O vereador do Republicanos recebeu 52,58% dos votos, contra 47,42% da prefeita Jaqueline Coutinho (PSL). Crédito da foto: Vinícius Fonseca (30/11/2020)

O vereador Rodrigo Manga (Republicanos) foi eleito no domingo (29), em segundo turno, o próximo prefeito de Sorocaba. Ele recebeu 52,58% dos votos (153.228 votos), contra 47,42% (138.201) da candidata à reeleição Jaqueline Coutinho (PSL) -- uma diferença de somente 5,16% (15.027 votos). No total, 347.050 dos 485.962 eleitores aptos a votar compareceram às urnas.

Ontem (30), Manga recebeu a reportagem do jornal Cruzeiro do Sul em seu escritório político, fez um balanço de toda a campanha e falou como pretende cumprir as promessas e propostas apresentadas em seu plano de governo. Ele elegeu a saúde como prioridade e disse ainda que pretende diminuir o número atual de secretarias da Prefeitura, colocando em prática uma reforma administrativa para cortar desperdícios e “exageros”. Confira a entrevista com o prefeito eleito:

JCS - O senhor foi eleito na primeira vez com o nome de missionário Manga e fez parte, na Câmara, da chamada bancada evangélica. A religião terá qual peso em seu governo?

Manga - As pessoas veem o Manga como religioso. Eu não sou religioso. Eu tenho Deus acima de tudo, e Deus é o Deus do católico, do espírita, do evangélico. Entendo que quando agradamos a Ele, fazendo aquilo que vai ao encontro do que Deus pede para a população, ele nos abençoa. É dessa maneira que nós vamos governar para todos, pedindo sempre sabedoria a Deus. Acho que é momento de unir todos, independentemente de religião e de cor partidária, e fazer Sorocaba crescer novamente.

JCS - Qual avaliação o senhor faz da campanha eleitoral e dos processos contra a sua candidatura?

Manga - Foi uma campanha diferente por conta da Covid-19. Fizemos uma campanha de rua, mas sempre respeitando todos os critérios que o Ministério da Saúde tem, como distanciamento e álcool gel para evitar o contágio. No quesito político, foi uma campanha em que recebemos muitos ataques, de praticamente todos os adversários, mas optamos por não atacar ninguém. Não gastamos um segundo do nosso tempo de televisão e de rádio para atacar. A campanha acabou sendo judicializada e eles fizeram isso por não ter um trabalho para mostrar à população. Agora é muito planejamento e muito trabalho, pois nós vamos fazer de Sorocaba uma cidade humana e inovadora.

JCS - Com processos ainda por serem julgados, existe alguma preocupação em relação ao futuro do seu mandato?

Manga - Não, estou muito tranquilo porque são processos eleitoreiros dos meus adversários e, como até aqui, todos eles têm sido arquivados. Esses que ainda não deu o prazo de serem julgados serão arquivados também, e vamos passar por tudo isso. Não imaginava que seriam tantos ataques assim, mas imaginávamos que não seria nada fácil porque representamos a quebra de um sistema que está aí, uma nova política para Sorocaba. Tenho certeza que vamos vencer todos eles e trabalhar em tranquilidade e harmonia com todos os poderes: Legislativo, Poder Judiciário e Executivo.

JCS - O senhor foi eleito prefeito por uma diferença de pouco mais de 15 mil votos. Esperava uma margem maior?

Manga - Eu pensei por um momento que sim, mas foram muitos ataques e muitas fake news que aconteceram na última semana, através das redes sociais, e isso pode ter interferido. Também grupos do PT, que acabaram apoiando a nossa adversária, fizeram com que ela se aproximasse. Mas eu nunca duvidei de que sairíamos vitoriosos dessas eleições. Agora não existe a questão de partido. Nosso partido é Sorocaba e é governar para todos.

JCS - Nos últimos anos, Sorocaba presenciou uma série de conflitos e brigas envolvendo o chefe do Executivo e sua vice, o que acabou resultando em dois processos de cassação e perda do mandato de prefeito. No seu governo será diferente?

Manga - Eu posso garantir que Sorocaba vai ter dias de paz e muito trabalho, assim será a característica do governo Manga. É fazer um bom relacionamento com o Poder Legislativo, até porque eu estou vindo de lá. Eu respeito e eu sei a importância do trabalho do Legislativo para fazer a nossa cidade crescer novamente.

JCS - O senhor foi vereador por dois mandatos. Isso ajudará no relacionamento com a Câmara?

Manga - Eu fui presidente da Câmara contra a vontade do prefeito da atual gestão (Crespo). Sei da importância de fazer o relacionamento. O vereador é o agente político mais próximo da população. Quando o prefeito dá atenção a ele e atende um pedido do vereador, ele está atendendo um pedido aquela categoria, ou seja, está atendendo uma parcela da população. Então, haverá esse respeito e o diálogo entre o Executivo e o Legislativo porque temos de unir forças para reconstruir Sorocaba. Para isso nós vamos precisar muito do apoio da Câmara, e a Câmara pode ter certeza que poderá contar com o Poder Executivo.

JCS - Algumas propostas do seu plano de governo sofreram críticas dos opositores, os quais alegaram que algumas são inviáveis. Como pretende colocá-las em prática?

Manga - Todo nosso plano de governo foi baseado em projetos que já existem em cidades ou regiões que têm orçamento equivalente ao nosso. A proposta do Casa Nova Sorocaba já tem alteração na constituição estadual, feita em fevereiro desse ano, permitindo que a Prefeitura ceda terrenos públicos e a iniciativa privada construa casas e apartamentos. Parte deles serão para as pessoas de baixa renda ou que moram em área de risco, ou ainda que fazem parte de algum programa como o Bolsa Família. E a outra parte, abatendo o valor do terreno, para que a pessoa possa adquirir o imóvel pagando um valor menor do que ela paga de aluguel. É uma parceria público-privada que não onera o poder público. O poder público já tem os terrenos e muitos deles se encontram abandonados, juntando entulho, criadouros de escorpião e até mini-cracolândias.

JCS - O senhor disse em seu discurso, após a confirmação da vitória, que irá montar um secretariado técnico. Mas, na prática, gestões anteriores mostraram que isso não se concretizou. Como irá garantir isso?

Manga - As indicações podem até acontecer, desde que seja uma indicação técnica, uma pessoa capaz para assumir aquela pasta. Eu não fiz nenhum tipo de acordo, nem com vereador e nem com partido. Vamos pensar em pessoas importantes e qualificadas para poder administrar a cidade. Não é uma decisão fácil porque temos muitas pessoas capacitadas na nossa cidade, mas tenho certeza que Deus vai dar sabedoria para escolhermos os melhores nomes. Eu optei por isso lá trás, mesmo tendo a maior coligação, não fechei nenhum acordo com os partidos. Já começo a anunciar os nomes na segunda-feira, pelo os que vão compor as principais secretarias. Pretendo diminuir o número de secretarias e também revisar contratos, mas tudo isso vai depender desses relatórios que virão agora, no momento de transição, para que a gente possa ter números exatos. Vou aguardar mais um pouco para ver se recebo algum telefonema da atual prefeita. Senão, eu mesmo vou ligar para ela, parabenizando pelo resultado e pedindo para que abra as portas e que faça essa transição de maneira muito tranquila, porque agora o objetivo principal é cuidar da cidade.

JCS - O senhor apontou na campanha que a área da saúde seria prioritária já no início do seu mandato. As gestões anteriores também prometeram resolver esses problemas, mas as soluções não vieram. Como pretende resolvê-las, de fato?

Manga - Primeiro vamos zerar as filas de exames, consultas e cirurgias, com parcerias com os hospitais privados da cidade. Depois, nós vamos garantir médicos nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Hoje a pessoa vai na UBS, fica numa fila de madrugada, pega uma senha para marcar consulta daqui 60 dias. Umas 30 pessoas conseguem as senhas e umas 170 voltam para casa. Como essa população precisa do médico na hora, ela acaba usando o atendimento de uma Unidade Pré-Hospitalar (UPH), que custa muito mais para o município. Nós vamos trazer um modelo de parceria público-privada, que existe em São Paulo, em 13 UBSs, e com isso dar atendimento de qualidade, ampliar os horários das UBSs. Os médicos especialistas que estão nas UBSs, atendendo como clínico- geral, virão para a Policlínica, para que as filas não voltem a aumentar. Três UBSs vamos transformar em Pronto-Atendimento (PA) 24 horas: a do Parque São Bento, a do Júlio de Mesquita e de Aparecidinha.

JCS - A cidade continua na pandemia da Covid-19 e o governo estadual está preocupado com os números em elevação. Se a situação se agravar em Sorocaba, o que pretende fazer para combater o coronavírus?

Manga - Eu pretendo investir todo o recurso que chegar. Vieram recursos do governo federal durante a pandemia que foram investidos no hospital de campanha e no aluguel de ambulâncias, e que foram embora e não tem mais o hospital de campanha. Se precisar, tem que contratar de novo. Investiremos os recursos nos hospitais que já existem na cidade, ampliaremos o trabalho da Santa Casa, e a própria Policlínica, além de adquirir ambulâncias. Tenho certeza que isso um dia vai passar e esses aparelhos ficarão para o uso do sorocabano.

JCS - Como prefeito, como será o relacionamento com a imprensa?

Manga - Sempre tive bom relacionamento com a imprensa. Vamos manter isso. Inclusive quero agradecer ao jornal Cruzeiro do Sul, que sempre nos recebeu de braços abertos, tanto enquanto vereador e também durante a campanha. Assim será dia 1º de janeiro assumindo a Prefeitura. Pode ter certeza que o prefeito vai manter esse relacionamento harmônico com o Cruzeiro do Sul e com os demais veículos de imprensa.

Nascido em Sorocaba, Rodrigo Maganhato, 40 anos, mais conhecido como Rodrigo Manga, está no segundo mandato como vereador. Casado com Sirlange Rodrigues Frate, tem dois filhos: Giulia e Enrico.

Em 2012, aos 32 anos, foi eleito vereador com 4.778 votos. Na primeira campanha, usou o nome de “missionário Manga”, por conta de sua base entre os evangélicos. Foi reeleito em 2016, com 11.471 votos, a maior votação da história de Sorocaba para o Legislativo. Foi presidente da Câmara entre 2017 e 2018.

Graduado em Marketing, Manga gerenciava uma rede de lojas de automóveis na cidade e realizava um trabalho social na área de dependência química antes de entrar para a política. (Ana Cláudia Martins)