Falta de pacientes a consultas ou exames chega a até 40% nas UBSs de Sorocaba
Na Vila Hortência, de cada 10 pacientes que marcaram consultas para atendimento de odontologia no ano passado, 4 não compareceram. Crédito da foto: Emidio Marques / Arquivo JCS (16/3/2019)
O absenteísmo (falta) do paciente a consultas ou exames chega a 40% em algumas unidades de saúde de Sorocaba, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SES). Em 2019, foram mais 270 mil faltas. Os dados fazem parte de um levantamento solicitado pelo jornal Cruzeiro do Sul na semana passada e divulgado durante a audiência pública de prestação de contas da Saúde na Câmara de Sorocaba, na quarta-feira (26).
Para os dados, a SES divide a cidade em três regiões, sendo leste, oeste e norte. E é da região leste que vem o maior índice de absenteísmo da rede. Trata-se dos casos de atendimentos de odontologia da Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Hortência. Lá, 896 pessoas faltaram a seus compromissos médicos, o que corresponde a 40,13% do total. Ou seja. de cada 10 pacientes que marcaram consultas referentes à odontologia no ano passado, 4 não compareceram.
Também está relacionado a atendimentos de odontologia o segundo maior índice de falta na rede municipal de saúde. Trata-se dos dados da Unidade Básica de Saúde do bairro Carandá. Foram 638 faltas no ano passado, sendo que o índice de falta de é 39,07%. A UBS, embora esteja na chamada zona norte de Sorocaba, administrativamente está localizada na área chamada de regional oeste.
O terceiro maior índice vem da regional leste, mas para os atendimentos gerais da UBS Escola, que fica na avenida Comendador Pereira Inácio, nas proximidades do Hospital Regional velho. O índice de falta no local foi de 38,92% em 2019.
Média
Na média, a regional norte é que apresenta o maior número de faltas para os atendimentos gerais. Nas 10 unidades de saúde do local, foram 70.961 faltas. O número corresponde a 24,37% do total de vagas ofertadas. O segundo maior índice está na regional leste, com 23,34% de falta do total de vagas ofertadas. Em números, foram 82.628 faltas em suas 11 UBSs. Por fim, na regional leste e falando dos atendimentos gerais, o porcentual foi de 20,52%. Foram registradas 63.925 em 2019 nas nove UBSs da regional.
Já nos casos de odontologia, foram registradas 8.658 faltas na regional leste, ou 24,23% do total. No mesmo quesito, a regional oeste registrou 25,64% de falta, ou 7.870 ausências. No caso da regional norte, o índice foi de 22,24%, com 7.493 faltas.
Policlínica
Já o absenteísmo relacionado às consultas de especialidades e procedimentos na Policlínica foi de 15,19% do total de 171.731 vagas oferecidas no ano passado. Para se ter ideia, em 2018 foram oferecidas 134.701 vagas com 12,49% sobre as vagas.
As faltas nas consultas odontológicas de especialidades, em 2019, foram menores que os registros de 2018. Entretanto, ainda assim foram 3.416 registros de ausências. Em percentuais, o índice foi de 23,60% em 2018 contra 21,82% em 2019. Os dados englobam os atendimentos do Serviço de Atendimento Municipal Especializado (Same).
Prejuízo
Somando o total de faltas nas 32 UBS de Sorocaba, contanto com os atendimentos odontológicos e as faltas na Policlínica, foram 271.036 faltas a consultas e exames em Sorocaba, em 2019. Conforme o secretário de Saúde de Sorocaba, Ademir Watanabe, o problema gera prejuízos em diversos âmbitos para a saúde municipal. “Toda vez que a gente disponibiliza uma vaga, essa vaga tem um custo. É utilizado um recurso financeiro público”, lembra.
Ele preferiu não falar em valores. “Teria que se fazer um levantamento para saber quanto cada profissional custa para a Secretaria de Saúde, quanto aquele procedimento que deixou de existir custaria para nós. Não é questão de economia. É questão de você disponibilizar o recurso da forma mais correta e adequada para a população”, pondera.
Conforme ele, o prejuízo não é só para quem falta. “Quando essa pessoa falta, esse paciente não está deixando que outra pessoa utilize essa vaga. Não é só ela que se prejudica. Ela prejudica também outro paciente. O prejuízo é duplo. Se ela não pode ir, que ela disponibilize a vaga para outra pessoa”, apela. “Que eu possa utilizar essa vaga, principalmente nos mutirões, que eu tenho um número muito maior de faltas”, complementa. Ainda conforme o secretário, a falta prejudica o acompanhando do próprio paciente.
Uma fonte ouvida pela reportagem, sob a condição de anonimato, e que já atuou como secretário municipal na Prefeitura de Sorocaba, avaliou os números e chegou a um montante. De forma simples e sem considerar variantes, o prejuízo anual para os cofres municipais, em 2019, com as ausências, foi estimado em aproximadamente R$ 12 milhões.
Entretanto, ele faz algumas ponderações. “Quando marca a consulta não existe um acompanhamento para avisar o paciente. Com a demora, ele acaba procurando uma UPA ou UPH. Se o caso se agrava, vai para a hospitalização, que é mais caro. O sistema é ruim”, afirma. Ainda conforme ele, é preciso trabalhar mais o atendimento primário.
Por fim, conforme ele, com a demora, em muitos casos, os pacientes apelam para familiares ou para clínicas populares. (Marcel Scinocca)