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Horto Florestal de Mairinque sofre com a falta de cuidados

26 de Fevereiro de 2020 às 00:01
Eric Mantuan [email protected]

Horto Florestal de Mairinque sofre com abandono Na antiga capela, as aranhas observam e estranham, ao redor, o movimento de pessoas que deixou de ser frequente por ali. Crédito da foto: Fábio Rogério (25/2/2020)

Um reduto de mata e parte importante do patrimônio histórico de Mairinque, na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), padece no abandono a poucos quilômetros do centro da cidade. Depois de um incêndio que destruiu a sua sede, em julho de 2017, pouca coisa mudou no Parque Municipal Antônio Anselmo, conhecido como Horto Florestal. O portão, mantido trancado pela Prefeitura de Mairinque, responsável pela área, esconde belezas naturais que teimam em continuar sobrevivendo mediante a falta de perspectivas para sua recuperação.

A situação comove o ex-ferroviário Francisco Antônio de Camargo. Dos 74 anos de sua vida, 19 foram vividos naquele local -- cuja origem remonta ao final do século retrasado, quando o Governo do Estado de São Paulo adquiriu uma gleba de 250 alqueires de terra para instalar a Estação Ferroviária de Mayrink, as oficinas de locomotivas da Estrada de Ferro Sorocabana, a vila ferroviária e realizar a extração de lenha para as locomotivas a vapor.

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Mais tarde, por volta da década de 1930, a Sorocabana passou a realizar o manejo da mata natural devastada, plantando e beneficiando eucalipto no agora Horto Florestal de Mayrink -- o principal dos onze que a ferrovia chegou a manter com essa finalidade. Além do plantio e corte das árvores, ali eram produzidas também as sementes para abastecer as outras unidades.

Horto Florestal de Mairinque sofre com abandono Francisco Antônio de Camargo. Crédito da foto: Fábio Rogério (25/2/2020)

“No Horto eu nasci e vivi até os 19 anos. Eram quase 50 pessoas vivendo aqui, cerca de 20 famílias. Estudava nos bancos de madeira, com ar puro, fazíamos piquenique. Aqui tínhamos uma escola onde fiz a primeira série em 1952. Eu não sei se vou morrer e ver tudo isso como era”, lamenta -- apontando para as hortênsias azuis que margeiam todo o caminho entre a portaria e a sede.

O tempo passou e não fez bem para o Horto Florestal. Conforme Francisco, o local está abandonado há quase uma década. Sobreviveu até a grandes enchentes, nos anos 2000, mas não ao esquecimento. No casarão que era ocupado pelo engenheiro-chefe, Jonas Zabrockis, parte do telhado caiu e todo o piso do primeiro andar está condenado. O local chegou a ser um museu, mas o acervo foi perdido, conta Francisco.

Outras duas edificações históricas da EFS -- o escritório do engenheiro Lessa e a residência do vigia -- estão em ruínas. Na antiga capela, as aranhas observam e estranham, ao redor, o movimento de pessoas que deixou de ser frequente por ali. O campo de futebol sumiu no mato. “E não era qualquer um que jogava ali. Só com a autorização do engenheiro”.

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Parque Municipal

Horto Florestal de Mairinque sofre com abandono Horto chegou a abrigar cerca de 20 famílias e hoje tem edificações em ruínas. Crédito da foto: Fábio Rogério (25/2/2020)

A Prefeitura de Mairinque adquiriu os 200 alqueires da área correspondente ao Horto Florestal em 1973 junto à Fepasa, sucessora da EF Sorocabana. Posteriormente o Horto passou a ser o parque municipal que leva o nome do avô de Francisco, ex-artífice da EFS. Seu pai, Salvador de Camargo, foi escriturário no local. A intimidade com o Horto Florestal fez com que Francisco, depois formado maquinista, ficasse conhecido na cidade como “Chico do Horto”. Especialmente por isso, lhe dói muito ver o estado de abandono.

Sua esperança, hoje, recai sobre as próximas gerações -- especialmente as crianças que participam das atividades de educação patrimonial promovidas pela Associação Mairinquense de Preservação Ferroviária (AMPF), entidade a qual preside. “Que cresça com elas o espírito da preservação da nossa memória e elas abracem o nosso Horto”, torce.

Parque aguarda verba estadual desde setembro

Horto Florestal de Mairinque sofre com abandono Crédito da foto: Fábio Rogério (25/2/2020)

Em setembro de 2019, o prefeito de Mairinque, Alexandre Peixinho, assinou um convênio com o Governo do Estado de São Paulo para liberação de verbas do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro) que pudessem ser aplicados no Parque Municipal Antônio Anselmo, buscando assim preservar as características da fauna e flora no local.

Na ocasião, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Mairinque, Manoel Carlos Justo, informou que a assinatura do convênio possibilitaria que a Prefeitura de Mairinque “estipulasse e definisse as diretrizes para a realização de obras no recinto”. Conforme ele, o Horto Florestal também seria cadastrado como Unidade de Conservação, tornando possível “a destinação de recursos financeiros provenientes de ações judiciais e compensações ambientais”.

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O jornal Cruzeiro do Sul solicitou outras informações sobre a recuperação do espaço à Prefeitura de Mairinque, mas as respostas não haviam sido encaminhadas pela Secretaria de Comunicação até o fechamento da edição.

FID

Em 2016, a cidade perdeu uma verba de R$ 3 milhões originária do Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos (FID) do Governo do Estado por perda de prazo de aprovação do projeto de recuperação do Horto pela Câmara dos Vereadores. A Prefeitura de Mairinque inclusive teve que devolver a primeira parcela de R$ 1 milhão que havia sido depositada na conta do convênio. (Eric Mantuan)

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