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Furtos e roubos provocam insegurança na região da rodoviária

06 de Dezembro de 2018 às 06:30

Insegurança e temor Vítimas de furtos e roubos associam os atos à presença de usuários de drogas, principalmente no período noturno. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Um imóvel da rua Pandiá Calógeras, próximo à rodoviária de Sorocaba, abrigava um salão de beleza quando foi invadido por ladrões em fevereiro deste ano. Como resultado, além de roubarem de fiação a tomadas e instrumentos de trabalho, os bandidos deixaram um rastro de destruição com partes do forro estouradas, vidros quebrados, portas arrombadas. O salão foi desativado e até agora o imóvel está do jeito que os ladrões o deixaram.

O pior é que este não é um caso isolado. A região no entorno da rodoviária e do Hospital Regional (onde fica o Jardim Vergueiro), até a avenida Dom Aguirre (onde está localizado o bairro Lageado), tem sido alvo de muitas reclamações referentes a furtos e assaltos, arrombamentos de imóveis, usuários de drogas e flanelinhas.

O clima de medo de moradores e comerciantes os obriga a pedir para não serem identificados. Os relatos descrevem sequências de crimes contra imóveis e pessoas físicas praticamente diários, e que acontecem com mais frequência nas noites e madrugadas. A Secretaria da Segurança Pública do Estado informa que 14 pessoas foram presas neste ano por furtos a comércios e residências nessa região da cidade, e a Prefeitura informa que a Guarda Civil Municipal (GCM) vai intensificar o patrulhamento na região “ainda mais”. Veja texto abaixo.

E não se trata de uma região periférica da cidade. Vizinha do Centro, localiza-se a meio caminho entre a área central e o Campolim, uma das regiões mais valorizadas do município. O entorno da rodoviária e Hospital Regional também tem perfil de intensa movimentação de pedestres e veículos. É local que abriga várias clínicas de saúde, consultórios médicos, escritórios em geral, bares, pequenos hotéis e pousadas, repúblicas de estudantes, sedes de sindicatos. Moradores antigos, muitos deles idosos, completam esse cenário.

Três roubos à mão armada e 20 furtos

Insegurança e temor Entorno da rodoviária também é inseguro durante o dia; à noite, a situação piora. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Outro comerciante, após sofrer três roubos à mão armada, mudou o ponto comercial para outra rua do bairro. Nesse novo local, onde está há 12 anos, calcula que já sofreu pelo menos 20 furtos. “Tem alarme, câmera, não adianta, eles pulam, invadem”, diz o comerciante. “Entram pelo forro, vêm direto ao caixa, e é só prejuízo. O prejuízo maior é psicológico. E estresse. Ter que vir aqui duas, quatro horas da manhã para ver o que aprontaram. Não temos sossego.” Ele diz que a situação piorou desde o ano passado.

Neste ano, durante a obra de construção de uma escola infantil, por duas vezes pedreiros tiveram ferramentas e outros materiais roubados. Quando a escola ficou pronta, no dia da inauguração os donos depararam com o rastro de destruição. “Levaram chuveiro, peças de porta, aparelhos da Net”, conta uma funcionária, que reivindica “uma vigilância melhor” no Jardim Vergueiro.

Há um mês, dois estudantes de escola pública foram atacados por um ladrão próximo à rodoviária, por onde passavam na volta para casa após saírem do estabelecimento. Um deles, de 19 anos, teve o celular roubado nessa ação, foi empurrado ao chão e conseguiu correr. “O cara deu um chute nas costas do meu irmão”, descreve a irmã da vítima, que também não se identifica por segurança. “Ele chegou em casa em choque, não quer mais passar naquela rua”, ela acrescenta. Como prevenção, o estudante solicitou à direção da escola para autorizar sua liberação meia hora mais cedo.

Bar e lanchonete têm sequência de ataques

Insegurança e temor Em setembro, ladrões estouraram a parede do bar; em outubro, arrombaram a porta do estabelecimento. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Em setembro deste ano, também na rua Pandiá Calógeras, uma parte da parede de um bar foi estourada com uso de caibro para dar passagem a ladrões, que roubaram 300 maços de cigarros. O dono do bar fechou o local arrombado com o reforço de duas paredes paralelas de tijolos, entremeadas por uma grade de ferro. Mas no mês seguinte, em outubro, os ladrões entraram no bar novamente, desta vez com o arrombamento da porta. Levaram cigarros e dinheiro. O prejuízo maior foi o conserto da porta.

Recentemente, o alvo foi uma lanchonete da avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira. Os bandidos entraram pelo telhado, abriram a geladeira, consumiram queijos e levaram doces. Há um mês, na rua Conde D’Eu, entraram pelos fundos de uma casa e roubaram TV de plasma, faqueiro antigo de valor familiar e outros objetos. Segundo vizinhos, desiludida com a situação, a moradora da casa mudou-se para Salto de Pirapora.

“Esse bairro está perdido, não estava assim”, queixou-se um comerciante. Há duas semanas, outro ponto comercial, na rua Pandiá Calógeras, foi invadido por ladrões. Arrombaram a porta da frente e levaram um notebook. Funcionários do local se queixam de que é frequente a entrada de moradores de rua que pedem dinheiro, água e remédios, quase sempre pomada.

“Falta segurança à noite, está demais”, reclama outro comerciante. Um prestador de serviços, referindo-se aos usuários de drogas, protesta: “A cracolândia de Sorocaba é aqui.” E ele ainda descreve: “A gente está sendo caçado pelos bandidos.” Ele usa 10 cadeados para trancar a porta do seu estabelecimento, na rua Salvador Correia, mas mesmo assim não confia no reforço da proteção. Por cautela, todo início de noite, quando encerra o expediente, tem o trabalho de guardar no carro os instrumentos de uso no atendimento aos clientes e na manhã seguinte os traz de volta.

Segundo ele, esse comportamento já é praticado por outros comerciantes, que às sextas-feiras retiram os materiais de trabalho e os trazem de volta às segundas-feiras. Preferem gastar tempo, esforço e paciência para desinstalar e reinstalar equipamentos a tê-los roubados e amargar os prejuízos. Há 40 dias, ele também foi vítima de ladrões.

Vigilância voluntária, dia e noite

Insegurança e temor Empresas de comércio e serviços e residências estão entre os principais alvos dos bandidos. Crédito da foto: Erick Pinheiro

Em meio a esse clima, um morador da rua Salvador Correia faz uma vigilância voluntária da sua janela, que tem visão para a via pública, e fica antenado em grupo de WhatsApp dos moradores. De madrugada, deixa filmes ligados no volume mais alto. “Para dizer que tem alguém acordado”, explica. “A cada filme que termina, abro a janela e solto um berro para a rua para mostrar que estou atento.” Na rua deserta, às vezes vagam pessoas sozinhas, outras vezes em bandos.

Na última quinta-feira, enquanto a reportagem conversava com moradores, pedestres e comerciantes, o filho de uma mulher que mora no bairro do Vergueiro perguntou: “Você é do Cruzeiro do Sul? Vê se ajuda o pessoal, está uma bagunça isso aqui.” E uma mulher, que terminava o expediente e voltava para casa, contou: “Um dia desses roubaram um cachorrinho de raça de uma mulher. Só com a guia na mão, ela correu e apelou por socorro a um segurança.” Não há informação de que tenha recuperado o animal.

Na rua dos Andradas, próximo ao Regional, a reclamação é referente a usuários de drogas e flanelinhas. Eles intimidam quem mora, tem comércio ou mesmo precisa estacionar no local. Em alguns pontos há sujeita e dejetos. Na região da rua Júlio Hanser o problema também tem sido recorrente. Os usuários ficam pelas ruas abordando moradores e transeuntes. Há brigas constantes nos grupos.

Polícia prendeu 14 por atos na região

A Polícia Civil prendeu, neste ano, 14 pessoas por furtos a residências e comércios na região citada, informou a Secretaria de Estado da Segurança Pública. “As ações integradas das Policias Militar e Civil resultaram na queda de 21% e 6% dos roubos e furtos, respectivamente, de janeiro a setembro deste ano, em relação ao ano anterior”. “Sobre o tráfico de drogas, a polícia realiza ações junto à Secretaria de Assistência Social para encaminhar os usuários às suas cidades de origem ou para suas famílias.”

Por sua vez, no âmbito de sua competência de atuação, a Prefeitura informou que com relação aos “flanelinhas”, trata-se de atividade de trabalho sem regulamentação, havendo ilícito somente se houver constrangimento ou coação do motorista na obtenção da remuneração solicitada, sendo necessário a comunicação dos fatos à PM ou GCM. “De qualquer maneira, ao que compete à Guarda Civil Municipal (GCM), será intensificado o patrulhamento na região”.

Ontem, durante a Operação Dignidade na região da rodoviária e avenidas Barão de Tatui e General Carneiro, 17 moradores de rua foram abordados por equipes das Secretarias de Igualdade e Assistência Social (Sias), de Segurança e Defesa Civil (Sesdec) e da Saúde (SES), com o apoio da Polícia Militar, da Polícia Civil, da Guarda Civil Municipal e do Serviço de Obras Sociais (SOS). Três delas aceitaram ser encaminhadas para serviços de acolhimento, já que o atendimento é oferecido e não imposto. Os locais em que as ações acontecem são definidos por meio de denúncias e solicitações de atendimento para a Sias pelo telefone (15) 3219-1920 ou para o SOS, através do número (15) 3229-0777.

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