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Os laços afetivos são fortalecidos quando pais e filhos convivem mais

12 de Agosto de 2018 às 17:25

Embora as tarefas com os filhos ainda fiquem, na maioria das famílias, sob responsabilidade das mães, alguns pais resolveram repensar a carreira de modo a passar mais tempo em casa, sendo mais presentes. O resultado dessa escolha, segundo dois entrevistados pelo Cruzeiro do Sul, é o fortalecimento dos laços afetivos. Hoje, Dia dos Pais, Luiz Sandrini, 36 anos, e João Picoli, 38 anos, contam que para se aproximarem mais dos filhos foi preciso ajustar os compromissos profissionais e hoje os dois trabalham em casa.

Presente e participativo

Pai de Bruno, de 6 anos, João conta que quando o filho nasceu, em 2012, a vontade de ficar mais tempo em casa já era grande, mas ainda faltava coragem para abrir mão da segurança financeira que a agência proporcionava. Publicitário, João trabalha na área desde 1995 e conta que muitas vezes mal via o filho por conta da longa jornada. Hoje, de forma independente, ele atende clientes em casa, conciliando o trabalho com as atividades do filho e também com os afazeres domésticos.

Quando Bruno estava com 2 anos, sofreu uma queda e no hospital o médico recomendou acompanhamento psicológico, pois o acidente ocorreu porque o menino estava correndo atrás da própria sombra e caiu. "Nesse meio tempo eu fui demitido da agência que trabalhava, no final de 2015", relembra João Três meses após a demissão, um laudo médico apontou que Bruno tinha Transtorno do Espectro Autista (TEA). "Nesse momento ficou claro para mim que eu precisava estar mais presente e dividir as tarefas com a minha esposa era imprescindível", relata.

Além de participar efetivamente da educação e outras atividades relacionadas ao dia a dia de Bruno, João conta que concilia essa rotina com seus trabalhos como publicitário. "Acordo um pouco mais cedo, adianto tudo que for possível e consigo atender as demandas dele e da minha esposa também." Ana Cristina Picoli, 32 anos, afirma que a mudança na rotina de trabalho do marido foi essencial para o desenvolvimento de Bruno e acredita que essa transformação sobre "o que é papel de pai" vem sendo repensada na sociedade. "Eu sou funcionária pública e também reduzi minha carga horária, aliás, não é uma questão de ajudar, é uma questão de dividir tarefas."

Ganhos de todos os lados 

Luiz com os filhos Lucca, 2 anos, e Ana Luiza, 10 anos: ganhos na relação familiar - ACERVO PESSOALLuiz com os filhos Lucca, 2 anos, e Ana Luiza, 10 anos: ganhos na relação familiar - ACERVO PESSOAL

Pai de Ana Luiza, 10 anos, e Lucca, 2 anos, Luiz Sandrini, 36 anos, conseguiu reduzir a rotina de viagens diárias a partir de um programa piloto de home-office implantado na empresa que trabalha, um banco na capital paulista. Morador de São Roque, Luiz conta que antes do caçula nascer já começou a reduzir as idas até a sede da empresa e recorda que com a chegada de Lucca passou a viajar uma ou duas vezes semanais. "No momento do parto descobrimos que Lucca tinha Síndrome de Down e mais do que nunca estar em casa era importante, então conversei com meus gestores, que compreenderam a situação e deram suporte."

Atualmente Lucca tem uma rotina repleta de terapias e Luiz e a esposa Jéssica Bianchi, 34 anos, se dividem nos compromissos. Além de participar do desenvolvimento do caçula, o pai conta que a relação com Ana Luiza também ganhou muito com a mudança na forma de trabalhar. "Ela tinha um temperamento difícil e com a loucura que era o trabalho eu acabava não conseguindo dialogar e passar um tempo de qualidade com minha filha." Em casa, Luiz diz que se sente mais inserido na rotina e sente que a relação familiar é muito mais forte.

Luiz relata que além de conquistar mais espaço com os filhos, Jéssica também conseguiu mais tempo para pensar na carreira profissional. "Viajando para São Paulo todo dia seria impossível para ela conseguir esse momento dela, mas hoje, até pela rotina com o Lucca, da necessidade de uma alimentação especial, a Jéssica está iniciando uma empresa de alimentação saudável para crianças", cita Luiz, que hoje se sente um pai muito mais presente.

Mais tempo juntos 

Uma pesquisa do Instituto Universitário Europeu, situado na Itália, feita em parceria com a Universidade da Califórnia, nos EUA, realizada com 53.739 pais, em 11 países do Ocidente, revelou que as famílias passam mais tempo com as crianças hoje do que na década de 1960. De acordo com o estudo, publicado no ano passado, mulheres ficam quase o dobro do tempo -- cerca de 104 minutos por dia -- em comparação aos 54 minutos de 1965. Os homens, por sua vez, ainda cuidam menos do que as mães -- cerca de 59 minutos por dia. Mas já é quatro vezes mais do que os 16 minutos de quase 60 anos atrás.