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Uma infância em cadeira de roda por causa das minas no Iêmen

07 de Dezembro de 2018 às 02:34

Abdallah ficou com uma deficiência na perna e perdeu parte do dedo de uma das mãos. Crédito da foto: AFP

Uma mina transformou a infância de Abdallah, de sete anos, uma dentre as milhares de pessoas expostas aos artefatos explosivos plantados no Iêmen. O menino vive na aldeia de Al Hamili, situada entre as localidades de Moja e Hays. Para se deslocar, ele precisa da ajuda de algum parente desde que ficou com uma deficiência devido a uma fratura tripla em uma perna. Também perdeu parte do dedo de uma das mãos.

A população do oeste do Iêmen está esgotada pela fome e aterrorizada com as bombas. Além das minas e dos artefatos escondidos pelos rebeldes huthis nas estradas, nos campos e nas casas durante a sua fuga. "Temos nos abrigado (durante os combates) no leste da localidade de Bayt al-Faqih e quando os combatentes se vão, voltamos para casa", lembra Abdel Fatah Ghaleb, pai de Abdallah, mostrando uma cabana feita de galhos secos e folhas de palmeira.  "Dois ou três dias depois uma bomba explodiu dentro da nossa casa e feriu o meu filho", o qual levaram para um centro do Médicos sem Fronteiras (MSF). Seu tio Abdel Latif acrescenta que, com o retorno à casa, sua família esperava evitar os riscos e recuperar um pouco de tranquilidade. Mas "a guerra não quer nos largar".

Em julho, o Washington Institute afirmou que as minas antipessoais causam estragos no Iêmen há décadas devido aos sucessivos conflitos, mas os huthis as usam "a um ritmo surpreendentemente alto" em suas operações contra as forças de segurança pró-governamentais, respaldadas pela Arábia Saudita.

Ao lado do povoado de Al Hamili, muitas crianças caminham descalças por terrenos desérticos, perto de um campo minado assinalado com um cartaz. Equipes de desminado neutralizam os artefatos localizados debaixo da areia.

Perna arrancada

Hasan al-Jahwari, responsável local de um projeto saudita de desminado, afirma que 16 equipes de sua organização trabalham nos arredores da localidade costeira de Moja. "A primeira equipe chegou em agosto e, em colaboração com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), conseguimos eliminar 9.000 minas (...), além de outros artefatos explosivos".

Em Nuhaira, outra aldeia da costa oeste, Mohamed Ahmed Ibrahim perdeu uma perna e caminha com muletas de madeira. "Voltando da pesca, caminhava ao lado de um amigo; meu irmão vinha atrás da gente. Pisei em uma mina que arrancou a minha perna e me deixou estirado no chão. Meu amigo e meu irmão saíram ilesos", conta. "Meu amigo avisou ao meu pai, que veio me socorrer, mas ao se aproximar, ele pisou em uma mina e morreu". "Nós dois ficamos um bom tempo no chão".

A costa oeste do Iêmen, ao sul da cidade portuária de Hodeida, foi palco nos últimos meses de combates entre os huthis, rebeldes respaldados pelo Irã, e as forças pró-governamentais. Várias localidades e aldeias foram mudando de mãos e a população civil fugiu em massa para evitar ser alvo de disparos e bombas durante os confrontos.

Os combates diminuíram de intensidade em meados de novembro, o que permitiu à ONU negociar a retomada do processo de paz. Vários representantes do governo e da rebelião se encontram na Suécia para as primeiras negociações desde 2016. (Khaled Mohammed - AFP)

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