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Deic desarticula quadrilha que usava nome do Unicef em golpes

26 de Novembro de 2020 às 15:45
Vinicius Camargo [email protected]

Quantidade de itens solicitados pela quadrilha era tão grande que o transporte precisava ser feito carretas. Crédito da foto: Divulgação/ Polícia Civil

A Polícia Civil de Sorocaba desarticulou uma quadrilha acusada de usar nomes de organizações sociais para aplicar golpes contra empresas. Dois integrantes da organização criminosa foram presos. O grupo agia em Sorocaba e em outras cidades do Estado de São Paulo. Os presos se passavam por funcionários dos órgãos e miravam distribuidoras de embalagens. As prisões foram efetuadas pela Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), por intermédio da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Sorocaba.

Na ação, foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão, em Sorocaba, Osaco, Cotia, Jundiaí e Praia Grande. Os alvos foram "escritórios" e apartamentos usados como esconderijos pela organização criminosa. Na cidade, especificamente, foi vistoriado um escritório no Centro.

A polícia identificou quatro membros da quadrilha. Eles começaram a atuar em abril, com o início da pandemia. Ou seja, agiram durante cerca de seis meses, acrescenta o delegado.

Dois deles seguem foragidos. Um dos presos foi capturado em Osasco, na primeira quinzena de outubro, e o outro, em Praia Grande, na última semana do mesmo mês. Eles tiveram a prisão temporária decretada e foram encaminhados para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Sorocaba. Ambos não confessaram os crimes.

Não há informações sobre a localização dos demais procurados, informa o delegado Rodrigo Ayres, titular da Deic.

Na fiscalização, também foram apreendidos equipamentos eletrônicos usados nas ações criminosas, como celulares, computadores, máquinas de cartão e impressoras.

A polícia prosseguirá com as investigações, para tentar encontrá-los e prendê-los. Os investigadores buscarão, ainda, identificar outros possíveis participantes do esquema. "Não está descartada a possibilidade de participação de mais pessoas", diz Ayres.

 O golpe

Conforme o delegado, a quadrilha usava os nomes de organizações sociais mundiais, como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), para aplicar golpes em empresas do ramo de embalagens. Os suspeitos diziam trabalhar para os órgãos na arrecadação de alimentos e outros produtos. As doações, informavam, seriam enviadas para famílias economicamente afetadas pela pandemia de Covid-19.

Para tanto, os supostos voluntários diziam precisar de embalagens para colocar os donativos. Os golpistas, então, recorriam a distribuidoras e pediam a venda dos produtos à preço de custo. Eles solicitavam grandes quantidades de itens e o transporte precisava ser feito por carretas.

Em Sorocaba, uma empresa caiu no golpe e teve prejuízo de R$ 3 milhões, afirma Ayres. O estabelecimento vendeu os materiais e chegou a entregá-los aos golpistas, mas não recebeu o pagamento.

Outras três empresas, sendo uma em Jundiaí, uma em Garça e uma em Osasco, também foram vítimas da fraude. Os desfalques das três somam R$ 2 milhões. Com isso, os golpes totalizam R$ 5 milhões.

Para tentar validar as ações criminosas, o grupo emitia notas fiscais falsas, com titularidade das entidades. Além disso, usava, inclusive, os domínios de e-mails delas, diz Ayres.

Após a compra dos materiais, a quadrilha os revendia para outras empresas do ramo. Para concluir o inquérito, a polícia vai investigar se as compradoras não sabiam do esquema ou se também participavam da fraude, afirma o delegado.

Unicef

Em nota, o Unicef destacou não procurar distribuidoras para esse tipo de negócio. A organização também enfatizou não designar funcionários para arrecadar donativos diretamente nas casas da população. Pessoas físicas, empresas e governos podem fazer doações pelo telefone 0800 6052020 ou pelo site do órgão.

Investigações

As investigações começaram em julho deste ano e duraram quatro meses. A apuração foi iniciada após a empresa de Sorocaba registrar boletim de ocorrência. "Fizemos um levantamento e identificamos várias empresas lesadas no mesmo tipo de golpe", conta o delegado da Deic. A partir daí, a polícia identificou o funcionamento do esquema, os suspeitos dos crimes e os endereços deles.

Os mandados de busca e apreensão nos locais foram cumpridos gradativamente, no decorrer do mês de outubro.

Durante os trabalhos, a polícia descobriu, inclusive, que a organização criminosa contratou contadores e profissionais da tecnologia da informação. Os cúmplices eram responsáveis pela criação de documentos e sites falsos. (Vinicius Camargo)