Desemprego obriga trabalhadores a se reinventarem para sobreviver
Marcos comenta que as vendas tiveram ligeira alta após determinação de uso obrigatório no Estado de São Paulo. Crédito da foto: Vinícius Fonseca (7/5/2020)
Se reinventar para sobreviver. Mais do que um slogan motivacional voltado a empreendedores, a frase é palavra de ordem ou necessidade para milhares de brasileiros que perderam o emprego com o advento da pandemia do novo coronavírus.
Na última quinta-feira (7), quando foi ao Supremo Tribunal Federal acompanhado de um grupo de representantes de diferentes setores produtivos, o presidente Jair Bolsonaro declarou que o Brasil “se aproxima de 10 milhões de pessoas que perderam emprego de carteira assinada”. O número, no entanto, é impreciso, já que a divulgação pelo Ministério da Economia, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que contabiliza demissões e admissões formais, está suspensa desde janeiro, sob a alegação de que as empresas estão com dificuldades para enviar os dados após mudança nos sistemas da pasta.
Em meio a este mar impreciso de trabalhadores desempregados está Marcos Tavares de Barros, de 48 anos. Morador do Parque São Bento, na zona norte de Sorocaba, e casado, ele comemorava a recolocação no mercado formal, para trabalhar como controlador de acesso, quando junto com a pandemia veio a notícia da suspensão da vaga. Com baixo grau de instrução, mas com muita disposição para trabalhar, ele ainda mantém como marca o carisma e o bom humor. “Eu já fui de tudo. Sou igual Bombril, mil e uma utilidades”, diz, elencando que, além de controlador de acesso, já atuou como segurança, auxiliar de cozinha, garçom, entre outras atividades profissionais.
Diante da frustração do cancelamento da contratação, Marcos precisou se reinventar e viu na esteira da crise -- sanitária e econômica -- deflagrada pelo coronavírus, a sua oportunidade de sustento. Passou a vender nos terminais de ônibus máscaras faciais recomendadas pelas autoridades de saúde como forma de minimizar os riscos de contágio da Covid-19. As peças são confeccionadas pela esposa Dora, que é costureira profissional. “Tá dando para pagar o almoço e a janta”, comenta, citando que as vendas tiveram uma ligeira alta nesta semana, quando o uso das máscaras em espaços públicos passou a ser obrigatório no Estado de São Paulo.
Marcos revela que tem vendido entre 40 e 50 máscaras por dia. “Uma por R$ 5 e três por R$ 10”, comenta.
A produção do material é feita à noite, durante o horário de “descanso” de Dora e conta com a ajuda do marido, que se encarrega de recortar os tecidos. “A gente fica até 1h da manhã”, diz.
Para vender o produto, Marcos escolheu dois pontos de maior circulação de pessoas em tempo de pandemia: os terminais de ônibus. Das 8h às 17h ele fica no entorno do Terminal São Paulo e, em seguida, em busca de um contingente maior de clientes em potencial, se desloca a pé até o Terminal Santo Antonio, onde fica até por volta das 21h, para, finalmente, voltar para a casa.
Mesmo estando exposto ao contato com muitas pessoas, por necessidade, Marcos é um dos milhares trabalhadores desempregados que precisa quebrar a regra de isolamento social para tentar garantir os itens de primeira necessidade e que se reinventam para, literalmente, sobreviver. “Não tenho medo de ficar doente. Meu único medo, nesse momento, é não conseguir pagar o aluguel”, complementa. (Felipe Shikama)