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Comerciantes reclamam de moradores em situação de rua

16 de Agosto de 2019 às 22:53

Comerciantes reclamam de moradores de rua Muitas pessoas em situação de rua passam os dias e noites na região central da cidade. Crédito da foto: Fábio Rogério (16/8/2019)

Comerciantes do centro de Sorocaba reclamam da presença de moradores em situação de rua na praça Coronel Fernando Prestes e solicitam à prefeitura medidas para retirá-los do local. Queixam-se de prejuízos, porque calculam que suas abordagens inibem parte da clientela que movimenta a praça.

Incomodam-se com pedidos para carregar celular, de dinheiro e comida, com sujeira, sacos e caixas com peças de roupas e cobertores escondidos atrás de portas e no canteiro que separa a praça da rua São Bento.

A pérgola da praça é o ponto que atrai maior número de moradores em situação de rua, mas eles também são encontrados na escadaria da Catedral Metropolitana, em frente às lojas e defronte a entidades como o Gabinete de Leitura Sorocabano e o Clube União Recreativo.

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Quando se deslocam, alguns deixam panos nos locais onde permaneceram instalados. Um cachorro circula entre eles, como se fosse animal doméstico. Quem os observa diz que um deles cria o animal. Outro garante que já viu casos em que alguns deles acendem cigarros de maconha.

Na segunda-feira (12), uma funcionária de uma loja conta que se deparou com um homem que dormia em frente à porta de entrada do estabelecimento. Ela pediu para ele se retirar do local, pois precisava abrir o comércio, ele se recusou e a situação só foi resolvida porque a funcionária acionou os guardas que ficam na guarita da Guarda Civil Municipal (GCM), localizada em frente à Catedral.

“Praça tão abandonada”

Os comerciantes preferem não se identificar, porque temem represálias. Mas não poupam desabafos. “Eu estou no mesmo lugar há mais de 35 anos, nunca vi a praça tão abandonada”, disse um deles. “E a maioria deles não é de Sorocaba, vem de fora.”

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Perguntado se a razão é a crise econômica, ele rebate: “Sabe por que não é a crise? Porque outras cidades não estão abandonadas assim, até São Paulo está melhor.” Ele disse que tentou reclamar várias vezes pelo telefone 156 da prefeitura, mas não conseguiu atendimento e, por isso, recorreu à imprensa.

Comerciantes reclamam de moradores de rua Os pertences de quem não tem onde morar ficam escondidos nos cantos da praça. Crédito da foto: Fábio Rogério (16/8/2019)

Uma lojista relatou que vê a ação da entidade social encarregada de abordar essas pessoas e de levá-las para um abrigo, mas o problema não é resolvido porque “lá (no abrigo) tem regras e eles não gostam de regras”.

“Aqui, cada dia é um capítulo de novela, e os clientes perguntam: vocês não têm medo? Quem manda neles?”. Ela recorda que houve um período, no ano passado, em que a unidade Romu da GCM fez batidas na praça e eles se dispersaram por algum tempo, mas as ações terminaram e os moradores da praça voltaram. Segundo ela, a construção da guarita da GCM no local não os inibiu.

“Está faltando pulso”

“Acho que ficam na praça porque aqui é mais fácil pedir dinheiro devido à grande movimentação de pessoas”, disse ainda a lojista. “Está faltando pulso com eles, por que não ficam numa praça sem comércio?”, perguntou a lojista, sugerindo a praça Carlos de Campos como alternativa -- ao mesmo tempo em que reconhece que essa não seria uma opção adequada.

Na loja que precisou recorrer aos guardas para retirar um homem que dormia em frente, uma funcionária se queixou de moradores em situação de rua que entram para abordar clientes. Nesses casos, ela os adverte que esse comportamento não é permitido e as reações às vezes são ríspidas. Quando isso acontece, em represália, no dia seguinte habitualmente encontram fezes e urina em frente à loja.

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Durante a noite, parte desses moradores dorme em frente às agências bancárias da rua São Bento, na altura da praça Coronel Fernando Prestes. Eles também recebem ajuda em alimentação por parte de entidades, principalmente no início da noite.

Quem vive no local nega causar incômodo

Comerciantes reclamam de moradores de rua Pessoas que se abrigam na praça dizem que não pedem dinheiro a quem passa pelo local. Crédito da foto: Fábio Rogério (16/8/2019)

Na tentativa de conversar com um morador em situação de rua sobre as reclamações dos comerciantes, um deles disse, sem querer diálogo: “Sai fora.”

Outros dois aceitaram conversar. O primeiro, de 57 anos, preferiu não se identificar. O outro, Luiz Antonio da Silva, de 51 anos, aceitou conversar. Ambos negaram que eles e outros moradores causem motivos para incômodos.

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O morador em situação de rua que não se identificou rebateu as queixas dos comerciantes: “Eu estou sentado aqui, nós não estamos nem pedindo nada a ninguém. Pra mim o problema é de cada um. Eu não tenho problema, está bom demais. Não venham trazer problema pra mim. Já que não vêm me ajudar, vêm falar mal de mim?”.

As reclamações, acrescentou, são feitas “porque não têm o que fazer, se tivessem, estariam cuidando da vida deles”. Silva negou que os moradores incomodem: “Ninguém mexe com ninguém aqui.” Silva veio da cidade Capão Bonito e está há dois anos em Sorocaba. O outro homem, que não se identificou, veio de Ourinhos. Ambos dizem que têm parentes em Sorocaba, mas vivem distante deles.

O que não se identifica disse que não precisa pedir dinheiro na praça. Em caso de necessidade, disse que recorre aos motoristas nos semáforos das ruas e avenidas. Calcula que em uma hora no semáforo consegue arrecadar R$ 20 a R$ 30: “Pra mim está bom, dando pra comprar meu cigarro, meu isqueiro, está bom.”

Prefeitura não pode proibir permanência

Questionada sobre a situação da praça Coronel Fernando Prestes relatada pelos comerciantes, a Secretaria da Igualdade e Assistência Social informou que prevê a ampliação das campanhas de conscientização dos malefícios da doação de esmolas o que, segundo nota, “apenas contribui para que as pessoas permaneçam nas ruas -- ao contrário do serviço social que promove de forma adequada a saída das ruas”.

Segundo a administração municipal, a população deve compreender que as pessoas em situação de rua são cidadãos dotados de direito e “podem permanecer em vias e áreas públicas, desde que não violem normas e leis vigentes ou obstruam a passagem de terceiros pelos locais públicos”.

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Diante disso, todas as ações oferecidas pelo serviço social devem respeitar a liberdade de escolha do abordado, o que inclui a possibilidade deste não aceitar a ajuda.

A prefeitura informa que possui o Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua, que ajuda estes cidadãos na inclusão em benefícios sociais, aquisição de documentos, contato com parentes e familiares, além de alimentação e local para a higiene pessoal e passar a noite.

Essa ajuda está disponível no Centro de Referência Especializado Para Pessoas em Situação de Rua de Sorocaba “Casa Azul” (rua Rubens Antônio Nazaré dos Santos, 164, na Vila Rica). Caso a pessoa não possa ir até o local, pode ser chamada a “Abordagem Social”, que se desloca para prestar ajuda. Esta deve ser acionada pelos telefones (15) 3229-0777, 99657-0730 e 998416285. (Carlos Araújo)

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