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Casa de Papel investiga mais um nome em suposto esquema na Prefeitura de Sorocaba

16 de Abril de 2019 às 00:03
Marcel Scinocca [email protected]

Casa de Papel tem mais um investigado Policiais cumpriram mandatos de busca e apreensão de documentos na semana passada. Crédito da foto: Emidio Marques / Arquivo JCS (8/4/2019)

Agora são dez os investigados na operação Casa de Papel. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (15) pela Polícia Civil. O novo investigado é Luciano Manoel da Silva Pereira. Com isso, além de cinco crimes, incluindo corrupção, a Polícia Civil investiga também o crime de lavagem de dinheiro.

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De acordo com o inquérito da Polícia Civil, Pereira, que é dono de uma empresa de consultoria e marketing, teria a função de ser intermediário em um contrato de arrendamento, denunciado no esquema. Pereira, conforme o inquérito, estaria agindo para Eloy de Oliveira, ex-secretário de Comunicação e Eventos. O inquérito afirma ainda que conversas no aplicativo Whatsapp evidenciariam que ele teria fortes ligações com secretários da Prefeitura de Sorocaba, bem como com empresas e empresários investigados.

Conversas revelam esquema

Conversas do aplicativo também foram transcritas e anexadas ao processo. Em uma delas, aparentemente, há diálogo que pode indicar favorecimento em um contrato de R$ 626 mil. Nesse diálogo, a pessoa, indicada como “Luciano Prefeitura”, dá detalhes da tramitação do processo licitatório. “Fale com o Felipe. Pois é acertar que pode ser dele”, afirma.

Em outro trecho transcrito no inquérito, Luciano Pereira que teria ligação com o ex-secretário de Comunicação, toma açaí e faz depósitos bancários. Isso, às 15h32, de 6 de dezembro de 2018. Em outro trecho, Pereira avisa que passou o contato de Fábio Abrahão, citado na investigação, para que ele pudesse passar orçamentos para uma empresa que gerenciaria o orçamento de publicidade da Prefeitura de Sorocaba.

Há um ainda outro ponto peculiar, onde Luciano Pereira convida Abrahão para tomar “um café e ver os planos para dominar o mundo”. Há também uma transcrição em que eles, aparentemente, combinam detalhes técnicos de um projeto. Na conversa, “Luciano Prefeitura” faz a seguinte declaração: “Irmão assim que puder me liga. Pois preciso de vc amanhã aqui com o Osmar para finalizar a questão das informações técnicas para seguir com o projeto”.

No total, somente com Luciano Pereira e Fábio Abrahão, são quase 13 páginas de conversas transcritas. Em vários pontos há menção de uma pessoa com a inicial Z ou pelo apelido de Zu. Logo após a virada de ano, em 2 de janeiro de 2018, com as aparentes cobranças do denunciante, Luciano Pereira promete colocar seu carro “no prego” para cumprir com as obrigações, ou seja, quitar débitos com Abrahão.

De acordo com a investigação da Polícia Civil, essas conversas e áudios de Whatsapp ajudaram a dar suporte às denúncias. Outra conversa mencionada na investigação, há um áudio entre o Fábio Abrahão e o empresário Felipe Bismara. Diante da cobrança, o empresário envia outro áudio no qual afirma que estava tudo parado e que não via luz.

A partir daí, conforme o inquérito, surge um novo personagem na investigação, sendo um funcionário da Secretária de Cultura, lotado desde 1986. Trata-se de Edmilson Chelles Martins, com indícios de que facilitaria, na Secult, o direcionamento das licitações. Os indícios apontam ainda que ele era o administrador da chamada taxa de retorno. A transcrição de áudio do aplicativo ajuda na tese.

Em um dos trechos da conversa, em áudio, Chelles faz a seguinte declaração: “Fabio a gente já emitiu uma nota para Felipe que cinquenta por cento do problema já resolve. Só que agora tem que esperar agendar a data de pagamento, mas já emitiu a nota inclusive. Uma nota que já está como evento...depois eu te explico lá. Mas está emitida uma nota já. Pelo menos uns oito mil reais já paga você”.

No trecho seguinte da conversa, também em áudio, Chelles diz: “Isso que te falei. Eu não sei quem está passando para você uma situação que não confere. Por que você entra no site aqui oh, não tá. O que você tem aqui é...o seu pagamento está interligado a nota, aqui de pagamento, o número do empenho 3189 no valor de sessenta e cinco mil. O seu pagamento tá aqui, a nota está lá para o pagamento, só que eles não agendaram até agora.”

Defesa de Abrahão nega que empresário denunciou esquema

A defesa de Fábio Abrahão, que aparecia no inquérito como uma das pessoas que denunciou o suposto esquema de corrupção, afirmou ontem que ele não denunciou e defendeu a correção da situação. De acordo com Plauto Holtz, Abrahão prestou depoimento por duas vezes para explicar uma transferência de uma das empresas investigadas à sua conta e a relação com alguns investigados. O valor era de R$ 6,7 mil. A defesa de Abrahão disse também que o cliente achou estranho quando viu o depósito.

Holtz afirmou ainda que Abrahão só queria receber por valores devidos. “Isso aí está dando dor de cabeça para ale. Ele não é denunciante, é um mero declarante”, diz. Ele afirma também que o empresário prestou serviço para a Secretaria de Cultura, sem contrato, mas não recebia pelas atividades. Por fim, Plauto Holtz também afirmou que Abrahão não está na condição de investigado.

A reportagem não conseguiu localizar Luciano Manoel da Silva Pereira para comentar a situação. O mesmo ocorreu com Eloy de Oliveira. Para um veículo local, Pereira preferiu não se manifestar sobre o desdobramento da investigação. Ninguém nos atendeu nos telefones do escritório que representa Felipe Bismara. No telefone dado para recado também ninguém atendeu. Edmilson Chelles Martins não respondeu às tentativas de contato do Cruzeiro. A Corregedoria Geral do Município também investiga o caso. A Prefeitura de Sorocaba disse que está colaborando com as investigações.

Além de Luciano Manoel da Silva Pereira, a Operação Casa de Papel, deflagrada na segunda-feira (8) pela Polícia Civil e Ministério Público, investiga dois ex-secretários municipais, um secretário -- afastado das funções --, cinco empresários e um servidor público. (Marcel Scinocca)