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Casos de covid-19 aumentam quase 400% após flexibilização em Sorocaba

02 de Julho de 2020 às 00:01
Marcel Scinocca [email protected]

Movimento na região central de Sorocaba em 6 de junho, primeiro sábado após a flexibilização da quarentena em Sorocaba. Crédito da foto: Vinícius Fonseca (6/6/2020)

Especialistas ouvidos nesta quarta-feira (1º) pelo jornal Cruzeiro do Sul foram categóricos em afirmar que a flexibilização na abertura do comércio não essencial, em 1º de junho, ajudou no aumento no número de casos do novo coronavírus em Sorocaba. Levantamento realizado pela reportagem apurou que, excluídas as notificações que pertencem à população carcerária, houve aumento de quase 400% após 30 dias da flexibilização. Em números, foram 3.960 novos casos, saindo de 995 para 4.955.

Rosana Maria Paiva dos Anjos, médica infectologista e especialista em saúde pública, afirma que a aceleração da pandemia coincide com o período em que o comércio não essencial funcionou, inclusive com diversos registros de aglomerações, em especial no Centro. “O isolamento social foi exatamente para que isso não isso acontecesse num momento em que a estrutura de saúde não estivesse preparada para o atendimento dos casos, em especial os graves”, diz.

De acordo com o infectologista Carlos Alberto Lazar, o número de casos já estava subindo em Sorocaba e a flexibilização contribuiu para acelerar esse quadro. “A flexibilização em época de pico aumenta o número de casos. Até agora não temos achatamento da curva que teria significância”, acrescenta. Ainda conforme ele, a decisão de restringir as atividades econômicas, em favor da saúde, foi acertada.

 

Médicos creditam aumento de casos à flexibilização Gráfico de confirmações mostra a mudança na curva durante o período de abertura do comércio. Crédito da foto: Arte / JCS

 

“Os casos aumentaram por conta da flexibilização e interiorização do Covid-19, o que já era esperado”, lembra Fábio Junqueira, também especialista da área. “Tanto a equipe da saúde e vigilância epidemiológica da Prefeitura quanto do Estado (equipe de contingência) são muito competentes e tomam medidas acertadas. Mas a pandemia é dinâmica. Olhando retrospectivamente me parece que sim (houve contribuição da flexibilização). O importante é que houve uma ação rápida frente aos novos casos”, explana o médico.

Para André Giglio, outro infectologista ouvido pela reportagem, “restringir certamente foi uma decisão acertada” -- sobre o recuo da cidade para a fase 1 do Plano São Paulo, decretada pela Prefeitura de Sorocaba em 29 de junho. “Mas o fato é que não deveria ter ocorrido a abertura, uma vez que a curva de casos novos já vinha em ascensão. Não havia outra coisa a se esperar a não ser um aumento expressivo no número de casos depois de duas semanas”, diz.

Em trinta dias após a flexibilização, o aumento de positivações foi de 397%. Considerando também os casos da população carcerária, foram 4.677 novos casos após 1º de junho. Os dados utilizados pela reportagem são da Secretaria de Saúde de Sorocaba (SES).

Ressalva

Rosana Maria Paiva dos Anjos também lembra, entretanto, que o isolamento não aconteceu em muitos lugares -- como na periferia da cidade -- independente do comércio. Ela ainda afirma que a diminuição no crescimento dos casos depende da conscientização individual de cada um, acrescenta que a maior parte da população pegará o vírus e que o trabalho crucial, neste momento, é a preservação dos grupos de risco. (Marcel Scinocca)