Máscaras especiais ajudam pessoas com deficiência auditiva em Sorocaba
Paula e o almoxarife Caíque, que é surdo, se inspiraram na máscara facial criada pela norte-americana Ashley Lawrence. Crédito da foto: Arquivo Pessoal
Recomendado pelas autoridades de saúde como uma das medidas mais simples e eficazes no combate à pandemia da Covid-19, o uso obrigatório das máscaras faciais em espaços públicos tem uma espécie de efeito colateral. É que a barreira que protege a proliferação do vírus também dificulta a inclusão das pessoas surdas ou com algum grau de deficiência auditiva, que precisam observar lábios e expressões para compreender o que é dito. Para contornar o problema, a sorocabana Maria Luisa Almeida Lopez, de apenas 10 anos, tem dedicado parte de seu tempo livre na máquina de costura, produzindo máscaras com uma tela transparente na área da boca.
A invenção da máscara facial inclusiva ou acessível é atribuída à jovem norte-americana Ashley Lawrence, mas, com a internet, o modelo rapidamente se espalhou pelo mundo, a fim de incluir o maior número possível de pessoas. Levantamento do Instituto Locomotiva aponta que o Brasil tem 10,7 milhões de pessoas com algum grau de deficiência auditiva, dos quais 2,3 milhões têm surdez severa.
A professora e tradutora de Libras Paula Bianco afirma que, além de impossibilitar o marido, o almoxarife Caíque Nunes de Morais, que é surdo, de fazer leitura labial, as máscaras convencionais também dificultam a compreensão dos ouvintes, já que as expressões faciais, assim como as mãos, são componentes importantes comunicação em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Diante da frustração, o casal encontrou na internet o modelo criado pela jovem americana e sugeriu à pequena Maria Luisa que tentasse reproduzi-lo. “Ela aceitou o desafio, disse que ia tentar e deu certo. Ficou perfeito”, comenta Paula.
Com apenas 10 anos, Malu já costura e está fazendo as máscaras como forma de ajudar os deficientes auditivos. Crédito da foto: Arquivo Pessoal
Apesar da pouca idade, Maria Luisa, a Malu, já considerada uma expert na confecção de máscaras faciais. A mãe, Priscila Sanches de Almeida, que é fonoaudióloga de Caíque, afirma que a paixão da menina pela costura já se expressava desde cedo, quando fazia roupas para as bonecas com massinhas de modelar. “E ela adorava ficar mexendo na caixinha de costura da minha mãe e sempre pedindo para costurar. Quando ela fez sete anos, ela começou a fazer aula particular e ganhou a primeira máquina de costura”, comenta.
Antes do início da pandemia, Malu vinha dedicando a maior parte de sua produção a peças de moda pet. Com a recomendação das máscaras caseiras por parte das autoridades de saúde, ela se engajou em um projeto que produziu e doou centenas de máscaras para pessoas em situação de rua.
As máscaras inclusivas para pessoas com deficiência auditiva também são confeccionadas com tecido elástico, mas têm como diferencial a aplicação, no centro, de um plástico cristal, geralmente usado para proteger superfícies de mesas e prateleiras. A máscara de Caíque foi a primeira, mas, desde então, começou a se popularizar em grupos de pessoas com deficiência auditiva. “Fico muito feliz em poder ajudar as pessoas”, conclui Malu, que não cobra pela mão-de-obra. (Felipe Shikama)
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