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Araçoiaba da Serra sofre com onda de violência que assusta população

27 de Janeiro de 2019 às 06:42

Nas principais ruas da cidade, como a João Mencke, crime e medo andam de mãos dadas. Crédito da foto: Divulgação

Em 2017, um comerciante do bairro Guaíba, em Sorocaba, foi assaltado por ladrões armados, ficou aterrorizado e, procurando sossego e segurança, mudou-se para a vizinha cidade de Araçoiaba da Serra, onde abriu um mercado para trabalhar e sustentar a família. Na tarde da última quinta-feira (24), no novo endereço, ele voltou a passar pelo mesmo trauma.

No mesmo dia, gerenciadores de um grupo de WhatsApp identificaram mais três roubos na cidade, um deles em uma quitanda. As ocorrências são diárias e até mesmo à luz do dia, segundo os registros do grupo, e os moradores da cidade de 33.499 habitantes pedem socorro.

Em outra história, uma família (casal e três filhos) mudou-se há um ano de São Paulo para a zona rural de Araçoiaba. “Jamais imaginei que um dia isso viria acontecer em uma cidade pequena e tranquila como Araçoiaba”, lamenta a mulher.

Os gerenciadores do WhatsApp registraram várias desses crimes ao longo de 2018, mas a situação piorou desde dezembro. Eles contem que, em todos os dias de janeiro, tem ocorrido registros de ao menos um furto ou roubo na cidade, e há dias em que há mais de um caso, como os quatro ataques na tarde de quinta-feira. “Os bandidos estão vendo a facilidade devido à falta de policiamento”, disse a paulistana que se mudou com a família para a área rural de Araçoiaba da Serra.

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“Para mim isso é vagabundo de fora que está se aproveitando das férias e da cidade cheia de turista e veio querer fazer o que eles chamam de ‘limpa’. Os criminosos procuram cidade assim, alugam chácaras, vêm em turma e aproveitam para ficar fazendo assaltos. E além de tudo não podemos esquecer que muitos presidiários da região tiveram a famosa saidinha de fim de ano e não retornaram às prisões”. E ela ainda compara: “Sair da periferia de São Paulo para a tranquilidade de Araçoiaba e ver tudo isso acontecer é muito triste."

Por razões de segurança, os moradores ouvidos pela reportagem pediram para eles e suas casas e comércios não serem identificados. A opção pelo anonimato também é reflexo da gravidade da situação. O jornal Popular News da cidade, em sua edição de janeiro, traz reportagem com ênfase no que denomina de “caos” na segurança pública do município. A publicação diz que “Araçoiaba pede socorro” e acentua que “assaltos e roubos aterrorizam todos os bairros”.

Trecho da rua 7 de Setembro, em Araçoiaba da Serra. Crédito da foto: Divulgação

Câmeras

Na área rural, na região próxima à rodovia Raposo Tavares, um dos bairros com registros de vítimas é o Residencial Alvorada. Na quinta-feira (24), um homem instalava uma câmera na parte superior de um portão.

“Como o portão é fechado, eu preciso ter condição de identificar do lado de dentro da casa quem chega na rua e para aqui em frente”, disse. Referindo-se à segurança, ele se queixou: “Aqui está complicado, muito complicado, estou colocando a câmera por esse motivo.” Não é a única casa com câmeras no bairro.

O proprietário conta que há três meses, num momento da tarde em que parou o carro no portão para entrar na casa, foi rendido por três ladrões armados - e eles ficaram duas horas dentro da casa. Foram momentos terríveis. “Estou colocando a câmera para poder inibir um pouco esse negócio”, disse.

Nas duas horas em que ficou sob ameaça dos bandidos, o morador do Residencial Alvorada sofreu ameaças psicológicas. A vítima foi amarrada e confinada dentro de um cômodo. Os bandidos recolheram tudo dentro da casa, até edredons, e fugiram no carro dele, que depois foi recuperado. Agora, a família vive aterrorizada.

Há duas semanas, o alvo foi uma farmácia da rua 7 de Setembro, no centro de Araçoiaba

Outro assalto, há três semanas, também envolveu três criminosos. Um deles, de cavanhaque, e outros dois com blusas com capuzes para encobrir as cabeças. Invadiram a casa, renderam a proprietária, que mora no local somente com a mãe, recolheram vários objetos, colocaram tudo no carro dela e usaram o veículo para fugir.

Há duas semanas, o alvo foi uma farmácia da rua 7 de Setembro, no centro de Araçoiaba. Dois marginais, que estavam em uma moto CG preta, entraram com capacetes no interior da farmácia, por volta das 14h. Com revólveres, exigiram do caixa todo o valor que havia no local. Como neste caso, são frequentes os roubos também durante o dia e com o uso de motos e capacetes para dificultar a identificação.

Segundo os organizadores do grupo de WhatsApp, a gravidade da situação repercutiu na Câmara de Vereadores e o presidente da instituição, Valter Lattanzio (PTB), enviou na quarta-feira (23) ao comando do Batalhão da Polícia Militar de Votorantim solicitação para designar mais policiais para Araçoiaba com a “máxima urgência, com a finalidade de realizar rondas nos bairros com maior frequência”.

Segundo a polícia, índices de roubos e furtos vêm caindo em Araçoiaba. Crédito da foto: Erick Pinheiro / Arquivo JCS (17/1/2019)

Secretaria de Segurança diz que crimes diminuíram

A reportagem solicitou informações à Secretaria de Segurança paulista sobre quais estavam sendo as ações das polícias Civil e Militar referentes a essa onda de crimes, e quais seriam as providências a serem tomadas; falou também com o Delegado Seccional de Sorocaba Marcelo Carriel sobre o tema -- este preferiu não comentar o caso e, após confirmar que sabia das perguntas já encaminhadas, disse que as respostas seriam dadas via assessoria de imprensa. Eis a íntegra da resposta em nota da Secretaria da Segurança Pública:

“Em relação aos dois casos que ocorreram no bairro Alvorada mencionados pela reportagem, em ambos a Delegacia de Araçoiaba da Serra instaurou inquérito. No segundo, um dos autores foi identificado e indiciado. As investigações prosseguem. Sobre a ocorrência da farmácia, com as informações passadas não foi possível localizar nenhum registro semelhante”.

“O policiamento no município é realizado pela 3ª Cia do 40º BPM/I, por meio dos programas de Radiopatrulhamento, Força Tática, Rocam e Policiamento Comunitário. As polícias Civil e Militar atuam de forma integrada para combater a criminalidade na cidade, em especial os crimes contra o patrimônio. Como resultado desse trabalho, nos onze meses de 2018, os índices de roubos e furtos apresentaram queda de 20,9% e 16,7%, respectivamente, em comparação ao mesmo período do ano passado. Ainda no período, 20 armas de fogo foram apreendidas e 55 pessoas foram presas em flagrante na região”. (Carlos Araújo)

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