Coronavírus traz impacto para a saúde global
Palestra foi no auditório da PUC em Sorocaba e destacou os efeitos da globalização em situações de epidemias. Crédito da foto: Vinícius Fonseca (18/2/2020)
A médica neurocirurgiã, Maria Carolina Loureiro, fez uma palestra sobre o tema saúde global na manhã de ontem, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde (FCMS) da PUC-SP, em Sorocaba. Especialista em saúde global e diplomacia da saúde pelo Instituto de Estudos Internacionais em Genebra, na Suíça, a médica ressaltou a importância do impacto da globalização na saúde local, como a epidemia do coronavírus na China que já chegou em outros países.
Mas, também chamou a atenção para os fatos locais, que muitas vezes têm muito mais peso e importância na saúde local, do que as epidemias que ocorrem em outros países. “Por ano no Brasil morrem cerca de 80 mil pessoas de gripe e ninguém fala disso. Hoje na China 1,8 mil pessoas morreram por conta do coronavírus. Então, proporcionalmente é impactante,mas se a gente compara com outras doenças corriqueiras, como a gripe, aqui ela mata 80 mil por ano, ou seja, existem outros problemas que a gente deve levar em consideração”, afirma.
A médica disse ainda que o medo, a insegurança e a preocupação atual com a segurança sanitária por conta da epidemia do coronavírus na China não é novidade para o mundo. E que as doenças vão continuar se propagando também por conta da globalização, já que cada vez mais aumenta a mobilidade humana e em menor tempo.
Maria Carolina é médica neurocirurgiã especialista em saúde global. Crédito da foto: Vinícius Fonseca (18/2/2020)
Globalização e mobilidade
“A globalização trouxe um maior fluxo e uma maior circulação de pessoas, de bens, de capitais, de mercadorias e de produtos, e também maior risco de propagação de doenças. A gente precisa, primeiro,se recordar que a propagação de doenças e a globalização existe desde o século 15. Na origem do descobrimento das Américas, por exemplo, não existia sífilis nas Américas. Então, foram os europeus que levaram. É claro que quando começa esse movimento, esse fluxo de pessoas para outros lugares, eles levam doenças e aquelas pessoas, originárias daquele local, não tinham imunidade e acabam morrendo da epidemia. Então, não é algo novo”, aponta a médica.
Por conta disso, a especialista afirma que o coronavírus, ou outra epidemia, pode chegar em outros países e até no Brasil. “O risco existe porque as pessoas podem atravessar o planeta em 24 horas de voo. Então, os transportes melhoraram e o tempo para fazer esse transporte encurtou. Quando encurta o tempo de viagem, o vírus que estava em mim, ele resiste ao tempo de viagem. Outro ponto é que a China, por exemplo, não é a mesma de anos atrás. Hoje, mais de 65% da sua população está em centros urbanos. A cidade chinesa de Wuhan, que foi o epicentro da epidemia do coronavírus, tem 10 milhões de habitantes. E nos últimos 20 anos, a China aumentou em 100 milhões de habitantes a sua população, e essencialmente em centros urbanos. E quando aumenta uma urbanização nesse volume o risco de propagação do vírus existe”, aponta.
A médica também reforçou a importância e fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) inclusive nos casos de epidemias. “O SUS é o que vai resolver o problema de qualquer epidemia porque se for privatizar vacina e teste diagnóstico, privatizando o acesso a médico, não vamos ter a capilaridade necessária para atender todas as pessoas, que no final viram transmissoras da doença”, diz. (Ana Cláudia Martins)
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