica no SUS conta, ainda, com o apoio de iniciativas tais como o Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon) e o Plano de Expansão da Radioterapia no Sistema Único de Saúde (Persus)”, disse a nota.
De acordo com a pasta federal, “o atendimento aos pacientes do SUS deve ser regulado pelas secretarias estaduais, distrital e municipais de saúde, aos quais compete garantir a adequada prestação de serviços à população”. Sendo assim, o Ministério da Saúde afirmou que regular o acesso do paciente conforme a sua necessidade é responsabilidade do Estado e do Município.
Já, conforme informa a Secretaria Estadual de Saúde, mesmo durante a pandemia, os serviços de saúde estaduais mantiveram seus atendimentos a outras patologias. “Está em andamento a instalação da radioterapia no Conjunto Hospitalar de Sorocaba, unidade estadual que recebeu um acelerador linear previsto para início de funcionamento no segundo semestre deste ano”. A nota do Estado ainda explicou que técnicos estão realizando capacitação para operar o equipamento.
Sobre o caso de Mateus, a pasta estadual evidenciou que o paciente mantém consultas regulares no Hospital de Transplantes “Dr. Euryclides de Jesus Zerbini” para monitoramento da sua condição. “O caso segue em acompanhamento pela equipe de oncologia da Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde (Cross) para direcionamento ao serviço de referência terapêutica mais adequado para continuidade do tratamento”.
De acordo com a pasta, a Santa Casa de Sorocaba, referência para a radioterapia na RMS, operou nos últimos dois anos com 50% da sua capacidade de oferta. A Secretaria ainda destacou que são repassados mais de R$ 640 mil à Santa Casa por mês, por meio de convênios firmados para auxiliar na assistência. (Kally Momesso, programa de estágio - supervisão: Aldo Fogaça)