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Dia do Médico é celebrado hoje em meio a grandes desafios

18 de Outubro de 2020 às 00:01

Dia do Médico é celebrado hoje em meio a grandes desafios Luiz Ferraz de Sampaio Neto é ginecologista e diretor da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP. Crédito da foto: Erick Pinheiro / Arquivo JCS (12/6/2019)

O Dia do Médico é tradicionalmente celebrado no Brasil neste 18 de outubro, data em que a Igreja Católica comemora o Dia de São Lucas, considerado o santo protetor dos médicos. Neste ano, no entanto, a data ganhou contornos ainda mais relevantes em função da luta desses profissionais em prol da vida em meio à pandemia do novo coronavírus e à guerra travada contra a Covid-19.

Conforme a pediatra e diretora clínica do Hospital Unimed Sorocaba, Maria Cristina Cuter Rodel, a pandemia impôs enormes desafios aos médicos, alterou protocolos de atendimento, fortaleceu o trabalho em equipe e fez com que a profissão tivesse a sua valorização reafirmada pela sociedade. “Antes, no noticiário, a gente só via coisa relacionada à parte negativa da profissão médica. Hoje é o contrário”, assinala.

Em um ano desafiador para a classe médica de todo o mundo, afirma a médica, a atuação humanizada desses profissionais ficou ainda mais evidenciada. Segundo Maria Cristina, diante das mudanças no protocolo a fim de evitar o contágio do vírus, os médicos precisaram mudar a maneira de atender os pacientes que, até então, era feita sem o uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). “O lado bom é que a gente teve que se voltar mais para a humanização, já que as pessoas contaminadas precisam ficar isoladas. Nós tivemos que nos reinventar de verdade”, comenta.

A nova doença, que se alastrou rapidamente no País, fortaleceu a união não apenas entre os médicos, mas de todo os profissionais da saúde, que passaram a receber diversas homenagens e manifestações de gratidão de curados e familiares. “Eu nunca tinha presenciado isso. Realmente a pandemia trouxe uma valorização muito interessante da profissão médica, que vinha sendo pichada nos últimos anos”, acrescenta.

Ginecologista e diretor da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP, campus Sorocaba, o médico Luiz Ferraz de Sampaio Neto endossa o sentimento de valorização dos médicos. “Eu fiquei muito sensibilizado com as manifestações aos profissionais de saúde. Creio que esse reconhecimento é ao profissional da saúde, pela coragem e desprendimento de estar lá, na linha de frente”, assinala.

Maria Cristina detalha que ainda em fevereiro, com o advento da pandemia, integrou o comitê de crise formado por uma equipe multidisciplinar da Unimed, a qual remodelou todo o desenho do hospital, criou uma ala específica para casos respiratórios para minimizar os riscos de contágio, alterou o fluxo da entrada de pacientes e visitas e suspendeu temporariamente as cirurgias eletivas. O plano de contingência chegou a prever quatro cenários possíveis, com medidas detalhadas para cada uma delas, que incluíam desde o estoque de insumos à escala de plantão dos profissionais.

Profissionais vivem na linha de frente e podem virar pacientes

Mas como é estar na linha de frente do enfrentamento a uma pandemia? Dar a vida a serviço da humanidade, à saúde e o bem-estar dos pacientes é um dos mandamentos previstos no Juramento de Hipócrates, feito na solenidade de formatura dos médicos. “Quando a gente trabalha na área da saúde, a gente está sujeito o tempo todo (a contrair doenças). A pandemia deixou claro o quanto a gente precisa se cuidar, mas a gente tem que trabalhar. Nós, médicos, não temos a opção de não ir trabalhar. Então, procuro fazer isso com a maior serenidade possível”, destaca a médica Maria Cristina.

Sampaio Neto também compartilha os ensinamentos com os estudantes de medicina. Por conta da pandemia, as atividades presenciais do curso foram transferidas para o ambiente virtual e retornaram em setembro, com novos protocolos. “Para eles (alunos), atravessar essa pandemia é uma experiência transformadora. Muitos alunos queriam estar do lado dos seus pacientes”, complementa.

E quando o médico vira paciente? Foi o que ocorreu com Sampaio Neto, diagnosticado com Covid-19 no final de julho. A apreensão do médico durante o período em que cumpriu o isolamento domiciliar foi ainda maior, já que a esposa e a filha também testaram positivo para doença. “Eu já tive um câncer dez anos atrás e não tive tanto medo de morrer quanto agora. Foi uma experiência difícil, porque a gente ainda tem pouco conhecimento sobre a doença. Eu fiquei com muito medo de ficar na UTI”, relata.

Telemedicina auxilia, mas não deve substituir relação pessoal

Para o médico Luiz Ferraz de Sampaio Neto, a pandemia do novo coronavírus impôs mudanças profundas no exercício da profissão e, na faculdade, as tecnologias que favorecem o ambiente virtual de aprendizado vieram para ficar. Já em relação ao atendimento dos pacientes, por meio da telemedicina, tanto Maria Cristina quanto Sampaio Neto garantem que a nova modalidade, implantada no Brasil durante a pandemia, vem para auxiliar no tratamento, mas não substituirá a relação entre médico e paciente.

“É mais uma ferramenta, mas não substitui o exame clínico. Na pandemia foi interessante porque ajuda a monitorar, orientar e tirar algumas dúvidas. Mas a relação médico-paciente, no consultório, não vai substituir”, assinala Maria Cristina. Sampaio Neto comenta que a modalidade já era empregada em localidades distantes como o Alasca e a Sibéria. “Por conta da pandemia, isso foi rapidamente incorporado à prática médica. Acho que as consultas remotas vão ajudar na orientação, mas não vão substituir a relação pessoal”.

O atendimento pela telemedicina, segundo Maria Cristina, já é oferecido aos conveniados da Unimed Sorocaba por plantonistas, clínico geral e pediatra do Núcleo de Atenção Integral à Saúde (NAIS) e as ferramentas virtuais vão ajudar a ampliar os programas focados na prevenção primária.

Para evitar aglomerações em hospitais durante a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro sancionou em abril a lei que autoriza o uso da telemedicina para atendimento pré-clínico, de suporte assistencial, de consulta, monitoramento e diagnóstico no Sistema Único de Saúde (SUS) ou na rede privada enquanto durar a crise da Covid-19. (Felipe Shikama)