128 municípios em todo o Estado sinalizaram aval para reabertura de escolas
Van escolares também precisam seguir normas sanitárias para transportar estudantes. Crédito da foto: Vinícius Fonseca (8/7/2020)
Depois de quase seis meses de aulas somente remotas, 128 dos 645 municípios do Estado sinalizaram aval para abrir pelo menos parte das escolas a partir desta terça-feira (8). A retomada terá diversos formatos (em alguns locais só voltam as escolas particulares) e não incluirá a capital - que ainda não definiu se haverá aula presencial neste ano.
Fábio Dias, de 40 anos, por exemplo, ainda faz as contas de quantas crianças vai transportar de volta à escola na van que ele dirige em Sorocaba. Uma certeza tem: o próprio filho não será uma delas. Isso porque colégios particulares foram autorizados a reabrir a partir de hoje na cidade, mas escolas da rede municipal - onde Fernando, de 8 anos, estuda - devem continuar fechadas até o fim do ano.
A volta às aulas foi autorizada pelo governo estadual, que deixou nas mãos das prefeituras a decisão sobre datas e sobre quais redes retomariam as atividades em sala de aula. E apenas municípios há 28 dias na fase amarela do plano de reabertura, em que há queda nas infecções pela Covid-19, podem reabrir as escolas. E só serão permitidas atividades de reforço e acolhimento emocional - aulas teóricas só em outubro.
Municípios como Sorocaba, Itu, Itapevi e Cotia decidiram que colégios da rede municipal só abrem as portas no ano que vem, enquanto os particulares e estaduais já têm aval para a reabertura. Grande parte das prefeituras vem usando consultas aos pais de alunos para referendar as determinações.
Em ano eleitoral, a decisão sobre a reabertura sofre pressões - dos professores, contrários, que não veem segurança para voltar à escola, e de colégios privados, que perderam matrículas e tiveram queda de até 80% nas receitas durante o longo tempo de quarentena.
Em Sorocaba, embora a maior parte das famílias consultadas por meio de uma pesquisa da prefeitura tenha optado por não mandar as crianças de volta à escola municipal, a disparidade que se criou entre a rede pública e a privada é motivo de queixa. Especialistas em educação dizem que o modelo aprofunda as desigualdades educacionais entre as crianças.
Dificuldades
Escolas que não identificarem demanda não precisarão abrir neste mês, segundo informou o subsecretário de articulação regional do Estado, Henrique Pimentel. “A prefeitura (de Sorocaba) disse que está baseando (a decisão de não abrir as municipais) nos 80% de pais que falaram em uma pesquisa que não mandariam os filhos este ano. Só que não achei justo. A escola não deve voltar só com 20% dos alunos mesmo? Então deixa que voltem esses 20% que querem. Meu filho está tendo dificuldades para fazer as aulas on-line”, diz Fábio Dias.
Mãe de dois meninos, de 5 e 7 anos, a confeiteira Daniele Nunes, de 32 anos, até diminuiu as encomendas para ajudar as crianças nos estudos. O marido trabalha com frete e passa o dia inteiro fora de casa. “A gente tenta fazer como se fosse na escola, mas é difícil porque professores estudaram para isso e eu estudei para a confeitaria. Eles têm muitas dificuldades”. Alunos da rede municipal, as crianças só devem voltar para a escola no ano que vem.
A Escola Chácara Viva a Vida, uma unidade particular de educação infantil de Sorocaba, vai reabrir para cerca de 25 alunos de 1 a 5 anos - antes da pandemia, eram 80. “As escolas já estão se preparando há tempos. Vamos retornar com poucas crianças para atender os pais que estão trabalhando‘, diz Kátia Cristina Vergílio Scanavez, diretora da Viva a Vida.
Por meio de nota, a Prefeitura de Sorocaba informou que a autonomia para reabertura da rede privada foi concedida de maneira facultativa e, nessas unidades, todos os protocolos sanitários devem ser seguidos. Indagada sobre o apoio aos pais da rede pública, disse que “prioriza o caráter educacional” e usa tanto ferramentas digitais quanto atividades impressas para estudantes sem acesso à internet. (Júlia Marques - Estadão Conteúdo)