Dia Mundial da Abelha
Especialistas alertam que abelhas podem ser extintas
Considerado um dos insetos polinizadores mais importantes do planeta, as abelhas correm risco de extinção de 100 a mil vezes maior do que o normal, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Por esse motivo, o Dia Mundial da Abelha, criado pela organização e celebrado hoje (20), alerta sobre a queda no número de espécies encontradas no mundo, bem como frisa a importância dos insetos para o ecossistema. De acordo com a ONU, cerca 35% dos agentes polinizadores, sobretudo, abelhas e borboletas, podem desaparecer. A organização e especialistas atribuem o aumento da mortalidade dos insetos à ação humana, principalmente, ao uso excessivo de agrotóxicos.
Somente no Brasil, apenas em três meses do ano de 2019, 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas por apicultores, em quatro estados. O dado consta em pesquisa desenvolvida pela Organização Não Governamental (ONG) Repórter Brasil, em parceria com a Agência Pública, veículo jornalístico independente, sem fins lucrativos.
Conforme o biólogo Sidney Cardoso, especialista em abelhas, as principais causas da mortandade são a ampla utilização de pesticidas nocivos aos insetos. Os principais são neonicotinoides, inseticidas derivados da nicotina. Nesse sentido, Edson Sampaio, apicultor e presidente da Cooperativa de Apicultores de Sorocaba (Coapis), informa que as pulverizações feitas por aviões são as mais mortais para as espécies.
Segundo Cardoso, a possibilidade de extinção preocupa, pois a função das abelhas vai muito além de fornecer mel para consumo. Por meio da polinização, elas ajudam na cadeia de cultivo e produção de alimentos. “De cada três alimentos que consumimos, falando dos vegetais, especificamente, um é polinizado por abelhas”, informa.
Além disso, de acordo com a ONU, cerca de 90% das plantações de flores silvestres; 75% das plantações de alimentos; e 35% das terras aráveis do mundo dependem da polinização. “Existem culturas agrícolas que dependem 100% da polinização das abelhas para fecundar”, completa Cardoso, citando, como exemplos, plantações de abóbora, maracujá e acerola.
Conforme o biólogo, as abelhas fazem a polinização cruzada, um dos tipos mais importantes. Em pelos espalhados pelo corpo, elas armazenam o pólen, a sua fonte de nutrientes, e o néctar, provedor de energia, liberados pelas plantas. Posteriormente, os transferem para outras flores. Assim, além de auxiliar na fecundação dos alimentos, elas são beneficiadas, pois se alimentam e se fortalecem.
Por contra dessa “troca” entre os insetos e as flores, se o processo de polinização for interrompido, ambas podem desaparecer. Isso pode acontecer, explica Sampaio, porque cada espécie de abelha precisa de um tipo específico de flor para polinizar e vice-versa.
O desflorestamento, principalmente, por conta do avanço das zonas urbanas, tem influência direta nessa questão, diz Sampaio. O desmatamento culmina na erradicação das plantas das quais os insetos dependem. Sem a sua fonte de pólen e néctar, eles vão para as cidades. Porém, no meio urbano, não encontram os alimentos necessários, mas, sim, só opções inadequadas, como o açúcar. Desta forma, não conseguem se adaptar ao ambiente. “Primeiro, porque elas ficam enfraquecidas, já que não têm os seus alimentos naturais, o pólen e o néctar. Depois, acabam morrendo”, acrescenta o presidente da Coapis.
Por isso, o Dia Mundial da Abelha objetiva incentivar os agricultores a reduzir o uso de agrotóxicos. Orienta, ainda, as pessoas a consumirem, cada vez mais, alimentos orgânicos, e não aqueles cultivados nos métodos tradicionais. Desta forma, é freada a fomentação da indústria de pesticidas e o uso deles pelo setor agrícola. Também reforça a essencialidade de se preservar as matas. Tudo com o objetivo de garantir a continuidade da existência das abelhas, detalha Cardoso. “Uma vez, Albert Einstein disse a seguinte frase: ‘se as abelhas desaparecerem da fase da terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência’”, citou. (Vinicius Camargo)