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Aeroporto tem origem em antigo campo de aviação

11 de Outubro de 2020 às 00:01
Marcel Scinocca [email protected]

Aeroporto tem origem em antigo campo de aviação Festas aviatórias realizadas no aeroporto sempre atraíram público numeroso. Crédito da foto: Arquivo Pessoal

O Aeroporto de Sorocaba foi inaugurado oficialmente em 27 de março de 1943. A grande data teve como convidado, por exemplo, o ministro da Aeronáutica, à época, Salgado Filho, que inclusive, após sua morte, em 1950, passou a denominar uma rua na zona norte da cidade e o aeroporto de Porto Alegre, entre outras homenagens. Antes da oficialização, há relatos, entretanto, de um avião Stinson 105, que descia no local que depois seria o Aeroporto de Araçoiaba. O fato teria ocorrido em julho de 1942. Ele trazia três passageiros. De lá para cá, até chegar ao estágio de um dos maiores aeroportos de aviação executiva do mundo, foram muitas histórias.

Conforme Jaksan Moreira, que participou ativamente da história da aviação de Sorocaba, houve grandes mudanças nesse contexto. “Da pista antiga, sobrou apenas história. No local, estão as empresas privadas. A pista nova, que não é tão nova, está transversal à antiga”, conta.

O acesso era complicado. A professora e escritora Mírian Cesar Baptista lembra muito bem disso. Ela se recorda de como era o aeroporto. “Era uma coisa simples, tudo de terra. Era como se fosse um campo. Para chegar lá, era tudo demorado”, diz. “A gente saia da General Carneiro e ia cortando caminho. Daquele lado, não tinha nada. Depois começou a Vila Angélica”, recorda.

Para se ter ideia, os projetos em torno do serviço de topografia do local só foram iniciados quase trinta anos depois, em 1972, quando o Aeroporto de Sorocaba ainda era de responsabilidade da Prefeitura. O prefeito à época era Crespo Gonzales e o secretário estadual de Transportes era Paulo Salim Maluf. A ideia naquela época já era de transformar o local em um aeroporto executivo. Ele ainda era chamado de Aeroporto de Araçoiaba.

Em 8 de novembro de 1974, ainda sem a conclusão de trabalhos no aeroporto, em entrevista ao Diário de Sorocaba, Bertram Luiz Leupolz foi questionado sobre quando seriam concluídas as melhorias no local. Ele foi enfático na resposta. “Não sei e não acredito mais em milagres.”

Em junho de 1975, o Cruzeiro do Sul trazia um editorial no qual o assunto principal era o Daesp deixando de lado a cidade, com obras paradas, e anunciando investimentos nas cidade de Tupã, Bragança Paulista, Franca, Marília, Jundiaí e Piracicaba. Já vimos esse filme, diriam alguns dos atuais empresários do local. Em setembro de 1977, o Cruzeiro cobrava novamente sobre a questão, mostrando investimentos pelo Estado de São Paulo, via Daesp, no Aeroporto de Jundiaí. Em setembro de 1975, o jornal trazia novamente a informação de que as obras estavam paradas. A cidade já tinha até uma empresa que fabricava trem de pouso para aeronaves, a Engemtic.

Em julho de 1977, um burro na pista do aeroporto, ainda de terra, quase provocou um acidente. Pouco antes, uma vaca também deu problemas durante uma aterrissagem. Mas não era só isso. Pessoas a pé, de bicicleta e até carroças eram vistas com frequência atravessando a pista -- de terra -- do aeroporto. À época, o aeroporto recebia cerca de 100 pessoas por mês em seus voos. Em 14 de julho de 1978, o aeroporto de Sorocaba recebeu a primeira aeronave de “grande” porte. Era um DC3, com capacidade para 60 passageiros.

A presença de pessoas continuava tão constante que em 20 de agosto de 1979 oito foram detidas pela polícia após a denúncia de um piloto que pousou uma aeronave no local. Ele era major Franco Ferreira, do Comando Aéreo do Estado de São Paulo.

A pista era tão ruim, que a empresa que faria a manutenção da aeronave ameaçou não descer aeronaves daquele porte no local. Em novembro de 1979, veio uma nova promessa de pavimentação.

Em 1 de junho de 1981 o Aeroporto de Sorocaba foi oficialmente transferido para o Daesp. O órgão, entretanto, já o administrava havia alguns meses. Em 31 de outubro de 1980 a Conal sofre um incêndio em suas instalações. Houve destinação de verbas para várias desapropriações. A Câmara de Sorocaba, em agosto de 1985, aprovou até um empréstimo bilionário para a moeda da época, o Cruzeiro.

Em novembro de 1986 a pista do aeroporto estava pronta para receber pavimentação. O projeto do aeroporto, parecido com o atual, também foi divulgado. Naquele ano, o aeroporto de Sorocaba já era o quarto em movimento de pousos e decolagem em todo o Estado. Somente após isso, veio a pavimentação de fato.

Em dezembro de 1988, a Place Turismo iniciava voos diretos de Sorocaba para o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Nos anos de 1990, houve a operação de voos comerciais iniciados pela TAM. Nos anos 2000 houve a consolidação do local como centro de manutenção de aeronaves com a instalação de diversas empresas, algumas vindas da Capital. Na última década houve melhorias, incluindo o prolongamento de pista -- ainda não reconhecido -- e o interminável processo de internacionalização.

Bertram

Aeroporto tem origem em antigo campo de aviação Bertram Luiz Leupolz. Crédito da foto: Arquivo JCS / Projeto Memória

Em 1985, com a morte de Tancredo Neves, presidente da República que não tomou posse, houve sugestão para que o nome do Aeroporto de Sorocaba recebesse o nome do presidente falecido. Como se sabe, isso não ocorreu. Ficou para Bertram Luiz Leupolz que, inegavelmente, foi o primeiro empresário a acreditar no potencial do Aeroporto de Sorocaba, ainda no início da década de 1960.

Entre tantas histórias de Bertram, uma vem de Paulo Oliveira, que é presidente da Associação de Proprietários, Permissionários e Operadores de Hangares do Aeroporto de Sorocaba (Aprohapas). Segundo Oliveira, após grande avaria em uma aeronave, a fabricante afirmou que ele não tinha mais recuperação. Inconformado, o dono procurou a Conal, de Bertram. Nas oficinas de Sorocaba, a aeronave foi recconstruída. Mas não foi só isso. O trabalho teria ficado tão perfeito, que parecia melhor que o original. A situação chamou a atenção de engenheiros da fabricante, que mandou emissários a Sorocaba para saber qual era o segredo.

Entretanto, a história mais conhecida de Bertram Luiz Leupolz está relacionada ao plano original da fundação da empresa, com outros dois sócios: construir aviões a partir de Sorocaba. Por isso, Conal vem de Construtora Nacional de Aviões Ltda.. Trata-se do caso do avião construído em solo sorocabano que partiu da cidade voando e voltou de carona em um caminhão. A aeronave foi construída em 1964. Depois de mais de 800 horas de voo, o avião partiu sentido ao antigo Centro Técnico Aeroespacial (CTA), de São José dos Campos, atual Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) para homologação. De lá, por motivos ainda não totalmente esclarecidos, a aeronave retornou para Sorocaba, mas desmontada. A situação é ligada ao início da Embraer.

Aeroclube

A origem do aeroporto está relacionada ao Aeroclube de Sorocaba. Ainda durante Segunda Guerra Mundial, a campanha “Deem asas para o Brasil” tinha como um dos focos a formação de novos pilotos. E é aí que começa a história do Aeroclube de Sorocaba, na década de 1940. Uma reunião definiria de forma oficial o que o seria o aeroclube. O local escolhido para essa reunião foi o salão nobre do Gabinete de Leitura Sorocabano. Lá, uma grande número de pessoas se reuniu em 5 de maio de 1942 para formalizar a criação da entidade. A partir daquele ato, com ajuda de empresários, com o apoio do poder público e da sociedade, Sorocaba contava formalmente com um aeroclube.

Aeroporto tem origem em antigo campo de aviação Em algumas décadas o período da aviação romântica deu lugar à alta tecnologia. Crédito da foto: Divulgação / Embraer

A ação tinha como objetivo a participação da cidade na Campanha Nacional da Aviação, estimulada pelo empresário e jornalista Francisco de Assis Chateaubriand, começou a ser articulada no mês anterior. O aeroclube e aeroporto, como não poderia ser diferente, tem suas histórias intimamente ligadas. Por décadas o Aeroclube de Sorocaba foi referência na formação de pilotos no Brasil.

A primeira aeronave veio de Santos, também doada por um empresário, o pernambucano Valentim Bouças. O Aeroclube de Sorocaba viveu momentos áureos e de muita glória, em especial nas décadas de 1990 e 2000, quando seus eventos atraiam público de mais de 70 mil pessoas, formou centenas de pilotos, como o ministro e tenente brigadeiro Cherubim Rosa Filho. Teve centenas de entusiastas, incluindo os presidentes e seus respectivos legados. Na lista, por exemplo, Sérgio Reze, Telmo Pereira Cardoso, Jaksan Moreira e o próprio Bertram.

Com a palavra, os agentes políticos que representam a cidade

A série de reportagens do jornal Cruzeiro do Sul sobre o Aeroporto de Sorocaba chega ao fim. Foram cinco edições que trataram de problemas enfrentados pelo aeroporto até sua história, com dezenas de personagens e elementos que ajudam a mostrar um lugar que há décadas é um vetor de desenvolvimento para Sorocaba.

Ao longo de cinco domingos a reportagem também recebeu diversas contribuições. A ajuda veio, inclusive, de leitores, como José Luiz Monteiro, que até chegou a escrever para os deputados que ele votou em 2018. “Vamos movimentar esse negócio. Vamos pegar no pé de quem precisa fazer as coisas”, argumenta. Técnicos da área aeronáutica, como pilotos, também entraram em contato com a reportagem. Instituições, públicas, privadas e de interesse social, também colaboraram. Mas faltou algo. O que os representantes da cidade estão fazendo em prol do Aeroporto de Sorocaba? Com a palavras, os próprios.

O deputado federal Vitor Lippi (PSDB), bastante lembrado pelos operadores do Aeroporto de Sorocaba, afirmou na ocasião em que ele esteve acompanhando de João Octaviano Machado Neto, secretário de Logística e Transporte do Estado de São Paulo, ao aeroporto da cidade, em 23 de setembro. “Sempre entendi que esse aeroporto tem um força estratégica para o País e uma grande oportunidade para Sorocaba”, afirma. Ele defendeu um projeto estratégico para o local e citou entre as conquistas a vinda da Embraer para a cidade.

Na condição de ex-deputada federal, Iara Bernardi (PT), afirmou que fez reuniões com o Secretário de Desenvolvimento Econômico de Sorocaba, Geraldo Almeida, para avaliar os entraves burocráticos que têm impedido a internacionalização do Aeroporto. Ela ainda citou que realizou reunião com o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República (SAC), Moreira Franco, e com o prefeito Antonio Carlos Pannunzio e o secretário de Planejamento e Gestão, Rubens Lara. Outras reuniões ocorreram em 2015 e a última em 2019, envolvendo outros vereadores da Câmara de Sorocaba.

A deputada estadual, Maria Lucia Amary (PSDB) disse que acompanha e trabalha em prol da internacionalização desde 2013. Ela citou diversas reuniões e a conclusão da torre de controle de tráfego aéreo, entregue pelo Governo do Estado este ano. “Estamos sempre fazendo gestões junto ao governo estadual, promovendo encontros e reuniões visando o desenvolvimento e a modernização do nosso aeroporto”, afirma.

O atual deputado estadual Danilo Balas (PSL) disse que esteve reunido com profissionais aeroviários para conhecer o verdadeiro cenário que envolve o pátio aeronáutico de Sorocaba para que pudesse se posicionar da melhor maneira em defesa da população Sorocabana. “Me posicionei na Assembleia Legislativa de São Paulo contra a Projeto de Lei nº 529/2020, de autoria do governador João Doria, que determina a extinção de importantes empresas, autarquias, fundações, entre elas a Daesp (Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo). O referido PL destrói direitos do povo paulista, ocasionando o desemprego”, diz o parlamentar.

Os deputados Carlos Cesar (PSB) -- estadual -- e Jefferson Campos (PSD) -- federal -- divulgaram nota em conjunto. No documento, eles afirmaram que atuaram no caso por vários meios, incluindo a solicitação de reuniões e informações. Estudou-se, inclusive, criar uma frente parlamentar para atuar no caso. O documento ainda cita que houve pedido de celeridade nos processos e nas obras.

Prefeitura de Sorocaba

A Prefeitura de Sorocaba afirmou que o tema é tratado pelo Executivo sob diferentes aspectos. Há um trabalho em conjunto envolvendo ao menos três secretarias. “nesse sentido, a Sedetur tem estimulado a organização das empresas e o desenvolvimento e apresentação de um planejamento sistematizado, visando a elaboração futura de um plano de desenvolvimento do setor”, informa. (Marcel Scinocca)

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