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Eletricista toca saxofone para levar fé e esperança no centro de Sorocaba

10 de Abril de 2020 às 19:09
Marcel Scinocca [email protected]

Eletricista toca saxofone para levar fé e esperança em praça de Sorocaba Genildo Aparecido da Silva tocou saxofone na praça Coronel Fernando Prestes, praticamente vazia, devido ao estado de quarentena. Crédito da foto: Vinicius Fonseca (10/4/2020)

Passava um pouco do meio-dia. Havia uma leve brisa, mas o sol, em um céu com poucas nuvens, ardia forte. Caminhando pela imensidão vazia da praça Coronel Fernando Prestes, quase sem ninguém, na Sexta-feira Santa (10), vinha ele. Sapatos impecavelmente pretos e, de igual cor, a calça, sem qualquer vinco que não fosse o de fábrica. Do estojo, cuidadosamente, ele tira o tudel, a fita de apoio e o precioso saxofone. Eles estão prontos, instrumento e o aprendiz de saxofonista, como ele mesmo permite se definir. Vai começar mais uma apresentação solo, que em tempos de pandemia, tem a intenção de levar paz, fé e esperança.

Três ou quatro minutos depois, o som de “Não desanimes, Deus proverá”, vindo do instrumento de sopro, ecoava no centro comercial de Sorocaba. Tem sido essa a rotina do eletricista Genildo Aparecido da Silva, de 61 anos, que reside no bairro Vitória Régia e tem duas filhas. “É disso que as pessoas estão precisando, neste momento. Disso e de muita fé e perseverança”, afirma.

Na sexta-feira (3), ao deixar o trabalho, notou que as pessoas estavam um tanto desoladas. Foi então que decidiu tocar. Foi aplaudido até por quem via das janelas dos prédios. “Foi gratificante”, resume.

https://www.youtube.com/watch?v=pKmyK9xQh6Q

A dedicação é tanta que ele leva o instrumento musical até nos locais onde realiza seu trabalho. Entre um conduíte e outro, quando dá, uma nota musical. “Quero me transformar em um saxista”, brinca.

Apresentação especial

Genildo também conta que toma todos os cuidados com relação às indicações para se evitar o novo coronavírus, incluindo o distanciamento. “Às vezes, as pessoas chegam perto e aí peço para se afastarem”, conta.

Ele também conta ter tocado em muitos lugares, mas que uma das apresentações mais especiais foi durante os dias de entregas de refeições para as pessoas em situação de rua. Conforme ele, já foram em torno de vinte apresentações.

A correria com a música só deu uma diminuída após ele contrair uma hérnia. Mesmo assim, na Sexta-feira Santa, antes de tocar na Fernando Prestes, ele já havia se apresentado no Terminal Santo Antônio e no viaduto, próximo do local. “É muito gostoso a gente levar a melodia, a música para as pessoas. Faz bem para alma”, afirma.

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Membro da igreja Assembleia de Deus, ele começou a tocar saxofone aos 55 anos. Como a modéstia é o aroma do talento, como diria Machado de Assis, ele diz que ainda está aprendendo. Sem titubear, questionado sobre o porquê de não se considerar um saxofonista, ele responde de maneira serena, não destoando dos acordes que pratica. “É infinita a música. Nunca a gente vai conseguir saber tudo.”

Um novo espetáculo

O avançar da hora - passava das 13h - com a diminuta plateia um tanto dispersa, somado com a canseira que o tomava, ele encerrou a apresentação. Com o mesmo cuidado que tirou, Genildo coloca o instrumento e os acessórios de volta ao estojo.

Passos largos para deixar a praça. Afinal, o caminho até a casa é longo. A missão de voltar em breve para um novo espetáculo também. (Marcel Scinocca)