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Golpistas fazem ao menos 50 vítimas em sites de vendas de carros

01 de Março de 2021 às 17:03

Comércio on-line em São Paulo avança 6 anos em 6 meses Golpistas aplicam as fraudes a partir de anúncios de carros para venda em sites especializados. Crédito da foto: USP Imagens. Crédito da foto: Marcos Santos/ USP Imagens

Em 2020, ao menos 50 pessoas foram vítimas de golpes relacionados à compra de carros em sites especializados, em Sorocaba. A estimativa é do advogado e diretor-adjunto da subseção local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Murilo Raslz Cortez. Segundo Cortez, no ano passado, as fraudes causaram prejuízo de mais de R$ 1 milhão às vítimas. Os dados são baseados em atendimentos de casos desse tipo realizados pelo advogado. Para evitar cair nessas ações criminosas, os compradores devem tomar cuidados, como desconfiar de ofertas com preços muito baixos.

Os esquemas são aplicados em etapas, informa Cortez. Inicialmente, o proprietário de um automóvel, na tentativa de vendê-lo, o anuncia em sites especializados, em consonância com o valor de mercado. Posteriormente, um golpista entra em contato com o vendedor e se diz interessado em comprar o veículo. O suposto interessado faz uma proposta atrativa ao anunciante. A oferta consiste, majoritariamente, no pagamento à vista do preço estipulado. Sem saber tratar-se de fraude, o dono do carro começa a negociar com o suposto interessado. Com o avanço das tratativas, o golpista solicita ao vendedor a exclusão do anúncio, pois efetuará a aquisição.

Paralelamente, o criminoso clona o anúncio publicado pelo verdadeiro vendedor. Agora, oferece o veículo a preço inferior ao valor de mercado. A partir disso, o estelionatário consegue atrair as vítimas. Na sequência, coloca o interessado na compra em contato com o verdadeiro proprietário do veículo, para eles se conhecerem. Porém, pede para ambos manterem sigilo sobre as negociações. De acordo com Cortez, ele impede, especificamente, conversas sobre preço e condições do negócio. Para tanto, afirma ao vendedor que o comprador é seu parente ou cliente. O carro, justifica o criminoso, será repassado a essa pessoa como uma forma de quitação de uma dívida. A desculpa apresentada às vítimas é a mesma.

Na etapa seguinte, orienta os interessados a depositar o valor referente à compra do carro em contas bancárias. Muitas pessoas desconfiam do fato de essas contas serem de terceiros, e não do suposto vendedor. Quando questionado sobre isso, o estelionatário apresenta diversos pretextos e pressiona o comprador, sob ameaça de encerrar as negociações. De acordo com Cortez, não é possível precisar o total da verba movimentada com esses golpes. Contudo, estima ele, a soma dos valores ultrapassa R$ 1 milhão. "Tenho notícia de vítimas que depositam quantias inimagináveis em contas de terceiros, gerando enormes prejuízos. Um cliente, por exemplo, foi acionado por um comprador que depositou mais de R$ 40 mil; outro transferiu mais de R$ 25 mil para comprar um veículo anunciado", destaca.

Após o repasse do dinheiro, a vítima entra em contato com o legítimo dono do veículo, para exigir a entrega dele e a efetuação de todos os outros procedimentos relativos à venda de automóveis, como a transferência da documentação para o seu nome. O verdadeiro vendedor se recusa a conceder o carro, pois não recebeu o pagamento. Na verdade, a quantia foi paga para o criminoso. Nesse momento, as pessoas percebem ter sido vítimas de fraude.

Com uma vítima, que preferiu não ser identificada, o golpe ocorreu exatamente desta forma. Em agosto de 2020, o vendedor anunciou o seu veículo em duas plataformas digitais. Cerca de 20 dias depois, recebeu uma mensagem no WhatsApp de um possível comprador. O interessado, conta, se identificou como o presidente da subseção local da OAB, Márcio Leme.

Durante três dias, o golpista manteve contato com ele e conduziu as negociações. No terceiro dia, fechou o negócio e pediu os dados bancários dele, para realizar o pagamento. O criminoso informou ao anunciante que repassaria o carro diretamente para um cliente, como forma de pagamento de uma dívida. "Ele disse ter um débito com um cliente, relativo a uma causa, e que compraria o carro e repassaria para ele (cliente), para pagar essa conta", relata. Por esse motivo, orientou o vendedor a não conversar com o comprador sobre detalhes da negociação, como o preço de comercialização, quando ele fosse averiguar a situação do automóvel.

No mesmo dia da venda, o interessado, apresentado ao anunciante como o cliente para o qual o suposto advogado, responsável por intermediar a venda, daria o veículo, foi ao local de trabalho do vendedor, para ver o carro pessoalmente. Igualmente instruído pelo golpista, o homem não fez nenhuma pergunta sobre as tratativas. Ele, inclusive, mentiu o próprio nome, conforme orientado pelo estelionatário.

Em seguida, ambos foram até um cartório de Sorocaba, no intuito de efetuar a transferência da documentação veicular para o nome do novo proprietário. No entanto, ao verificar em sua conta bancária, o dono do automóvel percebeu não ter sido efetuado o pagamento. O comprador, por sua vez, disse ter depositado entre R$ 40 e R$ 50 mil em três diferentes contas, mas nenhuma delas estava na titularidade do vendedor.

Como já havia entregado o carro ao homem, o anunciante não conseguiu recuperá-lo, pois ele se negou a entregá-lo. Diante dessa situação, o proprietário tentou contatar novamente o golpista, mas ele não o atendeu e o bloqueou no aplicativo de troca de mensagens. Desta forma, ligou para a OAB, com o objetivo de falar com o suposto advogado responsável pela intermediação da negociação. Foi quando, finalmente, descobriu ter caído em uma fraude.

Assim, ele registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil e acionou a seguradora, para recuperar o carro. O veículo foi apreendido e está em posse da polícia. A vítima ajuizou um processo judicial para tentar reavê-lo. A ação segue em tramitação. O comprador, afirma o proprietário, não integra a quadrilha e também foi lesado.

Quadrilha

Conforme Cortez, o golpista não age sozinho, mas, sim, com o apoio de uma quadrilha. Para desenvolver as ações criminosas, o grupo utiliza, geralmente, identidades de pessoas reais, em especial, de figuras conhecidas, como Marcio Leme, para passar credibilidade. A identidade de Leme já foi indevidamente utilizada em mais de 20 casos. O grupo usa informações públicas e até mesmo um RG falso dele, detalha Cortez.

Além de se atentar ao perfil do vendedor, o comprador deve desconfiar de veículos anunciados com preços abaixo dos praticados no mercado; suspeitar de negociações intermediadas por terceiros; de negócios em que o intermediário solicita o sigilo e a colaboração do interessado; e não efetuar depósitos ou pagamentos em contas bancárias cuja titularidade não seja do dono do carro, exceto se ele pedir, orienta Cortez. (Da Redação)