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População de Sorocaba esperou pelos ônibus que não apareceram

14 de Junho de 2019 às 14:46

Os terminais amanheceram vazios. Foto: Emídio Marques

Sorocaba amanheceu sem nenhum ônibus circulando nesta sexta-feira (14) e muitas pessoas contaram que foram pegas de surpresa pela paralisação, que faz parte da greve geral convocada por centrais sindicais de todo país, contra a Reforma de Previdência e o contingenciamento de verbas na Educação. Por volta das 6h30 o fluxo de carros na zona industrial da cidade era intenso, pois diante da falta de ônibus, muitas pessoas tiraram os carros da garagem. Outras decidiram ir caminhando, buscaram caronas ou decidiram pedalar.

O doceiro João Carlos Castro Junior, 32, precisava chegar às 8h ao trabalho, em uma confeitaria na Vila Haro e por isso chegou às 7h até a área transferência do Éden. Ele conta que desde o início da semana sabia da paralisação e na quinta-feira entrou em contato com a Urbes para confirmar a circulação de parte dos ônibus, conforme determinou a Justiça. “Sei que a greve contra a reforma da Previdência, que é uma causa justa para o trabalhador, mas é justamente a gente que se prejudica”, disse o rapaz, que ao perceber que nenhum coletivo estava circulando, decidiu voltar para a casa.

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Já a haitiana Betina Estimarre, 32, trabalha com reciclagem e como já sabia da paralisação, combinou com o patrão para que ele a buscasse próximo a sua casa, também no Éden. “Eu só sabia que não teria ônibus porque vi na televisão e aí já foi feito um esquema para levar todo mundo pro trabalho”, contou a mulher, que desconhecia o motivo da greve.

As auxiliares de serviços gerais Vera Aparecida Iris dos Santos, 37, e Iracelma da Silva Almeida, 48, estavam em um ponto de ônibus na zona industrial desde às 5h. As duas trabalham em unidades educacionais do município. “Eu sou auxiliar no CEI 75, na zona norte e vim para o ponto porque achei que teria ônibus. Eu sei que é uma paralisação nacional contra mudança na Previdência, mas acho que poderiam falar logo que não teria nenhum ônibus.” Iracelma também está ciente do motivo da greve e acha justo o movimento. “Só espero não ter o dia descontado”, disse a trabalhadora, que acabou desistindo da espera e avisou por mensagem que não conseguiria chegar até a escola, no bairro Paineiras.

Vera e Iracelma. Foto: Emídio Marques

O frentista Jean Emmanuel Pierre, 31, reside no Éden e trabalha em um posto de gasolina ao lado do condomínio Ibiti do Paço. “Eu sou haitiano e não entendi exatamente a greve, mas sabia que não teria transporte. Meu gerente falou para eu vir ao ponto e tentar pegar um ônibus”, contou o rapaz que vive há cinco anos em Sorocaba. Após três horas de espera, Jean também não conseguiu chegar ao local de trabalho.

Poucas pessoas circularam no entorno do terminal São Paulo, que permaneceu fechado durante toda a manhã. A estagiária Evelin Derlan, 19, relata que sabia da paralisação, mas pensou que parte dos ônibus circularia e conseguiria chegar ao trabalho, no Campolim. Na catraca do terminal ela foi informada por funcionários que não haveria transporte. “Vou voltar para a casa, mas sei que a greve é para que no futuro a gente consiga se aposentar”, afirmou a estudante.

A vendedora Cristina de Jesus, 54, tem uma banca de doces na entrada do terminal Santo Antônio há 25 anos e conta que já sabia que ocorreria a greve. “O país está caótico e as pessoas precisam fazer alguma coisa, mas deveriam cumprir a determinação da justiça e manter alguns ônibus rodando”, disse a autônoma, que calculou prejuízo diante do fechamento do terminal e pouca circulação.

Rodoviária

A rodoviária de Sorocaba abriu nesta manhã, mas os guichês das empresas de ônibus permaneceram fechados, funcionando somente as lanchonetes do local.

Luiz Barbosa, 50, contou que saiu na quinta-feira, às 21h25, de Prudentópolis, no Paraná e chegou ontem às 5h no terminal rodoviário. “Ninguém me falou lá que teria essa paralisação”, reclamou. Ele trabalha dirigindo tratores na cidade de Saltinho, mas para chegar até lá ainda precisaria pegar um coletivo para Piracicaba e outro para seu destino final. “De táxi fica muito caro. São 109 km de distância. Vou ver se alguém da empresa vem me buscar. De qualquer forma, preciso ter paciência.” O trabalhador disse que não viu nenhuma notícia sobre a Greve Geral e se posicionou contra o movimento.

Cida e sua família. Foto: Emídio Marques

Já a família de Cida Lima, 43, tinha programado para esta sexta-feira a mudança para Pernambuco. Com muita bagagem e seis pessoas, incluindo crianças e idosos, a família aguardou um ônibus para ir até o Brás, na capital, e depois seguir para o nordeste. “A greve é injusta porque prejudica toda a população. A gente já tinha acertado tudo para a mudança e agora vamos esperar não se sabe até quando”, disse Cida. Ela conta que resolveu retornar para a terra natal porque a vida em Sorocaba está difícil, com o desemprego e precisando pagar aluguel. “Lá pelo menos a gente tem uma casa própria.”

As amigas Aparecida Zafani, 66, e Zilda Mizael, 62, chegaram até a rodoviária utilizando Uber e estavam com passagens compradas para a capital para assistirem uma missa. “Será uma celebração de 32 anos que meu irmão é padre, mas vamos esperar. A missa é amanhã e vamos conseguir chegar, se Deus quiser”, contou a aposentada que não sabia que a paralisação seria nacional. “A gente pensou que era só em Sorocaba e que não afetaria a capital. Não sabia o motivo”, conta Zilda. Diante da pauta da greve, as duas julgaram justo o movimento, mas lamentaram os transtornos. “Nós já aposentamos, mas sabemos que essa reforma pode prejudicar nossos filhos e todos os trabalhadores, então a paralisação tem fundamento. Só é ruim ser pego desprevenido”, lamentou Aparecida.

No Facebook

A população também relatou a surpresa pela falta de ônibus na página do jornal Cruzeiro do Sul no Facebook. "Quanta gente prejudicada!", lamentou Maria Nur Abujabra Merege. Stella Vargas lembrou que a determinação judicial para a circulação obrigatória de 70% da frota dos ônibus em horário de pico foi desrespeitada. "Ordem judicial é pra ser cumprida."

"A passagem mais cara de São Paulo, acho que até do Brasil. (...) Quem sai prejudicado? A população trabalhadora!", escreveu Evandro Lopes. "Vamos ver a atuação do poder público após esse desrespeito às decisões judiciais, bem como com o povo sorocabano", comentou Carlos Alberto Silverio. (Da Redação)

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