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Feiras livres resistem, apesar da concorrência, inclusive da internet

03 de Fevereiro de 2019 às 12:35
Ana Claudia Martins [email protected]

Projeto avalia limpeza nas feiras livres Mesmo com tanta concorrência, ferias continuam na vanguarda. Crédito da foto: Emidio Marques / Arquivo JCS (31/12/2015)

Apesar dos avanços dos varejões, supermercados, hipermercados, e até a facilidade em fazer compras pela internet, os sorocabanos não deixam de frequentar as mais de 40 feiras livres existentes em Sorocaba e que estão espalhadas por diversos bairros. As feiras funcionam de terça a domingo, das 7h às 12h, e além da variedade de produtos hortifrutigranjeiros, como frutas, verduras e legumes, ovos e peixes, é possível encontrar em algumas delas diversos outros produtos, como roupas, bolsas, cintos, brinquedos, utensílios domésticos, óculos de sol, esmaltes, e ainda doces em potes, queijos e o tradicional pastel de feira.

Há feira livre que o consumidor encontra ainda produtos de mini armarinhos, sapatos, meias, artigos para pet, condimentos e plantas naturais. Enfim, quase tudo é possível comprar nas feiras livres da cidade. Sem falar na praticidade também de algumas bancas, que ainda oferecem a possibilidade de pagamento com cartão de débito ou crédito.

Segundo um levantamento divulgado pela Prefeitura de Sorocaba em novembro do ano passado, a cidade já contava com mais de 400 feirantes atuando nas feiras livres espalhadas pelos diversos bairros, abrangendo praticamente todas as regiões da cidade. Em outubro de 2018, por exemplo, 32 novos empreendedores iniciaram suas atividades nas feiras livres. De acordo com a Secretaria de Abastecimento, Agricultura e Nutrição (Seaban), as feiras são diversificadas sem perder em nada na qualidade e na sua finalidade. A previsão da pasta é que em abril deste ano seja aberto edital para o chamamento de novos feirantes.

Recadastramento

Com o surgimento de novos bairros residenciais, por exemplo, a cidade acabou ganhando mais feiras livres, como ocorreu em novembro de 2017 com mais três: sendo uma no Parque dos Eucaliptos, a do Residencial Carandá, e no Parque Vitória Régia. De acordo com a Seaban, na ocasião, 130 novos feirantes se beneficiaram com a abertura de mais três feiras livres em Sorocaba.

A Seaban também está convocando 11 feirantes para o recadastramento 2019, e o prazo termina amanhã Os feirantes que não comparecerem à Seção de Feiras e Mercados para o recadastramento ficarão em situação irregular, sujeitos à fiscalização, e as vagas poderão ser disponibilizadas para outros interessados. O edital de chamamento e a relação dos profissionais convocados foram publicados na página 2 do Jornal Município de Sorocaba de quarta-feira (30). Mais informações pelo telefone: 3237-7100.

Onde elas funcionam

Desde março de 2017, a Prefeitura de Sorocaba disponibiliza a ferramenta digital chamada “Feiras Mapas Sorocaba”, que é um sistema para localização de feiras livres e varejões orgânicos pela internet. Com acesso gratuito, o aplicativo também mostra os dias de funcionamento e os tipos de feiras ao consumidor. Disponível tanto no site como na fanpage da Secretaria de Abastecimento e Nutrição, a ferramenta possui suporte mobile e pode ser acessada pela maioria dos smartphones.

Além das tradicionais feiras livres, a cidade conta ainda com pelo menos duas feiras de orgânicos, que ocorrem todos os sábados, pela manhã, no Parque Natural Chico Mendes, na avenida Três de Março, na zona leste, e no Parque Carlos Alberto de Souza, no Campolim, na zona sul. Para saber os endereços das feiras livres de Sorocaba, basta acessar o mapa com a listagem.

Novas vagas para permissionários nas feiras livres de Sorocaba - FELIPE PINHEIRO/SECOM SOROCABA Trabalho dos feirantes começa de madrugada. Crédito da foto: Felipe Pinheiro / Secom Sorocaba

 

Tem de madrugar

Darcy Mozer, 59 anos, também está na profissão de feirante há bastante tempo. Ele conta que atua em feiras livres na cidade há pelo menos 35 anos. “Faço feira de terça, quarta, quinta, sábado e domingo, ou seja, cinco vezes por semana. Antes fazia de sexta também no bairro Árvore Grande, mas não faço mais lá”, conta. Segundo ele, a profissão de feirante começou com a indicação de um amigo e Darcy trabalha com seus familiares. “Trabalho com minha esposa, meu genro e meu filho. Os familiares sempre ajudam, não tem jeito”, diz.

A rotina começa bem cedo para Darcy. Ele afirma que nos dias que vai trabalhar na feira acorda às 2h30 e começa os preparativos. “Demora um pouco para montar a barraca e preparar tudo. Depois para desmontar é bem mais rápido”, afirma.

Darcy conta que compra a maioria dos produtos que vende nas feiras na Ceagesp e em alguns casos há produtores que levam os produtos na casa dele. “A gente não tem muita folga. Quanto não está trabalhando nas feiras, tem que comprar os produtos no Ceagesp, então, fica corrido, porque lá também tem que chegar cedo, por volta das 5h”, diz. Segundo ele, o único dia que dá para descansar um pouco é na segunda. “É puxado a feira. A gente acaba não tem muito descanso no final de semana”, diz.

Apesar da correria, Darcy diz que não se imagina em outra profissão. “Hoje em dia as pessoas têm muitas opções para fazer suas compras. Tem supermercados, padarias, mercearias, e os horários são bem flexíveis. Antigamente não era assim, então, as pessoas tinham mais o costume de acordar cedo e ia à feira. Hoje isso mudou um pouco, mesmo assim é bom trabalhar na feira”, pondera. Para ele, o lado bom das feiras é a convivência e amizade que acaba fazendo com os clientes que costumam frequentar a feira semanalmente. “A gente acaba fazendo amigos e conhece muita gente. Esse contato com as pessoas é muito bom”, afirma.

Produtos frescos atraem clientela. Crédito da foto: Emídio Marques

 

De geração a geração

Na manhã de ontem, a equipe de reportagem do Cruzeiro do Sul percorreu a feira livre do Largo do Líder/Vila Santana e conversou com dois dos mais antigos feirantes que trabalham no local. A feira do Líder, que é popularmente conhecida, antigamente era maior e ocupava mais ruas do que as atuais. Mesmo assim, a feira ainda é bastante procurada pelos moradores do bairro e do entorno.

Um dos mais antigos feirantes é Jorge Matushima, 71 anos. Ela conta que começou a trabalhar nas feiras livres em Sorocaba ao lado do pai, que já era feirante, e pegou gosto pela profissão. Atualmente também trabalha ao lado da esposa, do irmão e demais familiares. “Meu pai era feirante, então, acaba sendo uma tradição que passa de pai para filho”, diz.

Jorge afirma que sua rotina começa por volta das 4h da manhã nos dias que ele vai trabalhar nas feiras livres. Atualmente ele conta que trabalha em quatro feiras por semana, sendo uma na terça, outra na quarta, no sábado e no domingo. “Na segunda a gente descansa. É nosso dia de folga. Nos demais estamos na feira ou ainda no sítio trabalhando”, diz.

Nas feiras, ele conta que é preciso chegar cedo para montar a barraca e preparar as frutas e verduras em exposição para a venda aos clientes, muitos aliás conhecidos há vários anos, já que Jorge é um dos feirantes mais antigos na feira do Líder. Alguns consumidores ele sabe até o nome. “A gente acaba conhecendo alguns fregueses nas feiras, pois como trabalho há muitos anos nessa atividade, acaba fazendo algumas amizades”, diz.

Segundo Jorge, são quase duas horas para montar a barraca na feira e preparar tudo antes dos clientes chegarem, por volta das 7h. “Para desmontar não demora tanto, como a gente vende quase tudo, é mais a parte de limpar, desmontar e guardar o que sobrou, além da barraca”, diz.

O feirante afirma ainda que ele planta a maioria das frutas e verduras que ele vende na feira em um sítio da família que fica em Votorantim. “A gente trabalha sem parar, quando não estamos nas feiras, eu ainda trabalho nas minhas plantações no sítio”, conta. Jorge afirma que planta frutas como caqui e carambola, além de folhagens como couve, rúcula e outras.

Questionado se ele gostaria de mudar de profissão, Jorge sorri e diz que não. “Agora com 71 anos não tem mais como mudar. Eu sempre fiz isso, e meu pai já fazia”, diz. Sobre o fato da feira receber menos consumidores do que antigamente, Jorge afirma que antes não havia tantos supermercados como atualmente. “Hoje tem bastante supermercados pela cidade, eles abrem aos domingo também, então, ficou mais fácil para os clientes”, aponta. Além da feira livre do Líder, Jorge monta barraca também nas feiras na praça Frei Baraúna, Vila Santana e Santa Maria. (Ana Cláudia Martins)