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Líder indígena da Amazônia realiza sonho de ter prótese

28 de Novembro de 2020 às 00:01
Jomar Bellini [email protected]

Líder indígena da Amazônia realiza sonho de ter prótese Fernando Awaryafan se acidentou há 24 anos e agora ganhará uma prótese de Nelson Nolé. Crédito da foto: Vinícius Fonseca (27/11/2020)

Vinte e quatro anos depois de ter a perna amputada ao ser atingido por um disparo durante acidente envolvendo um peixe-elétrico, um cacique de 55 anos vai conseguir retomar a vida normal. O líder indígena Fernando Awaryafan, que vive no Amazonas, viajou quase 4 mil quilômetros até Sorocaba para realizar o sonho de ganhar uma prótese.

Fernando pertence ao grupo indígena Xaréu, que habita entre os rios Trombetas, no Pará, e Jatapu, na Amazônia, dentro da área indígena Nhamundá-Mapuera. Ele vive na aldeia Cupiúba e se acidentou em junho de 1996, quando foi com grupo de índios até área afastada do restante da tribo para recolher castanhas.

Durante a noite, ele decidiu sair sozinho de canoa para caçar paca, tipo de roedor, usando espingarda. O animal seria usado para alimentar o grupo. Navegando pelo rio Nhamundá, ele se deparou com um poraquê, espécie de peixe-elétrico que vive na região amazônica.

O animal encostou na embarcação, que era de alumínio, e, com a força da descarga elétrica, a espingarda acabou disparando. O tiro atingiu a perna direita do índio, próximo à região da panturrilha. “Estava muito escuro e eu estava focado na caça da paca. Levei um susto quando vi o poraquê já embaixo da canoa. Se fosse de madeira, o choque seria menor”, explica o cacique.

Por conta da distância entre a área indígena e o hospital em Manaus, na capital do Estado, Fernando chegou a ficar seis dias com o chumbo na perna. “Lá o médico falou que não teria jeito. Teria que cortar a perna porque se a infecção se espalhasse pelo corpo, eu poderia morrer. Eles queriam me amarrar na cirurgia, mas eu escolhi ver todo o procedimento de amputação”, lembra. O processo foi acompanhado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Polícia Federal.

Sonho virando realidade

O caminho até conseguir uma prótese foi longo. Em 24 anos, foram várias tentativas, que acabaram não tendo sucesso, até uma ONG que trabalha com os índios na Amazônia entrar em contato com a clínica em Sorocaba. “Eu via as pessoas usando prótese na TV e era meu sonho, eu queria conseguir uma pra mim. Hoje eu estou muito alegre. Nunca tinha vindo para São Paulo ou sequer pensado em ver as próteses tão de perto. Eu vou poder voltar a caçar. Eu não contei para ninguém na aldeia que vou colocar a prótese, então será uma surpresa para todos”, conta o cacique.

A prótese indicada para o cacique é um joelho hidráulico. Produzido em carbono e mais leve que outros tipos de peças, o produto é articulado e tem pé flexível. Ao longo de 12 dias, o cacique vai passar por atendimento com fisioterapeutas para aprender a usar a prótese, feita exclusivamente para ele. A partir disso, poderá retornar para a aldeia. “A escolha leva em conta o peso do Fernando e as condições que ele vai ter para caçar depois. Tudo isso vai permitir que ele tenha vida normal, como era antes. Ele vai sair daqui andando”, conta Nelson Nolé, proprietário da Conforpés. (Jomar Bellini)