João Pedro estudou em casa e ficou em 2º lugar, na USP
João fez um ano de cursinho e estudou mais um ano sozinho. Crédito da foto: Divulgação
O ano de 2020 foi incerto em muitos aspectos por conta da pandemia do coronavírus, e um deles foi como alunos conseguiriam estudar para passar nos concorridos vestibulares do País, já que os exames permaneceriam, ainda que reformulados. Apesar de muitos finais tristes, a história teve um desfecho incrível para o sorocabano João Pedro Vilhena Cardoso, de apenas 20 anos.
Morador do Jardim Emília, na zona sul da cidade, o jovem estudou todo o ano de 2020 sozinho em casa e conseguiu passar em Medicina na Universidade de São Paulo (USP). E não foi “só” isso: ele passou em segundo lugar para o curso na capital, que tem concorrência de 154,6 candidatos por vaga.
João Pedro cursou todo o Ensino Médio em escola pública, na ETEC Rubens de Farias e Souza. No ano de 2019, fez o “Gera Bicho”, cursinho popular, e acabou aprovado em Medicina na Universidade Estadual Paulista (UNESP), mas o sonho era realmente a USP.
“Tentei procurar outros cursos, sabendo da dificuldade que era passar em Medicina, mas depois do cursinho percebi como eu gostava de biologia e da área da saúde. Passei na última lista de espera da UNESP e, mesmo assim, arrisquei estudar mais um ano para tentar a USP”, iniciou o estudante.
“Não sei muito bem o que eu senti... Ansiedade, misturado com medo, porque sabia que seria mais um ano difícil, muito cansativo, e logo depois começou a pandemia. Eu só conseguia pensar: se eu não passar desta vez, o que deixei para trás?”, complementou.
Afinco e descanso
Graças a seu esforço e dedicação, apoio da namorada, dos amigos e dos familiares, ele conseguiu montar um cronograma próprio de estudos.
“Em 2019 me sobrecarreguei muito. Em 2020 tentei relaxar mais. Pegava 11 horas por dia para estudar, mas dois dias na semana eu me dava o direito de descansar, ficar mais tranquilo. Na pandemia era difícil, mas via minha namorada, assistia alguma coisa, conversava com amigos por celular... Era a forma de manter a sanidade mental”, disse.
Como gostava de dormir até mais tarde, João Pedro organizava as matérias de acordo com o que ele considerava mais importante para a segunda fase do curso escolhido. Além disso, ele explorou bastante a internet, com vídeos no YouTube e também aulas online em cursinhos.
Cabelo comprido
João Pedro é filho da professora Eloísa Helena Galvão, com quem mora, e do operário José Jacob Vilhena Cardoso, residente de Votorantim. Caso não tivesse obtido a aprovação desejada, ele “aceitaria a faculdade que o chamasse”, que, no caso, poderia ser a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Os rituais conhecidos, como pintura do corpo, cabelo raspado e brincadeiras na rua, ainda não puderam ser realizados, afinal, uma terrível pandemia assola o mundo. Mas, ao que parece, ele está preparado para quando todos estiverem vacinados.
“Eu e minha mãe comemos muito doce para comemorar, pedimos comida, choramos. Não caiu a ficha ainda. Eu estou com muito cabelo ainda, viu? Está bem grande”, brincou.
Mesmo aprovado e matriculado, o primeiro semestre de 2021 do curso será, até segunda ordem, inteiramente remoto por conta da Covid-19. A partir de agosto, porém, ainda não se sabe se o agora estudante de Medicina terá aulas presenciais. Virtualmente, ele já mostrou que se vira muito bem, mas quer viver a experiência da faculdade da maneira que ela merece ser vivida: inteira. (Marina Bufon)