Destino da área da Gerdau continua indefinido
Após a desativação da Gerdau, há 6 anos, a área nobre está sem utilização. Prefeitura tem interesse em seu aproveitamento. Crédito da foto: Manuel Garcia
O destino do terreno onde funcionou, até 2014, a antiga fábrica de aços da Gerdau, na rua Padre Madureira, no bairro Árvore Grande, em Sorocaba, continua indefinido. A empresa Gerdau informa que sua unidade na cidade de Sorocaba está desativada há 6 anos e que, atualmente, estuda o destino para o terreno. Questionada pelo Cruzeiro do Sul, a Prefeitura de Sorocaba informou que está recebendo informações e estudando todas as possibilidades para que, ainda dentro dos primeiros 100 dias de governo, possa dar encaminhamento à questão que envolve a reutilização da imensa área, localizada em local privilegiado da cidade, próximo da avenida Dom Aguirre.
Há dias, moradores próximos ao local constataram movimentação de entrada e saída de caminhões, num indício da retirada do que sobrou dos antigos pavilhões da fábrica. Porém, o destino do terreno continua incerto.
Em março de 2019, o então prefeito José Crespo (DEM), junto com secretários municipais, realizou uma reunião com representantes da Gerdau para discutir os planos da empresa para a futura utilização da área da antiga fábrica.
Na ocasião, Crespo falou do interesse do município na utilização de parte da área para a implantação de um terminal multimodal, devido à localização estratégica da área. Segundo divulgado pela própria Prefeitura de Sorocaba, à época, após a reunião, os representantes da Gerdau confirmaram o interesse do grupo em comercializar o terreno e apoiar o município no desenvolvimento de um plano conjunto para melhor utilização da área, considerando e viabilizando o interesse público.
Para isso, seria criada uma comissão formada por membros da empresa e da Prefeitura para desenvolvimento deste plano, mas, ao que tudo indica, tal proposta não evoluiu.
Área de utilidade pública
Em dezembro de 2014, a Câmara de Sorocaba derrubou o veto total ao projeto de lei nº 304, de autoria do então vereador José Crespo, que declarou de utilidade pública, para fins de desapropriação, o imóvel localizado na rua Padre Madureira, 431, na Árvore Grande, de propriedade da Gerdau.
O projeto de lei de Crespo já havia sido aprovado pelos vereadores, em segunda discussão, em outubro do mesmo ano, e seguiu para a sanção do então prefeito Antônio Carlos Pannunzio (PSDB), que vetou o projeto de lei. Segundo a justificativa do veto, não havia dotação orçamentária para executar a desapropriação.
Na ocasião, o então vereador Crespo destacou que a proposta surgiu quando a empresa Gerdau anunciou o fim das atividades na unidade local, e que o objetivo era utilizar a área para a implantação de um complexo multimodal de passageiros que incluiria rodoviária, terminal de integração de ônibus e BRT, além de estação central do VLT (veículo sobre trilhos). Ele disse ainda que uma negociação amigável levaria ao pagamento a longo prazo, destacando a importância de se reservar a nobre área. Crespo afirmou que não se tratava de um projeto de desapropriação e sim de declaração de utilidade pública, para que a área fosse desapropriada no futuro.
Ele acreditava ainda que o local resolveria um problema estrutural pelo qual Sorocaba enfrentava: a mobilidade urbana.
Local faz parte da história metalúrgica
A antiga fábrica que funcionou no terreno que atualmente pertence à empresa Gerdau foi fundada em 1938 com o nome de Metalúrgica Nossa Senhora Aparecida. A história da empresa, no entanto, começou um ano antes, por meio de uma pequena fábrica de enxadas, que funcionou por alguns anos na rua 15 de Novembro, no centro, onde funciona a escola municipal Leonor Pinto Thomaz.
O proprietário da fábrica era o empresário Luiz Pinto Thomaz, que tinha comprado uma pequena empresa de ferramentas agrícolas que funcionava naquele endereço. No início da década de 1940, ele adquiriu a área onde está atualmente a antiga fábrica da Gerdau, e transferiu a pequena empresa para a rua Padre Madureira. A partir de então, a fábrica expandiu e em seguida começou a produzir aço.
Em 1974, a fábrica passou a se chamar Siderúrgica Nossa Senhora Aparecida, e em 1988 o Grupo Villares adquiriu o controle acionário da Siderúrgica, cuja razão social passou para Aços Villares.
Em agosto de 2000 o controle acionário da Villares foi adquirido pelo grupo espanhol Sidenor, e em novembro de 2003 parte das atividades realizadas na fábrica de Sorocaba foram transferidas para a unidade de Sumaré. Anos mais tarde a empresa passou para a Gerdau, e foi desativada em 2014.
A história da empresa virou tema de livro dos autores e jornalistas Vanderlei Testa e Sérgio Coelho de Oliveira. Testa, que trabalhou vários anos na empresa como gerente de comunicação, afirma que na década de 70 a fábrica gerava cerca de 3 mil empregos na cidade. Chamado “A Enxada que Plantou uma Siderúrgica”, o livro foi lançado em 1984, e conta a trajetória da fábrica na cidade. “Era uma das maiores produtoras de aços especiais do Brasil e geradora de empregos. Hoje somente existem as paredes dos pavilhões, com suas coberturas danificadas pelo tempo. Uma preciosidade histórica que gerou empregos e produção de aço na cidade. Hoje só há promessas e nada de concreto em projetos para essa área nobre de Sorocaba”, lamenta Testa. (Ana Claudia Martins)