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Funcionários do Samu relatam as condições de trabalho ao MP-SP

06 de Janeiro de 2021 às 01:13

Funcionários do Samu relatam as condições de trabalho ao MP-SP Higienização e limpeza, antes terceirizadas, agora são feitas pelos próprios servidores do Samu. Crédito da foto: Agência Sorocaba (3/3/2016)

O motorista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Sorocaba George Luis de Camargo, de 39 anos, morreu na última segunda-feira (4) de Covid-19. A morte do profissional levanta dúvidas sobre as condições de trabalho e a proteção oferecida aos profissionais que atuam na linha de frente do socorro de urgência e emergência na cidade.

O estresse devido ao alto risco de contaminação pelo novo coronavírus e a exaustão pela jornadas excessivas, que chegam a 35 dias trabalhados sem folga têm feito parte do cotidiano dos profissionais do Samu em Sorocaba.

As condições enfrentadas por esses servidores que, por consequência se refletem no atendimento à população, foi denunciada pelos próprios funcionários ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) no dia 14 de dezembro de 2020.

O setor de comunicação da Promotoria, que trabalha em esquema de plantão, informou que estava de recesso desde o dia 19 de dezembro até esta quarta-feira (6) e por isso não pode informar se um inquérito foi aberto para apurar as supostas denúncias e que medidas serão tomadas.

Sem limpeza terceirizada

Funcionários do Samu relatam que, no segundo semestre de 2020, a Prefeitura de Sorocaba cancelou o contrato que mantinha com a empresa especializada em limpeza e higienização das ambulâncias.

Desde então, essa tarefa passou a ser feita pelos próprios profissionais da base do Samu, o que teria aumentado a vulnerabilidade das equipes à exposição à Covid-19.

A Prefeitura de Sorocaba, por meio da Secretaria de Comunicação, informa que o contrato de higienização das viaturas encerrou no dia 16 de novembro de 2020.

Após o encerramento, a limpeza começou a fazer parte do protocolo de enfermagem já estabelecido pelo serviço operacional do Samu.

Sem previsão

A Prefeitura não informou se vai contratar uma nova empresa para realizar esse tipo de serviço, mas disse que a nova gestão da Secretaria de Saúde (SES) avalia as necessidades e as soluções possíveis que deverão ser implantadas brevemente.

Na representação endereçada ao MP-SP, os servidores relatam falta de manutenção corretiva e preventiva da frota, “aproximadamente oito veículos parados por pelo menos quatro meses para manutenção”, e que outros veículos deixam de ser usados por falta de profissionais como médicos, enfermeiros, técnicos ou condutores.

A representação lembra que, desde meados do ano passado, com o aumento da demanda, a Prefeitura tem redirecionado o contrato de atendimento de transporte eletivo de pacientes das chamadas “ambulâncias brancas”, mais simples, para o atendimento do transporte de urgência e emergência, o que, segundo eles, é um desvio de finalidade.

Há mais de seis meses

A situação já havia sido relatada pelo Cruzeiro do Sul em mais de uma ocasião, a partir de 19 de junho de 2020. Nas ocasiões das reclamações, ao menos duas ambulâncias “brancas” estavam substituindo as “vermelhas” -- específicas ou adesivadas para Samu, o que inviabilizaria o atendimento de ocorrências mais graves.

Atualmente, segundo a SES, o Samu conta com nove ambulâncias para prestar assistência à população, sendo duas de Suporte Avançado (Alfa), duas de Suporte Básico (Beta) e cinco de simples remoção (ambulância branca). Há três ambulâncias Beta em manutenção.

A SES admite que estão lotados no Samu aproximadamente 130 funcionários assistenciais e que seria preciso mais 38 servidores para atender as demandas e coberturas. A pasta, no entanto, não respondeu se pretende abrir concurso público para preencher as vagas ou se estuda terceirizar o serviço.

Déficit em recursos humanos

Outro problema relatado pelos funcionários ao MP é o déficit de profissionais, que têm obrigado os motoristas a realizarem horas-extras em praticamente todos os finais de semana. Em nota, a SES diz que o regime de contratação dos motoristas do Samu é de 40 horas semanais, 5 por 2, em turnos de 8 horas por dia e fim de semana com hora extra, “conforme disponibilidade e por solicitação do servidor”.

A prefeitura foi questionada sobre quais medidas pretende tomar para resolver o problema das jornadas; se é favorável ou contrária à terceirização do serviço e se pretende realizar concursos para o aumento de pessoal, mas não respondeu.

Homenagens

Na manhã desta terça-feira (5), em uma cerimônia de transferência de veículos do secretariado municipal para a Secretaria da Saúde, que teve a presença do prefeito Rodrigo Manga (Republicanos), foi respeitado um minuto de silêncio em homenagem a George Luis de Camargo.

O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Sorocaba (SSPMS) publicou nota de pesar pelo falecimento do servidor e informou que “presta condolências aos familiares, amigos e Samu enlutados pela irreparável perda”. Camargo deixou dois filhos, sendo um adolescente de 15 anos e uma bebê de 4 meses de idade. (Felipe Shikama)

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