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Faixas para pedestres ainda não zeram atropelamentos em Sorocaba

18 de Abril de 2019 às 01:12
Ana Claudia Martins [email protected]

Faixas para pedestres ainda não zeram atropelamentos Faixas são vermelhas para chamar a atenção do motorista à travessia de pedestres. Crédito da foto: Emidio Marques

Sorocaba tem 60 travessias da chamada Faixa Viva e 214 faixas elevadas, além das faixas comuns de pedestres. Mesmo com tudo isso, a Urbes - Trânsito e Transportes parece longe de atingir o objetivo de zerar o número de acidentes nas vias com a implantação desses dispositivos. Segundo números da própria Urbes, as mortes por atropelamentos aumentaram 8,33% de 2017 para 2018.

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No ano passado foram registrados 173 atropelamentos com 13 mortes enquanto que em 2017 foram 202 atropelamentos e 12 mortes. E nos dois primeiros meses de 2019 (janeiro e fevereiro), a Urbes já registrou 26 atropelamentos, sem mortes. Para a Urbes, “é nítido que a implantação das Faixas Vivas e das faixas elevadas reduz as probabilidades de atropelamento”, mas a empresa pública afirma que não tem um levantamento específico para comprovar a redução. Além disso, a Urbes acredita que “grande parcela dos motoristas respeitam, mas que nem por isso o trabalho de conscientização termina”.

De acordo com a Urbes, tanto a Faixa Viva quanto a elevada são travessias de pedestres pintadas na cor vermelha, com a diferença de que a primeira é no nível da rua e a segunda é saliente, como se fosse uma lombada estendida, além de ser um redutor de velocidade. A Faixa Viva foi criada pela empresa pública em setembro de 2015 para que os pedestres identifiquem com mais facilidade onde eles têm prioridade de travessia. “A Urbes adota a sinalização especial nas faixas de pedestre sem semáforos para que as pessoas identifiquem o espaço como seguro e correto para a travessia. E nos locais onde a faixa era apenas branca, a Urbes também adota a cor vermelha, para dar mais destaque ao espaço destinado ao pedestre”, diz.

A Urbes afirma ainda que as Faixas Vivas atendem a lei municipal 10.446, de 2 de maio de 2013, cujo programa objetiva conscientizar os condutores da preferência do pedestre numa faixa de travessia onde não há semáforos, conforme determina o artigo 70 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

Faixas para pedestres ainda não zeram atropelamentos Homem atravessa no sinal vermelho. Crédito da foto: Emidio Marques

Para o especialista em trânsito, mobilidade e segurança, Renato Campestrini, o CTB é claro quando determina que o pedestre tem prioridade na faixa e que ainda falta conscientização dos motoristas a respeito, além de uma mudança de cultura dos condutores e pedestres. “Infelizmente ainda há motoristas que não diminuem a velocidade quando estão transitando próximo às Faixas Vivas ou elevadas. Muitas vezes nos semáforos há condutores que desrespeitam as leis de trânsito e param em cima faixa. Assim como existem pedestres que simplesmente atravessam a rua fora da faixa e andam entre os carros. Porém, o CTB prevê multas tanto para os motoristas como para os pedestres”, diz.

Conforme o artigo 70 do CTB, os pedestres que estiverem atravessando a via sobre as faixas delimitadas para esse fim terão prioridade de passagem, exceto nos locais com sinalização semafórica. Já o artigo 24 diz que deixar de dar preferência de passagem a pedestre que se encontre na faixa a ele destinada, ou que não haja concluído a travessia mesmo que ocorra sinal verde para o veículo, é infração gravíssima com multa no valor de R$ 293,47 e 7 pontos na CNH. O CTB ainda prevê punição ao pedestre que permanecer ou andar nas pistas ou fora da faixa própria, entre outras situações, o que pode resultar em multa de 50% do valor da infração de natureza leve (R$ 26,60).

Muitos motoristas desrespeitam as faixas

Na segunda-feira (15), o Cruzeiro do Sul observou por cerca de 40 minutos, em três locais diferentes, o comportamento de motoristas e pedestres nos pontos de travessia, no centro de Sorocaba. O primeiro local de observação ocorreu na rua Padre Luiz onde há uma Faixa Viva (rente ao solo e pintada de vermelho) atrás da Catedral Metropolitana de Sorocaba. Assim que a equipe de reportagem chegou ao local, a presença do fotógrafo registrando a travessia dos pedestres causou uma certa intimidação aos motoristas. A princípio, alguns motoristas pareciam estar mais cautelosos, temendo ser flagrado desrespeitando a Faixa Viva. Logo em seguida, sem a presença do fotógrafo, houve motorista que chegou a dar marcha à ré por ter invadido o espaço da Faixa Viva. Outro não parou mesmo com o pedestre próximo à faixa mostrando que pretendia atravessar. Também houve alguns pedestres que iniciaram a travessia pela faixa, mas concluíram fora dela. E vários flagrantes de pessoas que ignoram a faixa de pedestre e simplesmente atravessam fora da travessia adequada.

O segundo ponto de observação foi na faixa de pedestre comum (branca) no cruzamento da rua Padre Luiz com a São Bento. Os desrespeitos em relação à travessia de pedestre foram praticamente os mesmos. A novidade: em alguns momentos o número de pessoas fazendo a travessia era grande, não havendo espaço suficiente para todas as pessoas pela faixa naquele momento, sendo que algumas atravessaram fora dela.

O terceiro ponto observado foi a faixa elevada na rua São Bento em frente ao calçadão da Barão do Rio Branco. Entre os desrespeitos observados no local, os mais comuns foram carros e motos que ignoravam a presença de pedestres querendo fazer a travessia, principalmente quando o trânsito na via estava fluindo rapidamente. Além de veículos que nem esperam o pedestre concluir a travessia e já avançam.

Condutores e pedestres apontam erros

Faixas para pedestres ainda não zeram atropelamentos Renata: muito desrespeito. Crédito da foto: Emidio Marques

Os condutores e pedestres ouvidos pelo Cruzeiro do Sul concordam que ainda falta conscientização e apontam erros dos dois lados. O bombeiro civil Paulo César de Jesus, 58 anos, disse que os condutores desrespeitam as faixas de pedestres em geral e que muitas vezes não dão prioridade a eles onde a lei determina. “As Faixas Vivas e elevadas são importantes para a segurança dos pedestres e por isso é preciso respeitá-las”, aponta. Já a taxista Renata Costa, 35 anos, disse que como circula com o carro diariamente já presenciou diversas cenas de desrespeito à travessia de pedestres. Ela citou um caso de um motorista que xingou um idoso que estava fazendo a travessia na faixa e o agrediu. “O condutor ainda desceu do veículo e chegou a apontar uma arma para o idoso. Foi um absurdo, uma total falta de respeito”, lamenta. Os dois também citaram casos em que os pedestres atravessam fora da faixa e entre os carros em movimento.

Faixas para pedestres ainda não zeram atropelamentos Andressa: faixas dão segurança. Crédito da foto: Emidio Marques

A representante comercial Andressa Pessoa, 28 anos, afirma que as faixas dão mais segurança ao pedestre na travessia e que costuma usá-las sempre que está a pé pelo centro. “Tem motorista que simplesmente não respeita, é complicado. Assim como pedestre que atravessa fora da faixa. Todo mundo precisa fazer a sua parte e respeitar as leis de trânsito”, diz.

Faixas para pedestres ainda não zeram atropelamentos Francisco já viu acidentes na faixa. Crédito da foto: Emidio Marques

Já o operador de produção, Francisco Egídio, 52 anos, já viu alguns acidentes nas Faixas Vivas como engavetamento de carros, pois o primeiro para bruscamente e os demais não conseguem parar a tempo e ocorre a batida. “Também já vi pedestre sendo atropelado em cima da Faixa Viva porque o veículo da direita não parou e pegou a mulher quando ela estava quase terminando a travessia”, aponta.

A Urbes informa que faz campanha de divulgação por placas e painéis nas principais avenidas da cidade, além de postagens no Facebook e por meio das atividades educativas. A empresa pública conscientiza motoristas enfatiza a parar o veículo quando o pedestre solicitar a travessia na faixa e pedestres. “Para a travessia em faixa sem semáforo, o pedestre, ainda na calçada, deve estender o braço com a palma da mão, e só atravessar quando os carros pararem. No semáforo, ele deve esperar até que o sinal feche para os carros”, orienta. (Ana Cláudia Martins)

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