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Falta de liberações e internacionalização são entraves para expansão do Aeroporto

18 de Novembro de 2018 às 06:30
Marcel Scinocca [email protected]

Falta de liberações e internacionalização são entraves para a esperada expansão Aeroporto de Sorocaba já é considerado uma potência nacional na área de manutenção de aeronaves. Crédito da foto: Fábio Rogério

O Aeroporto de Sorocaba já é uma potência na área de manutenção de aeronaves. Mas é preciso crescer mais e há caminhos e potencial para isso. A cidade oferece todo tipo de estrutura, burocrática e de infraestrutura, de rodovias a porto seco, da Polícia Federal, à Receita e Vigilância Sanitária. Entretanto, além de “forças ocultas” e o “lobby” do setor, como dizem alguns entusiastas do parque aeronáutico de Sorocaba, há três barreiras que precisam ser superadas para que o futuro do pólo local seja ainda mais próspero: o reconhecimento da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de uma área de pista já concluída de 150 metros; a tão esperada operação da torre de controle do aeroporto; e, principalmente, a internacionalização.

Sobre a internacionalização, tida como o principal fator, os mais otimistas dizem que uma vez atingida, as operações podem dobrar, o que refletiria automaticamente na proporção do número de empregos gerados pelas operações do setor na cidade. Dos 15.342 aeroportos em operação no Brasil, há 36 que são internacionais. Sorocaba quer e precisa que seu aeroporto entre na rota dos voos internacionais. O fato é primordial para a que vocação adquirida ao longo das últimas décadas, a de manutenção de aeronaves, seja mantida em posição de vanguarda.

Com a internacionalização de Sorocaba, automaticamente, haverá redução nos pousos e decolagens dos vôos de reposicionamento, ou seja, aqueles que precisam decolar ou pousar em Guarulhos, por exemplo, para depois seguir para Sorocaba. Com isso, poderão ser ampliados os vôos comerciais no aeroporto da cidade da Grande São Paulo. Há ainda outro fator importante na questão: a redução nos custos das operações. Como exemplo, em situação de vôos internacionais, com a escala atual, o custo é elevado em aproximadamente US$ 14 mil.

Falta de liberações e internacionalização são entraves para a esperada expansão Geraldo Almeida e Walter Santos destacam o potencial da unidade. Crédito da foto: Fábio Rogério

“Queremos ver o aeroporto com aviões saindo daqui com destino a Miami, Londres”, comenta Geraldo Almeida, diretor-executivo da Agência Metropolitana de Sorocaba, entusiasta do aeroporto de Sorocaba e responsável pelas portas abertas do local ao Cruzeiro do Sul. “Não tem no Brasil nenhum aeroporto dedicado e nenhum com as características do nosso aeroporto”, defende. “Temos tudo para conseguir. Somos o primeiro da lista. Não podemos perder o protagonismo”, lembra. “Toda a estrutura já está montada aqui. Sorocaba tem muito mais possibilidades”, ressalta.

Pista construída não reconhecida

Adriano Andrade, da Gulfstream de Sorocaba, representando a Associação dos Concessionários de Empresas Aeronáuticas, Intervenientes e Usuários do Aeroporto de Sorocaba, esteve em Brasília, em agosto, para a apresentação à Anac do projeto de internacionalização do aeroporto. Andrade esteve acompanhado de outras autoridades, incluindo o secretário municipal Luiz Alberto Fioravante. “Com a situação atual, a gente inibe o operador de vir para cá”, diz. “O dia em que esses problemas estiveram resolvidos, colocaremos mais 900 aviões aqui, por ano”, argumenta.

Falta de liberações e internacionalização são entraves para a esperada expansão Adriano Andrade: atuação junto à Anac. Crédito da foto: Fábio Rogério

Um entrave que já dura mais de cinco anos. Construídos em 2013, 150 metros de prolongamento na pista principal do Aeroporto de Sorocaba não é reconhecido pela Anac. Esse fato impede, por exemplo, que aeronaves maiores possam pousar e decolar da cidade. Além de influenciar na autonomia do vôo, o fato também apresenta questões restritivas, em especial, pelas seguradoras. “Com a internacionalização, a cidade ganha como um todo”, diz Walter da Cruz Santos, gerente da Jet Care Aviation. “Uma coisa é o que está fisicamente, outra é o que está no papel”, diz Santos.

Walter da Cruz Santos, na área aeronáutica deste 1979, é outro entusiasta do Aeroporto de Sorocaba. “Instalado” no local desde 2007, viu e contribuiu para que muita coisa mudasse. Segundo ele, até uma rede de esgoto chegou a ser instalada no local por conta dos empresários do local. Depois de concluída, o empreendimento foi doado ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Sorocaba (Saae). Ele também foi um dos “publicitários” que ajudaram na escolha da cidade pela Embraer.

Como estão os processos

Com relação ao funcionamento da torre de controle, conforme informado pelo Cruzeiro do Sul, em 25 de outubro, a expectativa é de que o equipamento passe a operar até o fim do ano que vem. A informação foi repassada durante uma audiência pública pelo diretor regional do Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp), Edivar Thadeu de Oliveira. “Tem aeronave que custa U$ 70 milhões. A seguradora não permite porque não tem a torre”, comenta Almeida.

Segundo a Anac, além da questão da extensão da pista, estão em análise a ampliação de pátio com iluminação noturna, a implantação de área de giro e Implantação de Runway End Safety Area (RESA) -- área de segurança de pista -- por distâncias declaradas estão sob análise, após recebimento de informações do operador. Sobre a internacionalização, não houve protocolo da documentação exigida por parte do operador -- Daesp, segundo a Anac.

Empresas de ponta estão sediadas na unidade

A Embraer, que é um caso de sucesso à parte na indústria da aviação no Brasil, tem operações em Sorocaba desde 2012. E essa participação no aeroporto local deve aumentar. A empresa está finalizando os trabalhos para a abertura da Oficina de Interiores, ampliando o portfólio de serviços oferecidos a clientes da aviação executiva no Centro de Serviços de Sorocaba. A TechCare, plataforma da Embraer que reúne os principais produtos e serviços para aviação global, oferecerá soluções diferenciadas para os interiores dos jatos executivos produzidos pela companhia. Na oficina, os jatos poderão passar por retoques, revitalizações e reformas gerais customizadas, que inclui troca de carpetes, tecidos e couros, mantendo ou personalizando o design das aeronaves. Também poderão ser feitos trabalhos no verniz, troca de veneer (tipo de revestimento) e instalação de pisos diferenciados, em pedra, madeira, vinil ou couro.

“A Oficina de Interiores reforçará o conceito de ‘one stop shop‘, no qual os clientes poderão, em uma única parada, usufruir de uma plataforma integrada de produtos, realizando a manutenção programada e viabilizando diversos tipos de serviços no interior de suas aeronaves, desde pequenos reparos até reformas personalizadas completas, trazendo um design único à aeronave de acordo com a preferência de cada cliente”, diz Everton Vicente de Lima, gerente geral do Centro de Serviços Brasil. O projeto teve o investimento de aproximadamente US$ 25 milhões, sendo que US$ 20 milhões foram destinados à infraestrutura e os demais gastos em equipamentos e ferramentas. A Embraer apresentou no início do mês os novos jatos executivos Praetor 500 e Praetor 600. Esses lançamentos também devem beneficiar Sorocaba.

Conal

Ela é uma cinquentona que está a todo vapor, ou melhor, em pleno vôo para adequar ao seu ramo de atuação. Fundada em 1962, a Construtora Nacional de Aviões Ltda (Conal), nasceu exatamente com esse propósito: fabricar aviões. Entretanto, a empresa mudou de foco e desenvolveu novos conceitos, transformando seu pioneirismo em ferramenta essencial para a trajetória do aeroporto de Sorocaba para se transformar em um dos mais conceituados do mundo na manutenção de aeronaves executivas.

Falta de liberações e internacionalização são entraves para a esperada expansão José Navarro, na Conal: referência no mercado de aeronaves. Crédito da foto: Fábio Rogério

A Conal também tem números que impressionam. Somente no dia em que a reportagem esteve em suas instalações, na segunda-feira (12), ao menos cinquenta aeronaves estavam hangarados, conforme conta José Nivaldo Lourenzo Navarro, do departamento financeiro da empresa e que recepcionou a reportagem. Vale frisar que parte dessas aeronaves é de propriedade da Conal, que também atua no mercado de venda de aeronaves, sendo que muitas delas são compradas no exterior, nacionalizadas e revendidas. Isso tudo, dentro dos mais rigorosos padrões de qualidade e exigências legais, A empresa, 100% nacional, está localizada em uma área de mais de 23 mil metros quadrados, empregando mais de cem pessoas de forma direta. A propósito, o aeroporto da cidade tem o nome de Bertram Luiz Leupolz, não por acaso. Ele é o fundador da Conal.

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