Sorocaba
Desconectados por opção ou necessidade
Se por um lado a pandemia aumentou a ansiedade trazida pelas redes, por outro dificultou o acesso à internet
Embora a internet tenha se tornado imprescindível no dia a dia da maioria das pessoas após o início da pandemia, ainda há quem consiga sobreviver sem as ferramentas digitais. Seja por opção ou falta de acesso, essas pessoas vivem sem o uso das redes sociais.
Esse é o caso da Giovanna Abbate, de 21 anos. Desde o começo da pandemia, ela tem buscado se desconectar ou usar por menos tempo as redes sociais. “Em alguns períodos, fiquei sem mexer em nenhuma rede social. Em outros, usava por um tempo diário restrito”, conta a estudante.
Conforme ela, “o excesso de informações pode contribuir com o estresse. Além disso, a comparação entre nossa vida real e as coisas boas que as outras pessoas postam, que são só um recorte da vida delas, pode gerar frustração”. E para evitar esse estresse, Giovanna conta que tem feito caminhadas, meditação e praticado a escrita e desenho.
Sua perspectiva com relação ao estresse gerado pela internet é confirmado pela psicóloga, Andreia Scatigno. Para a profissional, evitar a internet pode proporcionar uma vida mais tranquila. “Evita-se a contaminação de toda essa negatividade que ronda o mundo ultimamente e a pessoa consegue manter seu emocional mais leve e equilibrado”, disse Andreia ressaltando, porém, que a internet também pode agregar em boas experiências. “Cabe à pessoa saber diferenciar o que é bom e o que é ruim para ela”, afirma.
A psicóloga aconselhou que internautas evitem conteúdos que lhe fazem mal e não comparem suas vidas com as de outras pessoas das redes sociais. “Costumo dizer que as redes sociais hoje são fakes também, pois é comum encontrar pessoas sorrindo o tempo todo, com tudo dando certo para ela. Sabemos que no mundo real é bem diferente. A nossa vida não é só flores, como é visto nas redes sociais”, e continuou “foque em coisas boas, leves, converse com pessoas que você conhece, veja vídeos que façam você rir”.
A estudante Giovanna ainda conta que, apesar de buscar se desconectar das redes sociais, ela se mantém antenada sobre o que acontece no mundo. “Eu não evito a internet, evito só as redes sociais e me informo através dos portais de notícias.
Sem rede social
A Claudicéia Luiz de Camargo, de 44 anos, também é um exemplo. Ela não possui nenhuma rede social, nem mesmo celular ou computador. Segundo Claudicéia, que nunca teve interesse em se conectar à internet, as ferramentas virtuais, facilitadoras durante a pandemia, não fazem falta porque seus filhos fazem as operações virtuais por ela.
Mesmo desconectada, ela afirma que se mantém antenada sobre o que acontece no mundo por meio da televisão. Além disso, também é pela TV que Claudicéia faz uso do Youtube para ver receitas e vídeos de crochê. Para ela, se desconectar da internet é evitar o estresse. “Tem muita coisa que é mentira”, ela fala sobre as fake news disseminadas nas redes sociais, e continua, ressaltando a falta de interações reais. “Eu vejo gente que não conversa, fica só mexendo no celular”, critica.
A psicóloga Andreia também atribui esse fenômeno de distanciamento das redes sociais às fake news e às notícias negativas deste período pandêmico. “É como se todos que estivessem nessas redes sociais precisassem ter as mesmas opiniões, na qual percebe-se, em comentários, um discurso de ódio, uma falta de empatia entre as pessoas, uma negação daquilo que eles julgam não ser correto ou coerente, a famosa cultura do cancelamento”, explica.
Falta de acesso
Mas as problemáticas envolvendo a internet ultrapassam a questão de bem estar e entram na falta de acesso para famílias em situação de vulnerabilidade social. De acordo com a Andreia, a pandemia acentuou a desigualdade social que sempre existiu. “Em tempos de pandemia, que as escolas precisaram se readaptar e dar aulas on-line, vimos o quanto muitas pessoas saíram prejudicadas por não terem acesso a internet, seja por condições financeiras ou pela localização que não chega sinal de internet”, afirmou ela.
Patrícia de Cassia Beraldo vive esse problema. Aos 37 anos, com três filhos e pertencente ao grupo de risco, ela conta que, com a pandemia, a família precisou cancelar o contrato de internet de sua casa. “Quando chegou a pandemia, ficou difícil”, relembra. “Eu só recebo o bolsa família, e eu não posso trabalhar agora por causa da pandemia e porque eu faço tratamento de anemia megaloblástica”.
Para ela, a pandemia intensificou a desigualdade social. Isso reflete na dificuldade dos filhos para acompanharem as aulas on-line, sendo dois matriculados no fundamental e uma no ensino médio. “Não estão fazendo [as aulas]. Já fui na escola, expliquei que eu não tenho condições, mas parece que eles não entendem”, critica. Patrícia explica ainda que possui apenas um celular para que os três filhos acompanhem os conteúdos remotamente. (Kally Momesso - programa de estágio / Supervisão: Carolina Santana)
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