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Sorocaba

Hospital devolve dentadura que não pertencia a paciente morto

Homem morreu de Covid em Votorantim e foi sepultado sem reconhecimento

11 de Junho de 2021 às 00:01
Kally Momesso [email protected]
Rosana ficou na dúvida se Maurício havia mesmo morrido ou não.
Rosana ficou na dúvida se Maurício havia morrido ou não. (Crédito: ARQUIVO PESSOAL)

Rosana de Campos Couto, de 45 anos, viveu o desespero de não saber se o marido, Maurício Ribeiro de Moraes, de 45 anos, estava vivo ou não. A dúvida surgiu na quarta-feira (9), após a ligação do Hospital Municipal Dr. Lauro Roberto Fogaça, em Votorantim, pedindo que Rosana buscasse uma prótese dentária que ela não reconhecia. O hospital afirmou que não há dúvidas sobre o falecimento de Maurício.

De acordo com Rosana, o marido foi diagnosticado com Covid-19 no dia 20 de maio e precisou ser internado no hospital público de Votorantim, no dia 23 de maio. Na última terça-feira (8), a esposa foi informada que Maurício havia morrido por complicações da doença.

O problema para Rosana começou quando foi informada de que não poderia realizar o velório do seu companheiro. “Na funerária, a moça me disse que não poderia ter velório por conta da Covid. Mas os médicos me falaram que ele não estava mais com Covid, ele estava sofrendo com as sequelas. Então, a moça me orientou a ir ao hospital e pedir para a médica colocar no documento que ele não estava mais com Covid”, contou.

No hospital, a esposa fez a solicitação indicada pela funcionária da funerária, porém, não foi atendida. “O enfermeiro disse que a médica e a assistente social acharam melhor não fazer o velório mesmo. Eu falei que eu queria reconhecer o corpo. O enfermeiro me disse que não pode. Mas como não pode? Como eu vou saber que é ele? O enfermeiro disse ‘nós sabemos que é ele. Nós cuidamos dele’”, relembrou a conversa.

Rosana realizou o enterro na quarta-feira (9), mesmo sem ter visto Maurício. Entretanto, ainda na noite de quarta-feira, o hospital municipal de Votorantim telefonou pedindo que ela fosse buscar os pertences do ex-paciente. “Ele não tinha mais pertences, pois quando ele foi entubado, eu já tinha ido buscar os pertences dele. Como eu vou deitar e dormir sem saber se é o meu marido enterrado lá?”, questionou ela.

Inconformada com a situação, Rosana foi até a unidade hospitalar. “Quatro enfermeiros vieram falar com a gente. Ela [enfermeira] perguntou se o Maurício usava dentadura. Eu disse ‘eu não sei. Vocês têm que saber. Quando eu pedi pra reconhecer o corpo, vocês não deixaram’”. Posteriormente, na mesma noite, em conversa com o responsável do hospital, a família ainda explicou o que estava acontecendo. “Ele [o responsável] disse que iria averiguar o que havia acontecido, porque a gente tinha o direito de ver o corpo”, relatou a mulher.

Uma reunião foi marcada para ontem (10). Porém, segundo a esposa de Maurício, após a família chegar na unidade hospitalar com advogados, o responsável informou que só iria falar na presença dos advogados do hospital. A reunião foi remarcada para às 9h de hoje (11) para esclarecer as dúvidas da família.

“Eu não quero mídia e eu não quero dinheiro. Eu quero ficar em paz com a certeza de que, lá no túmulo, o meu marido está lá. Enquanto eu não souber, eu não vou ter sossego”, concluiu Rosana.

Posicionamento do hospital

Em conversa com a reportagem, o diretor geral do Hospital Municipal Dr. Lauro Roberto Fogaça, Elidan Vieira Júnior, afirmou que não há dúvidas de que Maurício Ribeiro de Moraes faleceu na última terça-feira (8). Conforme o diretor, houve uma falha interna do setor de enfermagem com relação aos pertences que foram atribuídos ao falecido. Entretanto, a dentadura já foi identificada sendo de outra paciente do hospital.

Sobre a impossibilidade de Rosana reconhecer o corpo, Elidan explicou que existem protocolos desenvolvidos por médicos e pela Vigilância Sanitária que impedem o contato da família com o corpo de falecidos por sequelas da Covid-19. A família só pode ver o falecido no caso de pacientes que foram diagnosticados há 20 dias, no mínimo, sendo que Maurício estava com a doença há 19 dias. Esse mesmo prazo pode se estender se o médico responsável achar necessário.

Além disso, o diretor geral ressaltou que o Hospital Municipal Dr. Lauro Roberto Fogaça sempre esteve de portas abertas para a família e vai permanecer à disposição para esclarecimentos de qualquer dúvida. (Kally Momesso - programa de estágio / Supervisão: Aldo Fogaça)